Alta Roda nº 811 — Fernando Calmon — 18/11/14
INCERTEZAS
DE CURTO PRAZO
Depois de analisar as possibilidades de
aumento da taxa de motorização da população brasileira para os próximos 20
anos, que se concentrará em cidades pequenas e médias, a Coluna se volta às
preocupações de curto prazo. No final da semana passada, entraram em vigor as
regras que aceleram a retomada de veículos por falta de pagamento. À primeira
vista, como os calotes representam hoje 4,4% dos financiamentos, não parece
importante, mas é. Afinal, 50% de todas as vendas são intermediadas por bancos
(outros 10% por consórcios e até 10% em curto prazo pelas lojas).
O problema é o alto custo de recuperação dos
bens por si só de valores elevados. Leva tempo, passa por etapas judiciais e muitas
vezes os carros vinham com dívidas de impostos, multas e ainda desvalorizados
por falta de manutenção. A nova lei pode encurtar o processo de um ano (após
seu início) para três meses. Por consequência, deve ocorrer maior liberação de
crédito e numa segunda etapa até redução dos juros pela diminuição dos riscos
operacionais.
Na avaliação da Fenabrave, até 30.000
carros por mês poderão agora obter parcelamentos, antes negados por falta de
garantias. Anfavea acredita que já em dezembro haverá reflexos nas vendas e
ajudaria a mitigar os números bem negativos deste ano, previstos em menos 10%
sobre 2013. Um fator de antecipação de compras seria o IPI maior a partir de 1º
de janeiro próximo. Se o governo decidir voltar à alíquota cheia, terminaria o
compromisso de manter empregos por parte da indústria. Escalonado o aumento
mais uma vez, só haveria demissões voluntárias como ocorre agora.
Por tudo isso fica difícil fazer previsões
para 2015. Na dúvida, a maioria dos analistas prevê que o próximo ano terá
crescimento zero de vendas e recuperação mesmo só em 2016. Com certeza
comprometerá algumas expectativas mais otimistas para esta década, porém não retirou
ânimo de quem decidiu investir conforme se observou no seminário Direções, da
Quatro Rodas, realizado nesta segunda-feira em São Paulo.
Para Jörg Hofmann, presidente da Audi,
apenas 2% do mercado brasileiro se concentra em marcas premium ou de valores
elevados. Com poder aquisitivo em elevação e o estímulo da produção local nada
impediria o percentual saltar para 5%, como hoje na Austrália. Na China é 9%,
nos EUA, 10% e na Alemanha, 13% puxado por vendas corporativas. No Brasil, a premiação
de altos funcionários com o uso de veículos caros está em ascensão, embora
possa haver diferenças culturais entre São Paulo e Rio de Janeiro apontadas em
debates no evento.
No outro extremo, Luis Curi, da Chery,
destacou a aposta das marcas chinesas no peso próprio do País e sua influência nos
países vizinhos. Lembrou da transição das motos para automóveis na China e que toma
corpo aqui. E Sérgio Ferreira, da FCA, apontou o desafio vencido de implantar
uma fábrica Jeep no Brasil, longe dos grandes centros fornecedores e
consumidores.
A estratégia do grupo ítalo-americano se
alinha à forte aceitação dos SUVs e, em particular, das suas alternativas
compactas. Continuarão a avançar sobre stations, monovolumes e, de acordo com
os debatedores, incomodarão até sedãs em razão dos estreantes Renegade, HR-V e
2008 em 2015.
RODA VIVA
LEITORES perguntam por que os números da frota registrada pelo Denatran e
Detrans não são confiáveis. Simplesmente porque, ao contrário do controle total
sobre veículos novos, os antigos que já não rodam são abandonados sem baixa
oficial nos registros. Isso se dá pela burocracia e altos custos para os proprietários.
Problema que se acumula há anos sem sinal de solução.
RENAULT rejuvenesceu o Fluence para manter capacidade de competir no
segmento de sedãs médios-compactos que representam 8% do mercado, mas têm
oferta altamente diversificada: uma dúzia de opções. Parte frontal segue a
linguagem estilística da marca e LEDs estão nas lanternas traseiras. Quadro de
instrumentos digital, novo sistema multimídia e travamento automático das
portas com chave no bolso completam o modelo, sem alterações mecânicas e de preços:
R$ 66.890 a 82.900.
OUTRO a entrar na onda aventureira, o Chevrolet Spin Activ, apenas na
versão de cinco lugares, marca o visual pelo estepe fixado na porta traseira
que ainda atrai por aqui, mas cai em desuso no exterior. Sensor de distância
traseiro é de série, o que diminui a possibilidade de o pneu protuberante danificar
outros carros em manobras. Dinâmica do Spin não se alterou pelos bons ajustes
de suspensão, mas 60 kg acrescentados em razão do suporte do estepe já se
sentem no desempenho.
REALMENTE o termo Active está na moda. ActiveFlex, na BMW; Nissan March
Active (carroceria da geração anterior agora de volta com mais equipamentos a
preço mais baixo) e o Spin Activ (apenas sem a letra “e” final). Os dois últimos
lançados no mesmo dia (Spin já estava no Salão do Automóvel, mês passado). Todos
registrados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Como pode?
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fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmon
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