Alta Roda nº 784 — Fernando Calmon — 13/5/14
OTIMISMO
EXAGERADO
O aguardado primeiro plano estratégico
quinquenal da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) foi anunciado em Detroit, semana
passada. Sergio Marchionne, presidente do grupo, não escolheu os EUA à toa para
anunciar suas ambiciosas metas 2014/2018. Afinal, a antiga Chrysler LCC aproveitou
bastante bem a rápida recuperação do mercado americano, que saltou de menos de
10 milhões/ano em 2009 para estimados 16 milhões este ano. Outra etapa crucial
é abrir o capital na bolsa de Nova York, concluída a fusão Fiat com a Chrysler,
até o fim do ano.
Para o Brasil, dentro da região América
Latina, a FCA reservou atenção especial na apresentação mundial em Detroit. A Fiat,
de fato, liderou as vendas internas em 11 dos últimos 12 anos e pôde gerar
importante fluxo financeiro para a sofrida sede na Itália. Nova fábrica de
Goiana (PE) começa a produzir no primeiro trimestre de 2015 o Jeep Renegade (Projeto
521), sem a companhia do Fiat 500 X, como acontece na instalação italiana de
Melfi. Confirmaram-se, no entanto, dois novos produtos para 2016: uma picape
média (Projeto 226) de construção monobloco para 1.000 kg de carga (Fiat) e um
novo SUV/crossover (Projeto 551) na mesma arquitetura da picape para a marca
Jeep, posicionado entre Renegade e Cherokee.
Esses três produtos da fábrica pernambucana
têm maior valor agregado e são óbvios para alcançar retorno financeiro de um
investimento pesado para atrair fornecedores de longe e capacitar mão de obra. Embora
a Fiat ainda não confirme, o modelo subcompacto para combater VW up!, futuro
Chevrolet e outros como Chery QQ, fica mesmo em Betim (MG), conforme a coluna
antecipou. Rebatizado de Projeto X1H (antes 344), lançamento está previsto para
o segundo semestre de 2015.
O objetivo do Grupo FCA na América Latina é
passar de 900.000 unidades/ano (2013) para 1,3 milhão (2018), com papel
preponderante para a Jeep – crescimento de 640% – na região. Já as outras
marcas (Chrysler, Dodge e RAM) não cresceriam.
Analistas europeus foram mais céticos que
os americanos quanto à expansão do grupo ítalo-americano, com sede na Holanda e
domicílio fiscal na Inglaterra. Chamou atenção a FCA prever quintuplicar as
vendas da Alfa Romeo e quadruplicar as da Maserati em apenas cinco anos.
Deve-se notar que é a terceira vez que Marchionne decide relançar a marca Alfa
Romeo, dessa vez do alto de um investimento de € 5 bilhões (R$ 15 bilhões) e
oito novos modelos, todos de tração traseira ou 4x4.
A estratégia, em linhas gerais, está
correta. Produzir focado em carros compactos gera margens insuficientes para se
manter competitivo nos mercados mundiais. O duro é que lançamentos dependem de
aceitação dos compradores, além de concorrentes terem investidos antes e do
fato de manterem o ritmo.
No Brasil, principal mercado da Fiat no
mundo, também há disputas que se tornarão ainda mais acirradas. As Quatro
Grandes (Chevrolet, Fiat, Ford e VW) dominavam 98% do mercado de automóveis e
comerciais leves em 1990; no primeiro quadrimestre deste ano caíram ao patamar
mais baixo da história: 65,6%. E novos entrantes não param de chegar, com tendência
de tirar vendas primariamente dos que lideram.
Otimismo com realismo talvez fosse o
caminho mais seguro na consolidação de um novo grupo de atuação mundial.
RODA VIVA
NOME do SUV compacto que a Honda lançará em 2015, da nova fábrica de
Itirapina (SP), não será Vezel (Japão), nem HR-V (Europa e EUA), este último já
usado aqui no caminhão leve da Hyundai. Bem cotado, hoje: Urban (de Urban
Concept, surgido no Salão de Detroit 2013). Marca mantém planos para um
compacto mais barato que o Fit em 2016.
MERCADO interno caiu 5% no primeiro quadrimestre contra igual período de
2013. Produção cedeu ainda mais (12%), apesar de as exportações para a
Argentina terem ajudado na recuperação de 56% no número de veículos vendidos ao
exterior em abril sobre março deste ano. Estoques totais caíram de 48 dias 40
dias, mas ainda continua difícil animar compradores.
ESPAÇO interno é um ponto forte do novo Corolla. Na versão de topo, Altis,
faróis de led realmente fazem diferença tanto na estrada quanto na cidade.
Câmbio CVT de 7 marchas cumpre bem seu papel. Regulagem do banco (elétrica, no
Altis) melhorou e o volante um pouco mais vertical ficou bom, embora não
devesse ser ligeiramente enviesado num carro desse porte. Versão intermediária
XEi tem a melhor relação preço-benefício, sem dúvida.
SEGUNDO a Abeifa (associação de importadores e fabricantes independentes),
houve queda acentuada em 2014 nas vendas de modelos de menos de R$ 100.000.
Entretanto na faixa até R$ 200.000 e, na seguinte, R$ 300.000 o mercado
continua ascendente.
COMENTÁRIO de seguidor, na página desse colunista no Facebook, sobre o Dia
Nacional do Automóvel (13 de maio): "O automóvel é o meio de transporte que
revolucionou as "migrações". Imagine se ainda tivéssemos que fazer
tudo a cavalo ou com carro de boi: haja material particulado, vulgo
estrume!" Ambientalistas deveriam agradecer.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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