sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O bunker dos Alpine por Jason Vogel

Uma incrível coleção escondida no subterrâneo de um quintal belga.

Jean Rédélé, o criador dos esportivos franceses Alpine, morreu em 2007 deixando muitos órfãos. O mais excêntrico deles mora no interior da Bélgica. Ludo Van Orshaegen é um técnico em eletrônica que gosta dos Alpine tão profundamente que construiu um bunker para guardá-los.

Em 1976, Ludo era um garoto de 22 anos que amava o Alpine A110. Conseguiu comprar um, usado, e curtiu seu sonho por um ano, até sofrer um acidente que destruiu o carro.

O tempo passou, veio o casamento e a família. A paixão pela marca de Dieppe teve que esperar. Quando ajeitou a vida, Ludo saiu em busca de um novo Alpine. Depois comprou outro, outro e mais outro... ele sempre jurava para a esposa Rita que seria o último da coleção.

Ludo parece um sujeito bem normal, que gosta de cerveja e se veste de forma simples. Curiosamente, não liga para automóveis em geral - sua paixão é devotada exclusivamente aos Alpine, esportivos feitos de 1955 a 1995, sempre com motor Renault traseiro e carroceria de fibra de vidro.

- São as linhas da carroceria que me atraem. Além disso, é um carro muito gostoso de dirigir. Um kart! - explica.

Inicialmente, os Alpine ficavam guardados em um hangar de metal e tinham o funcionamento afetado pelo inverno belga, de temperaturas em torno de 3°C. Os motores não pegavam e os freios emperravam.

Há cinco anos, começou a construção do bunker no quintal. De fora, o que se vê é apenas um cogumelo de fibra de vidro - parece uma casinhola para guardar apetrechos de jardinagem.


Entrando no cogumelo, Ludo mexe em uns botões e o chão de madeira começa a baixar. Descobrimos que estamos num elevador de carros, que nos leva a uma segunda câmara, escura e vazia. As paredes são de tijolos de cimento, sem acabamento. Parece que é tudo o que há para ver. Ludo vai até o fim de um corredor, tira umas tábuas e revela que há mais um nível subterrâneo.


Luzes acesas e o choque: há 48 Alpine dentro de uma sala de 20m de comprimento, por 12m de largura e 4m de altura. Um segundo elevador leva até a coleção. Há carros no chão e outros em prateleiras de aço.


- Aqui sempre faz 15°C. Além disso, tenho meus carros por perto e protegidos, sem ocupar todo o quintal - explica o excêntrico.

Há um Alpine de cada modelo, de cada versão e de cada país.

Ludo tem, por exemplo, três Willys Interlagos, nas versões berlineta, cupê e conversível - eram os Alpine A108 fabricados no Brasil na década de 60.

Os mais antigos são os A106 franceses, dos anos 50. Há também os Alpine fabricados na Bulgária (Bugaralpine), na Espanha (Fasa) e no México (Dinalpin).

A maior variedade é dos A110, em todas as suas versões, incluindo os brabos GT4.

Mais recentes são os A310, com motor de quatro cilindros ou V6. E há ainda protótipos que nunca chegaram às ruas.

Os estados de conservação variam de escombros até modelos prontos para exposição.

Mas como movimentar a frota? Quando há um rali ou encontro de Alpine, os amigos de Ludo são convocados a dirigir.

- Cada carro já tem seu "dono" fixo - conta o boa-praça.


E, assim, a obra de Rédélé está preservada na raiz de um cogumelo, nas profundezas de um quintal do interior da Bélgica.

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