Por Fernando Calmon
Uma pequena revolução começa a tomar curso
na indústria automobilística. Pressionada para reduzir consumo de combustível e
de tabela emissões de CO2 (para evitar efeito estufa/mudanças
climáticas), os fabricantes vão além de apenas desenvolver motores econômicos. A
ordem é lutar contra o peso e ampliar as possibilidades de “emagrecimento” dos
veículos.
Na média, estudos apontam que 10% de diminuição
na massa total em ordem de marcha permite economia expressiva de combustível de
5% a 7%. Grande ajuda a se somar aos motores turboalimentados de cilindrada
reduzida, porém com potência igual ou maior do que antes.
Alumínio sempre esteve entre os aliados no
alívio de peso veicular. Em alguns casos a diferença pode passar de 50% para peças
iguais ou semelhantes. Certas aplicações exigem até exclusividade desse metal. O
problema, entretanto, é o custo que, dependendo do caso, pode ser até o dobro
ou o triplo. Isso limitou o uso a automóveis mais caros (Audi A8), carros esporte
(Jaguar) e até utilitários (Range Rover), só para citar alguns.
O novo Mercedes-Benz Classe C tem
carroceria parcialmente em alumínio e pesa cerca de 70 kg menos do que a de
toda em aço. A participação do metal mais leve passou de menos de 10% para
quase 50% do total de peças. O Volkswagen Touareg perdeu mais de 200 kg graças
a essa ajuda decisiva.
No entanto, produção em maior escala
esbarrava em limitações. Alumínio não é magnetizável e assim suas chapas exigem
novos meios de transferência entre linhas de montagem. Rivais da indústria de
aço lembram ainda que não dá para soldar em alta escala, exigindo processos de colagem
ou rebitagem. E ela própria já desenvolveu aços mais resistentes e leves.
Cenário começou a mudar no início deste ano.
As instalações de produção das picapes pesadas Ford F150, modelo mais vendido há
mais de três décadas do mercado americano (somadas as cinco versões), sofreram
grandes transformações. Pela primeira vez um produto de alta escala, na faixa
de 800.000 unidades/ano, terá cabine e caçamba quase totalmente de alumínio,
mantendo o chassi separado em aço. A redução de peso ficou em torno de – mais
que relevantes – 320 quilos.
Como se trata do principal produto da marca
americana, há riscos nessa opção. As fábricas envolvidas exigiram investimentos
vultosos e difíceis de reverter. A decisão de mudar foi tomada em 2008, no auge
da crise econômica que assolou o país, mas a empresa já estudava essa guinada
há duas décadas, quando ainda era dona da Jaguar. Veio do atual presidente,
Alan Mulally, o impulso final. Ele fora antes o principal executivo da Boeing. Alumínio
e aviões mantêm laços históricos e técnicos inseparáveis.
Maior parte do alto custo do metal foi compensada
por projetos inovadores, processos produtivos específicos e eliminação de
desperdícios. Fabricação em alta escala contribuiu decisivamente. Tanto que o
preço final da picape se manteve competitivo. Também houve foco na
reparabilidade: concessionárias receberam novas ferramentas e treinamento.
Alumínio exige enorme quantidade de energia
elétrica para sua produção. Em compensação é quase 100% reciclável. Tudo indica,
porém, que uma nova era começou.
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