Ao completar 50 anos, Puma ensaia retorno esportivo.
A Puma, fabricante brasileira de maior sucesso no ramo de carros esportivos, completa 50 anos este mês. Extinta desde a década de 90, a marca ensaia um renascimento — e esse retorno deve se dar nas pistas, exatamente como a Puma original, gerada a partir do GT Malzoni de corridas.
Os responsáveis pela nova empreitada são o administrador de empresas Fernando Mesquita e o empresário Reginaldo Galafazzi, fãs de velocidade e da Puma. A ideia é fabricar inicialmente um lote de 20 a 25 carros de competição e formar uma nova categoria no automobilismo — o piloto Jan Balder, que organiza provas de regularidade no Autódromo de Interlagos, está apadrinhando a ideia.
Os carros serão feitos na cidade de Itatinga, a 230km da capital paulista. Um pré-protótipo está sendo montado e deve ficar pronto em janeiro. Daí se partirá para a produção dos carros de corrida, que devem ficar prontos ao longo de 2015. Caso tudo corra dentro do previsto, a categoria estreará em 2016.
— O foco é nas pistas. Podem até vir carros de rua, mas só depois. Temos ideia, temos projeto, mas não queremos prometer muito. Preferimos fazer bem feito a avançar demais e ter que voltar atrás — explica Fernando.
O chassi tubular está sendo montado por Eder Tadeu Nunes, preparador de carros de competição. O motor será transversal, instalado entre eixos, logo atrás do banco do piloto. A ideia é usar um motor 1.6 turbo e câmbio de cinco marchas. O pai do novoPuma diz que ainda está fechando negociações com o fornecedor e não pode adiantar muito mais do que isso.
Já a carroceria de fibra de vidro é uma versão atualizada dos Puma GT feitos entre 1968 e 1975, mas com proporções inspiradas no atual Porsche Boxster e com um quê de Lotus Elise. O desenho básico é obra do jovem designer paulista Du Oliveira, famoso por seu blog "Irmão do Décio", em que faz releituras modernas de modelos clássicos.
Pesando apenas 570 quilos, com motor entre-eixos e potência em torno de 180cv (com álcool), o novoPuma deverá ser um brinquedo divertidíssimo.
— Tocar o renascimento de uma marca com tanta história é uma responsbilidade enorme com o passado — afirma Fernando.
A história da Puma começa em 1964, quando o fazendeiro e carrozziere Rino Malzoni fez um protótipo de corridas com carroceria de metal e mecânica DKW — motor dois tempos de três cilindros e tração dianteira. O carro artesanal nasceu numa plantação de cana-de-açúcar em Matão, interior de São Paulo.
O rápido sucesso nas pistas levou Rino a criar a sociedade Lumimari, para produzir mais carros — só que de fibra de vidro: era o GT Malzoni. Os três primeiros exemplares foram entregues ao departamento de competições da fábrica DKW-Vemag, comandado por Jorge Lettry.
Além dos carros da equipe oficial, havia outros, vendidos a pilotos amadores. Veio também uma versão de rua, com para-choques cromados e interior forrado com esmero. Nas 35 corridas em que participaram, de 64 a 68, os Malzoni obtiveram 12 vitórias contra importados como Alfa GTA e Alpine A-110.
No fim de 1966, o Malzoni GT deu lugar ao Puma com motor DKW, de pouco sucesso em corridas. Com o fim da Vemag, em 1967, os Puma de primeira geração perderam o fornecedor de sua parte mecânica. A solução foi fazer uma nova carroceria para vestir um chassi de Karmann-Ghia, com motor Volkswagen "a ar" na traseira.
Os Puma com mecânica VW brilharam em ralis (com destaque para a participação de Jan Balder). Mas foi nas ruas brasileiras que ficaram famosos, tornando-se um dos maiores sonhos de consumo dos anos 70. Houve muitas exportações para Estados Unidos, Canadá e Europa (foram aproximadamente 50 países, no total).
Ao longo da década, a marca diversificou sua linha, fazendo ainda os modelos GTB (com mecânica de Opala) e cabines da caminhão, além de projetar o Mini-Puma, carrinho popular que não chegou à produção.
No início dos anos 80, a fábrica entrou em crise, juntamente com a derrocada da economia brasileira e as restrições técnicas cada vez maiores do mercado americano. Com novos donos, a Puma ainda tentou se manter por meio de duas empresas baseadas no Paraná: a Araucária Veículos (1986) e a Alfa Metais (que manteve uma pequena produção até os anos 90).
Com produção total de 22 mil carros, a marca Puma ainda pertencia aos herdeiros de Luis Roberto Alves da Costa, sócio da fábrica original. Amigo da família, Fernando Mesquita obteve o registro para criar a novaPuma Automóveis. Agora é ver se essas feras voltarão a rugir.
Enquanto isso, na África do Sul...
Nos anos 70, o esportivo brasileiro começou a ser produzido no outro lado da Atlântico. Agora, essa pequena fábrica está à vendaAo mesmo tempo que que a Puma ensaia um retorno por aqui, sua "prima" africana está à venda. Explica-se: os esportivos brasileiros dos anos 70 continuaram em produção na África do Sul — até hoje!
Em 1972, em meio à onda expansionista da Puma, a empresa Bromer Motors foi nomeada representante da marca brasileira na África do Sul. Na primeira fase, foram fabricados 357 carros em Durban, mas o negócio não foi adiante
Anos depois, os velhos moldes fornecidos pela Puma à Bromer foram parar nas mãos do entusiasta Jack Wijker, que fabricou 26 automóveis a partir de 1989. Um processo de divórcio, contudo, fez Wijker interromper a produção em 1992.
Com o fim da batalha judicial, a produção pôde recomeçar. E assim, em 2007, os Pumas "modelo 1973" zero-quilômetro voltaram a ser montados num pequeno galpão de Babelegi, a 40 quilômetros de Pretória. Desde então, menos de 40 carros foram feitos.
Aos 82 anos, Wijker agora quer vender a fábrica da Puma Cars. No estoque, há moldes, ferramentas e dez carros mais ou menos montados. O preço? Dois milhões de rands, o equivalente a R$ 445 mil. Uma pechincha, não?
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