quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A fera renasce para as pistas por Jason Vogel

Ao completar 50 anos, Puma ensaia retorno esportivo.


As origens

Puma, fabricante brasileira de maior sucesso no ramo de carros esportivos, completa 50 anos este mês. Extinta desde a década de 90, a marca ensaia um renascimento — e esse retorno deve se dar nas pistas, exatamente como a Puma original, gerada a partir do GT Malzoni de corridas.


Os responsáveis pela nova empreitada são o administrador de empresas Fernando Mesquita e o empresário Reginaldo Galafazzi, fãs de velocidade e da Puma. A ideia é fabricar inicialmente um lote de 20 a 25 carros de competição e formar uma nova categoria no automobilismo — o piloto Jan Balder, que organiza provas de regularidade no Autódromo de Interlagos, está apadrinhando a ideia.

Os carros serão feitos na cidade de Itatinga, a 230km da capital paulista. Um pré-protótipo está sendo montado e deve ficar pronto em janeiro. Daí se partirá para a produção dos carros de corrida, que devem ficar prontos ao longo de 2015. Caso tudo corra dentro do previsto, a categoria estreará em 2016.

— O foco é nas pistas. Podem até vir carros de rua, mas só depois. Temos ideia, temos projeto, mas não queremos prometer muito. Preferimos fazer bem feito a avançar demais e ter que voltar atrás — explica Fernando.


O chassi tubular está sendo montado por Eder Tadeu Nunes, preparador de carros de competição. O motor será transversal, instalado entre eixos, logo atrás do banco do piloto. A ideia é usar um motor 1.6 turbo e câmbio de cinco marchas. O pai do novoPuma diz que ainda está fechando negociações com o fornecedor e não pode adiantar muito mais do que isso.

Já a carroceria de fibra de vidro é uma versão atualizada dos Puma GT feitos entre 1968 e 1975, mas com proporções inspiradas no atual Porsche Boxster e com um quê de Lotus Elise. O desenho básico é obra do jovem designer paulista Du Oliveira, famoso por seu blog "Irmão do Décio", em que faz releituras modernas de modelos clássicos.


Pesando apenas 570 quilos, com motor entre-eixos e potência em torno de 180cv (com álcool), o novoPuma deverá ser um brinquedo divertidíssimo.

— Tocar o renascimento de uma marca com tanta história é uma responsbilidade enorme com o passado — afirma Fernando.


A história da Puma começa em 1964, quando o fazendeiro e carrozziere Rino Malzoni fez um protótipo de corridas com carroceria de metal e mecânica DKW — motor dois tempos de três cilindros e tração dianteira. O carro artesanal nasceu numa plantação de cana-de-açúcar em Matão, interior de São Paulo.

O rápido sucesso nas pistas levou Rino a criar a sociedade Lumimari, para produzir mais carros — só que de fibra de vidro: era o GT Malzoni. Os três primeiros exemplares foram entregues ao departamento de competições da fábrica DKW-Vemag, comandado por Jorge Lettry.


Além dos carros da equipe oficial, havia outros, vendidos a pilotos amadores. Veio também uma versão de rua, com para-choques cromados e interior forrado com esmero. Nas 35 corridas em que participaram, de 64 a 68, os Malzoni obtiveram 12 vitórias contra importados como Alfa GTA e Alpine A-110.

No fim de 1966, o Malzoni GT deu lugar ao Puma com motor DKW, de pouco sucesso em corridas. Com o fim da Vemag, em 1967, os Puma de primeira geração perderam o fornecedor de sua parte mecânica. A solução foi fazer uma nova carroceria para vestir um chassi de Karmann-Ghia, com motor Volkswagen "a ar" na traseira.

Os Puma com mecânica VW brilharam em ralis (com destaque para a participação de Jan Balder). Mas foi nas ruas brasileiras que ficaram famosos, tornando-se um dos maiores sonhos de consumo dos anos 70. Houve muitas exportações para Estados Unidos, Canadá e Europa (foram aproximadamente 50 países, no total).


Ao longo da década, a marca diversificou sua linha, fazendo ainda os modelos GTB (com mecânica de Opala) e cabines da caminhão, além de projetar o Mini-Puma, carrinho popular que não chegou à produção.

No início dos anos 80, a fábrica entrou em crise, juntamente com a derrocada da economia brasileira e as restrições técnicas cada vez maiores do mercado americano. Com novos donos, a Puma ainda tentou se manter por meio de duas empresas baseadas no Paraná: a Araucária Veículos (1986) e a Alfa Metais (que manteve uma pequena produção até os anos 90).

Com produção total de 22 mil carros, a marca Puma ainda pertencia aos herdeiros de Luis Roberto Alves da Costa, sócio da fábrica original. Amigo da família, Fernando Mesquita obteve o registro para criar a novaPuma Automóveis. Agora é ver se essas feras voltarão a rugir.

Enquanto isso, na África do Sul...

Nos anos 70, o esportivo brasileiro começou a ser produzido no outro lado da Atlântico. Agora, essa pequena fábrica está à venda


Ao mesmo tempo que que a Puma ensaia um retorno por aqui, sua "prima" africana está à venda. Explica-se: os esportivos brasileiros dos anos 70 continuaram em produção na África do Sul — até hoje!



Em 1972, em meio à onda expansionista da Puma, a empresa Bromer Motors foi nomeada representante da marca brasileira na África do Sul. Na primeira fase, foram fabricados 357 carros em Durban, mas o negócio não foi adiante

Anos depois, os velhos moldes fornecidos pela Puma à Bromer foram parar nas mãos do entusiasta Jack Wijker, que fabricou 26 automóveis a partir de 1989. Um processo de divórcio, contudo, fez Wijker interromper a produção em 1992.

Com o fim da batalha judicial, a produção pôde recomeçar. E assim, em 2007, os Pumas "modelo 1973" zero-quilômetro voltaram a ser montados num pequeno galpão de Babelegi, a 40 quilômetros de Pretória. Desde então, menos de 40 carros foram feitos.

Aos 82 anos, Wijker agora quer vender a fábrica da Puma Cars. No estoque, há moldes, ferramentas e dez carros mais ou menos montados. O preço? Dois milhões de rands, o equivalente a R$ 445 mil. Uma pechincha, não?

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