A Indústria celeste
Mercado uruguaio teve modelos exclusivos e curiosos entre os anos 50 e 80. Muitos ainda estão nas ruas
Por Jason Vogel
Bravo povo da República Oriental do Uruguai, unido por José Artigas e 15 vezes campeão da Copa América! Nossos amáveis vizinhos do sul são muito conhecidos pela produção de vinho tannat e carne, mas pouco se fala de sua indústria automobilística.
O que se tem hoje no país, basicamente, são linhas de montagem de carros chineses Chery e Lifan. Em galpões, kits de peças importados da Ásia são transformados em automóveis — 70% deles exportados para o Brasil.
Com apenas 3,5 milhões de habitantes, o país não tem um mercado que justifique uma fabricação propriamente dita.
Mas nem sempre foi assim: entre as décadas de 50 e 80, graças a incentivos à nacionalização, existiu uma pequena, mas exuberante indústria automotiva com modelos exclusivamente uruguaios. Demos um giro pelo país e encontramos muitos sobreviventes dessa fase pioneira. Um veículo ainda muito comum nas ruas é o jipe Indio. Trata-se de uma criação de Horacio Torrendell — o mais prolífico entre os projetistas de automóveis do Uruguai.
Fabricado entre 1969 e 1976, o Indio trazia carroceria desenhada na régua e feita de chapas dobradas. Sobre um chassi de construção própria, o utilitário recebia mecânica da Bedford (subsidiária inglesa de General Motors). Em versões para passageiros ou picape, o Indio trouxe ao longo do tempo uma boa variedade de motores a gasolina ou diesel. O último adotado era do Chevette brasileiro.
O mesmo Torrendell fez modelos esportivos, com destaque para o Guitolar Torrelaro SSK — fiel réplica em metal dos Mercedes-Benz de corrida dos anos 20. Usava mecânica da própria marca alemã (motores de seis cilindros retirados de sedãs de passeio). Os Torrelaro chegaram a ser exportados para a Europa na década de 90. Também é interessante notar a enorme quantidade de carros de passeio europeus dos anos 50 e 60 que ainda rodam pelo Uruguai transformados em caminhonetes. Por muito tempo, transformar automóveis em utilitários ou picapes de cabine dupla foi uma forma de burlar os impostos.
Das fábricas propriamente ditas, a mais duradoura é a Nordex. Começou suas atividades nos anos 60 — dando tempero charrua a modelos europeus. Um exemplo é a caminhonete NSU P10 que, de tão feia e quadrada, desperta simpatia com seu motor traseiro de quatro cilindros em linha refrigerado a ar.
A mesma Nordex fabricava o chassi para a versão uruguaia do jipe Citroën Méhari. Sua carroceria de fibra de vidro diferia da original francesa pelos grandes arcos dos para-lamas traseiros e pela capota rígida (com a qual o modelo foi rebatizado de Ranger).
Hoje, a Nordex monta no Uruguai os caminhões urbanos Kia Bongo, fabricados na Coréia do Sul e vendidos no Brasil. O mate charrua perdeu seu sabor original.
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INDIANA: o carro inglês Vauxhall Viva HC ganhou um primo charrua. Montado de 1972 a 74, o modelo da GM uruguaia tinha carroceria de fibra de vidro
INDIANA: o carro inglês Vauxhall Viva HC ganhou um primo charrua. Montado de 1972 a 74, o modelo da GM uruguaia tinha carroceria de fibra de vidro
NSU P10: é o mais estranho dos modelos que vimos no Uruguai — e, por isso, adoramos! Feita pela Nordex entre 1970 e 1971, a caminhonete tinha motor 1.0 traseiro, de quatro cilindros em linha e refrigerado a ar
RANGER: a versão uruguaia do Citroën Méhari tinha chassi fabricado pela Nordex e carroceria de fibra de vidro (em vez de plástico ABS). Também diferia do modelo original francês na capota e nos para-lamas traseiros
INDIO: foi o mais famoso modelo da fábrica Guitolar. Criado por Horacio Torrendell, tinha carroceria de chapa e chassi com desenhos próprios. Adotava motores a gasolina ou diesel com origem General Motors
MINI 4: era a interpretação local para o popular Renault 4. Enquanto o modelo francês era um hatch de quatro portas, a versão uruguaia era uma picape cabine dupla. As laterais davam à carroceria um ar de cupê, mas não havia tampa de porta-malas.
TORRELARO SSK: reproduzia os Mercedes SSK replica dos anos 20 em cima de chassis e motores de barra 8, os sedans e cupes pequenos dos anos 68/75, usando mecânica mais recente da marca alemã. Feito pela Guitolar, chegou a ser exportado para a Europa. Ao contrário dos aoriginais, tinha suspensão dianteira e traseira independentes e modernas, além de um detalhe incomum. O chassi e a carroceria eram dobrados em aço inoxidável. Ainda Existem algumas carrocerias de dois e quatro lugares à venda no Mercado Libre Uruguaio
N. Da R.: Existiram mais alguns carros uruguaios que Jason não teve espaço para citar no jornal. Entre eles um dos mais interessantes era o Aro 10, um jipinho Dacia Rumeno montado em cima de uma plataforma de Renault 12 4x4, uma espécie de Pampa 4X4 com o motor otriginal Sierra OHV Renault. Eram relativamente fáceis de fabricar, completamente em chapa dobrada. Foi feita uma pequena séie de 75 veículos por Julio Cesar Lestido, o importador e nos anos 90 montador de VW Gol no Uruguai.
Também nesses anos 70 até o começo dos anos 90 houve uma montagem CKD de BMW Serie E21, o sucessor do 2002 de 1975, o E30 e 36, que conhecemos por estas bandas como o popular e desejado 325 seis cilindros em linha 1992. Mas no Uruguai so montaram os 316/318 de quatro cilindros e os 320 seis cilindros, dos quais alguns vieram para por aqui.
3 comentários:
- Dá-lhe mtooo, Mestre Mahar, sou ali de "Rivera.Uy" (vizinha a Lvto-RS, ...hehe!)
Terra onde o 'Marinho 10 e Lettry 1000' caçaram (até a exaustão do 'Flor del Campo' e seu roscinante de alumínio, de motor machão, mas ñ totalmente cumplidor ante brasileiros) ...bem no finalzinho, ...mta emoção e alegria.
O pequeno autódromo ...mui simpático, ou o q restou, dá p/ ver p/ google.
Ronaldo Brochado
Obrigado Jason, por nos mostrar estas pequenas maravilhas exóticas, aqui tão perto ! E obrigado também ao Mahar.
A NSU P6/P10 , desenhada por Carlos Casamayor foi o modelo copiado por Marcio Piancastelli (plagiado!) para a vw do brasil. Ter em conta que vw abocanhou a NSU 4 anos antes do "nascimento" da vw brasilia...
Até mesmo o concurso Lucio Meira, com Pinifarina, Ghia e Brooke Stevens e feito pelo JK teve ao Piancastelli e 98 brasileiros mais por tras do unico extrangeiro que foi alem de tudo o ganador...Carlos Luciardi (Uruguaio!). Pode conhecer mais em www.geocities.ws/autosuruguayos
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