Alta Roda nº 812 — Fernando Calmon — 25/11/14
PREFERÊNCIAS
EM EVOLUÇÃO
Nos últimos 12 anos, quando as vendas
anuais de veículos no Brasil subiram 140%, o perfil dos compradores mudou e,
mais ainda, a segmentação de produtos. Em grande parte isso se deve ao aumento
de poder aquisitivo e ao fato de que os carros subiram menos que a inflação em
termos reais por qualquer que seja o indicador pesquisado. Na base do mercado
os preços nominais subiram 14%, em média, enquanto os salários avançaram 32%. O
segmento de entrada, de longe o mais importante, que se subdivide em três
(básico, intermediário e superior), assistiu a fenômenos interessantes.
Não é de surpreender que hoje, das vendas
totais, 70% dos modelos saiam de fábrica com ar-condicionado e 60% com direção
assistida. O chamado carro “pelado” nunca foi opção de ninguém e sim mero
reflexo do dinheiro curto para ter acesso ao automóvel. Parece óbvio, mas alguns
ainda acreditam que a indústria era a única responsável por carros sem conforto
ou acabamento rústico. Recursos de conectividade eram reservados para carros
maiores e caros. Agora, já estão em 25% dos
básicos e em 35% dos intermediários do segmento de entrada.
No nível de segurança veicular, a produção média
local ainda está uns seis anos atrasada em relação à Europa Ocidental, mas à
medida que novas arquiteturas globais cheguem e as vendas voltem a crescer a
defasagem diminuirá. O ritmo será ditado, de novo, pelo poder aquisitivo ou
“riqueza” dos compradores.
Em termos de segmentação por tipo de carroceria
o mercado brasileiro apontou em direção aos SUVs e a tendência vai se
aprofundar porque ainda há poucos modelos (EcoSport e Duster) na categoria de SUVs
compactos. A atual distribuição entre veículos de passageiros se apresenta
assim: 60%, compactos (41% hatches, 18% sedãs e 1% peruas); 14%, picapes; 9%,
médios; 4%, monovolumes; 1%, grandes; 10%, SUVs e 2%, outros.
A preferência pelos utilitários esporte tem
explicações que vão da visibilidade à possibilidade de lidar melhor com piso
irregular ou sem pavimentação, mas passa igualmente pela evolução financeira
dos clientes da indústria. A previsão de estreia de pelos menos três novas
versões compactas no próximo ano (HR-V, Renegade e 2008) e lançamentos também
de SUVs médios apontam que esse tipo de carroceria representará em curto prazo
15% do mercado, à custa de sedãs e monovolumes, principalmente.
Caminho ainda pouco claro diz respeito aos
subcompactos. As famílias brasileiras decidiram ter menos filhos e, desse modo,
diminuiria a exigência por porta-malas grande. Por outro lado, aumentarão as
famílias que poderão adquirir um segundo carro e poderia ser um subcompacto: dimensões
menores oferecem vantagens na cidade e facilidade de estacionar. Teria menor
consumo de combustível (em especial frente a um SUV pequeno) e preço em conta,
porém há dúvidas sobre sua aceitação nos próximos anos.
Câmbio automático pode atrair mais
interessados, pois além do maior conforto no trânsito, ganhou em eficiência
energética e também se beneficiaria da folga financeira. Até preferência de
cores mudou. Por décadas o branco, em um país de clima quente, ficou de lado e
agora já divide a preferência com prata e preto.
RODA VIVA
ROMBO nas contas externas brasileiras deixa mais distante a possibilidade
de voltar o livre comércio entre Brasil e México, a partir do próximo ano. As
cotas de importação devem continuar e os fabricantes sabem não haver solução de
curto prazo, salvo se ocorrer
PREÇO é bem salgado – quase R$ 80.000, quando à venda em dezembro –, mas
o Fiat 500 Abarth convence pelo conjunto. Necessidade de alterações na
carroceria prejudicou um pouco a pureza de estilo. Quadro de instrumentos digital
agora ficou muito bom com o fim do conflito de ponteiros. Pontos altos: motor
de 167 cv/23 kgfm e suspensões não excessivamente duras.
SAVEIRO cabine dupla comprova no dia a dia que atende a quem exige espaço
maior para carga e flexibilidade para transportar no banco traseiro até três
pessoas (Strada, apenas duas). Portas são as mesmas do Gol 2-portas, mais
largas. Novo motor de 1,6 L/120 cv é econômico e referência em termos de
suavidade de funcionamento, embora não seja o mais potente.
ESTILO ousado, sem dúvida, o novo Jeep Cherokee tem de sobra, principalmente
na parte frontal. Se vai agradar seus fãs ou atrair novos clientes, como já
acontece nos EUA, é cedo para dizer no caso do Brasil. Sua mecânica está bem
provada, inclusive o motor V-6 de 271 cv. Acabamento e materiais são de boa qualidade,
porém há rangidos inexistentes na geração anterior.
EURO NCAP, que faz testes de
colisão, terá um sistema de pontuação dupla a partir de 2016. Admitirá certos equipamentos
de segurança como opcionais, na Europa, o que permitirá a carros menores (com
limitações de preço) obter cinco estrelas máximas sem as penalizações atuais.
Finalmente um pingo de bom senso, que falta no Latin NCAP.
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fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmon
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