domingo, 5 de julho de 2015

OPINIÃO DE BORIS FELDMAN




AMIGO DA ONÇA



As rodas do Range Rover foram reparadas com solda e submetidas a um extremo esforço do carro acelerando a quase 200 quilômetros por hora…

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FOTO TV GLOBO/DIÁRIO DO PARANÁ
Dizem que raramente um acidente aéreo é provocado por uma única causa, mas pela conjunção de várias delas. Não é muito diferente com os automóveis. No acidente que vitimou Cristiano Araújo e sua namorada:
1 – o Range Rover estava em elevadíssima velocidade. O próprio motorista confessou estar muito acima dos 110 km/h permitidos na rodovia. Cálculos feitos pelo tempo gasto desde a última parada (registrada por câmeras num posto) até o momento do acidente indicam que a velocidade média era de cerca de 160 km/h;
2 – Motorista e empresário do cantor sertanejo estavam protegidos com os cintos. O casal, no banco traseiro, foi cuspido do carro indicando que não tinha afivelado o cinto;
3 – As rodas originais do utilitário esportivo inglês tinham sido substituídas por outras bem maiores (aro de 22”), que exigem pneus de perfil bem mais baixo e, portanto, mais sensíveis a danos e estouros;
4 – O amigo do cantor que lhe deu as rodas (tirou do seu próprio carro que seria vendido) confessou que foram amassadas e levadas para reparo. “Não imaginava que pudessem provocar um acidente” disse, completando que as colocou em seu Range Rover por serem “bonitinhas”.
Dezenas ou centenas de acidentes semelhantes acontecem no Brasil provocados por motivos semelhantes, mas sem despertar o interesse da imprensa e do público. Nem são investigados pela polícia ou pelo fabricante do automóvel, como neste Range Rover. Porém, quando se trata de um famoso cantor sertanejo, todas as atenções se voltam para o acidente e suas possíveis causas.
Outros famosos morreram por esta falsa noção de que o passageiro do banco traseiro não precisa afivelar os cintos. Foi assim com Lady Di em Paris, foi assim com o dramaturgo Dias Gomes em São Paulo. E continuará assim até que se mude a ideia de que “acidente só acontece com os outros”.
No Brasil, a situação é ainda pior, pois o governo não se preocupa com o assunto. Ao contrário de outros países, aqui se coloca a venda qualquer componente do automóvel, mesmo os que envolvem segurança, sem que estejam certificados. O Inmetro dá os primeiros passos para homologar alguns produtos, em ritmo de tartaruga e com toda a burocracia inerente a um órgão do governo. E que nem sempre resiste a “pressões” como no caso dos pneus remoldados, quando falou mais alto o interesse dos empresários envolvidos.
No Range Rover do cantor, as rodas não eram originais e exigiam pneus de perfil mais baixo e, portanto, mais sensíveis a impactos em buracos. A estrada onde ocorreu o acidente era asfaltada e de boa qualidade. Porém, e se na véspera o carro passou por uma cratera que rompeu internamente um pneu? Alguém se lembrou de verificar a presença de bolhas (externas ou internas) na banda lateral?
E as rodas “bonitinhas” colocadas no Range Rover? O amigo (…) do cantor confessou que, antes de oferecê-las para Cristiano, mandou reparar duas delas numa oficina em Goiânia, num processo que exigiu solda e que pode ter deixado fissuras ou trincas internas não visíveis a olho nu. A oficina (nem nenhuma outra no Brasil, com certeza) tem o sofisticado e caro equipamento de ultrassom capaz de detectar esse problema. A roda pode até circular sem problemas em baixa velocidade, mas com o extremo esforço a que é submetida com o carro a quase 200 km/h…AMIGO DA ONÇA

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