Mercedes restaura 540 K que teve carreira ceifada pela
guerra
Nos anos 30, os Mercedes que
traziam o sobrenome K (de "Kompressor") eram um símbolo do poder
alemão sobre rodas. Vai daí, em 1938, a fábrica decidiu pegar um desses chassis
e vesti-lo com carroceria bem aerodinâmica para a época.
A ideia inicial era inscrever esse
bólido especial (batizado de 540 K Stromlinien) na corrida Berlim-Roma. Mas a
prova foi cancelada pelo início da Segunda Guerra Mundial. O carro acabou sendo
usado apenas para testes de pneus da filial alemã da Dunlop e, em 1948, foi
aposentado. O alumínio de sua linda (e enorme) carroceria foi reciclado e a
mecânica, mandada para a reserva técnica do museu da Mercedes.
Eis que, em 2011, os funcionários
do Mercedes-Benz Classic (departamento que preserva a memória da empresa)
encontraram o chassi original e decidiram trazê-lo de volta à vida.
A identificação precisa dos restos
do 540 K Stromlinien foi possível não só pelo número do chassi, como também
pela contagem dos dentes das engrenagens do diferencial — o bólido aerodinâmico
trazia uma relação final mais longa, para poder manter uma velocidade de
cruzeiro de 170km/h por longos trechos de estrada (sua máxima era de 180km/h).
Apesar de suas fábricas terem sido
severamente bombardeadas na Segunda Guerra, a Mercedes-Benz desde sempre se
empenhou em manter registros históricos. Daí que foi possível encontrar
desenhos técnicos do projeto de 1938 — incluindo um croqui da carroceria em
tamanho natural. Seu nome código na fábrica era W29 (enquanto os 540 K
"comuns" eram W24).
A restauração (praticamente uma
reconstrução) levou dois anos e meio e seguiu técnicas dos anos 30, a começar
pela estrutura da carroceria, toda feita com madeira. Depois foi preciso moldar
artesanalmente todos os painéis de alumínio. Só nesses trabalhos foram gastas
4.800 horas.
O desenho da carroceria feita em
Sindelfingen (de onde saíam os Mercedes especiais) era tremendamente avançado
para os anos 30, com silhueta baixa e poucas protuberâncias. Até a tradicional
grade de radiador da Mercedes foi trocada por outra mais aerodinâmica.
Na mecânica, só o chassi e o eixo
traseiro do carro original foram encontrados. Outras peças vieram da coleção
Mercedes. O resto teve que ser feito.
O motor vinha dos 540 K de série:
oito cilindros em linha, 5,4 litros e potência na casa dos 180cv graças ao
sopro vital de um compressor Roots
Como é de praxe no Mercedes-Benz
Classic, o motor e a transmissão do 540 K foram restaurados para funcionar como
novos — afinal, os carros do acervo são muitos usados em demonstrações e
eventos.
O cuidado na reconstrução chegou a
detalhes mínimos: o tom exato da pintura prateada foi encontrado em resquícios
da carroceria original.
Por fim, o 540 K Stromlinien foi
levado a um moderno túnel de vento que atestou a qualidade do projeto: seu
coeficiente de resistência aerodinâmica (Cx) é de 0,36, o equivalente ao de um
Bugatti Veyron atual! Para comparação, um Mercedes 540 K de produção normal
tinha Cx 0,57.
Com a restauração, foram resgatadas
histórias. Em sua fase de "mula" na Dunlop, o 540 K Stromlinien era
testado nas recém-inauguradas autobahnen — então pouco movimentadas. Com os
racionamentos que vieram após 1939, o carro foi convertido para o uso de gás
liquefeito de petróleo e continuou em uso na fábrica de pneus até bem perto do
fim da guerra.
Os registros mostram que o bólido
chegou a ser requisitado pelo exército dos EUA e pintado de verde-oliva! Após
seu curto período militar, o automóvel foi devolvido à Dunlop até ser
aposentado e desmontado em 1948. Chassi, motor e transmissão foram devolvidos à
Mercedes em 1950.
Um dos primeiros felizardos a
dirigir o 540 K na Alemanha, após a restauração, foi o neto do piloto de testes
da Dunlop.
A reestreia para o público
aconteceu no mês passado em Pebble Beach, Califórnia — no evento de carros
antigos mais sofisticado do mundo.
2 comentários:
Excelente restauração
O carro tem um design aerodinâmico
Perfeito
Lembra bem a aerodinâmica do Veyron
É do viper
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