Alta Roda nº 782 — Fernando Calmon — 29/4/14
DESCONFIANÇA
CONTAGIOSA
Diagnósticos da atual situação do mercado
brasileiro de veículos continuam sem apontar saídas viáveis de curto prazo,
depois de um dia inteiro de conferências e debates no V Fórum da Indústria Automobilística,
organizado pela Automotive Business, essa semana em São Paulo.
Novamente, o regime criado pelo programa
Inovar-Auto recebeu mais críticas que elogios. Sem chegar a constituir
condenação, mas algo na direção de ruim com ele, pior sem ele. E agora há um complicador
chamado Argentina, problema cujo desfecho já se esperava. Seria injusto
“culpar” apenas os vizinhos, que compraram veículos brasileiros acima do
potencial como forma de se defender da inflação escamoteada pelo governo deles.
O Brasil, no entanto, perdeu tanta
competitividade interna e externa nos últimos anos que concentrou 75% de suas
vendas ao exterior justamente onde não deveria, no atribulado sócio maior do
Mercosul. Grande parte dos pátios de fabricantes cheios de veículos, em cenas
áreas reportadas por jornais e TVs, retratam exatamente a queda brutal de
exportações de 33% do primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2013.
A isso se adiciona a preocupação com outros
milhares de automóveis, no momento, acumulando poeira em cerca de 5.000
concessionárias do País. De imediato se espera, em 1º de julho, adiamento da
volta de alíquotas cheias do IPI. A carga fiscal brasileira sobre carros é tão
alta que essa estratégia “salvadora” de vendas funciona bem melhor aqui do que
em outras partes do mundo. Sem falar na derrama indireta do IPVA, imposto estadual
pós-venda irremovível de até 4%, que representa sozinho metade da carga
tributária nominal total dos EUA.
Durante o Fórum pouco se detectou sobre
mergulho definitivo nas vendas em 2014. À exceção dos mais pessimistas que
preveem até menos 5%, a maioria dos palestrantes aposta entre crescimento zero
e 1%. Falou-se em ano de três Carnavais: além do tradicional, as paradas
previstas na Copa do Mundo e o fraco ritmo pré-eleitoral. No entanto, se o
comprador desejar mesmo gastar e se sentir mais seguro vai procurar as lojas em
outros dias.
Ponto de consenso, o financiamento de 60
meses sem entrada acaba por trazer problemas de inadimplência futura, nada
aconselhável no cenário atual de recuperação desse indicador. Destravar o
crédito por meio de criação de uma espécie de fundo garantidor contra calotes pareceu
ter angariado poucos defensores.
Estudo apresentado pela consultoria Carcon prevê
que, somados Brasil e Argentina, a segmentação de autos e comerciais leves deve
se manter entre 2013 e 2018: subcompactos, 15%; compactos, 62%; médios,15% e grandes/luxo,
8%. Assim, veículos menores continuarão a representar 77% do mercado e representariam
oportunidade para o Brasil tentar melhorar sua competitividade externa, assim
como a Tailândia se especializou em picapes, SUVs e furgões médios, conforme
lembrou David Wong, da AT Kearney.
De qualquer forma, 2014 e 2015 refletirão “desconfiança
muito contagiosa”, como comentou Arturo Piñeiro, presidente da BMW do Brasil,
em tom conciliador. Entretanto, as causas se originam de erros graves de
política econômica interna que não podem simplesmente se atribuir ao panorama
do exterior.
RODA VIVA
ESTA semana a coluna completa 15 anos sempre à procura dos
acontecimentos de mercado que refletem nas decisões de quem já tem ou deseja um
automóvel. Sem descuidar de análises técnicas de novos produtos, tecnologia,
legislação, segurança e respeito ao consumidor. Agradecimentos aos leitores e
aos 104 meios digitais e impressos que reproduzem semanalmente Alta Roda.
CONFIRMADO o Renegade na nova fábrica de Goiana, no segundo trimestre de 2015,
a coluna antecipa que a picape média Fiat terá início de produção no primeiro
trimestre de 2016 juntamente com o SUV derivado que também levará a marca Jeep.
Outros dois produtos serão automóveis Fiat: um deles a nova versão do Viaggio,
em 2017 ou 2018; o segundo, ainda a definir.
POR sua vocação urbana e pelo trânsito pesado o câmbio automatizado do
VW up! a R$ 2.700 chega na hora certa. Opção disponível pela primeira vez em
motor de um litro, ajuda como antiestresse desde que não se busque desempenho
rápido na troca de marchas. Leve alívio no acelerador é suficiente. Versão
2-portas por R$ 26.990 completa o leque de oferta do modelo.
QUEM não se preocupa em pagar R$ 20.000 extras pela versão diesel do
Grand Cherokee (R$ 239.900) encontrará interação entre motor (241 cv), novo câmbio
automático de oito marchas, capacidade razoável em estrada e muito boa fora
dela, apesar de exagerados 2.400 kg de massa. Interior espaçoso, bem equipado,
mas plásticos duros lembram se tratar de um Jeep.
CORREÇÕES: taxa atual de motorização no Brasil é de 200 veículos por 1.000 habitantes
ou, que dá no mesmo, 5 habitantes por veículo. Na relação das marcas
centenárias entra a Dodge (produziu apenas 249 unidades em 1914), sai a
Maserati (fundada em 1914, mas com carro
próprio só em 1926) e, a pedidos, inclusão da Morgan fabricante de triciclos a
partir de 1910 (quatro rodas em 1936).
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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