Alta Roda nº 824 — Fernando Calmon — 17/2/15
CAPRICHOS DA TECNOLOGIA
A conectividade veio para ficar, mesmo que em diferentes níveis de tecnologia, de preço e de infraestrutura. Há grandes diferenças também entre países porque o poder aquisitivo está no centro das escolhas do consumidor e, assim, carros mais baratos têm limitações de preços e oferta de equipamentos. No Brasil, os telefones inteligentes respondem atualmente por dois terços das vendas de celulares e a maioria dos modelos de veículos à venda permite, pelo menos, uma conexão Bluetooth sem-fio para um sistema viva-voz.
Centrais multimídias, de vários tamanhos e
preços, estão prontas para receber comandos de voz até em carros compactos. Mas
agora surgem alguns problemas e, mesmo nos EUA onde tudo começou, já preocupam.
Os fabricantes de automóveis enfrentam desafios com essa tecnologia e causam
frustrações aos clientes pela forma como os novos sistemas funcionam mal ou
deixam a desejar.
A empresa de pesquisas de mercado J.D.
Power publicou recentemente um relatório apontando que dificuldades da
tecnologia de conectividade são os defeitos com maior número de queixas entre
compradores americanos de carros novos. E a reclamação mais recorrente?
Justamente o sistema a bordo de reconhecimento de voz. Conectividade por
Bluetooth e erros de navegação foram assinalados ao lado do “clássico” ruído de
vento, que até hoje incomoda, por razões de projeto, acabamento ou de erros na
linha de montagem.
Esses, digamos, deslizes acontecem em um
momento de grande procura por itens tecnológicos. “Tais defeitos são inerentes
a erros de projeto e não podem ser consertados na rede de concessionárias. Denotam
angústia para quem compra um carro novo”, apontou a pesquisa. É possível, por
exemplo, reencaixar uma peça qualquer mal colocada, mas se há deficiência em um
sistema, nada feito.
Os defeitos mais citados são: não
reconhecimento ou interpretação errônea dos comandos verbais (63%), idem para
nomes e/ou palavras (44%) e números (31%). A soma passa de 100% porque mais de uma
falha pode ser apontada no mesmo veículo. Proprietários também se queixaram de
confusão entre botões e comandos distribuídos em raios do volante, painel e
console que prejudicam o grau de intuitividade necessário para se usar de forma
eficiente soluções tão bem-vindas.
Alguns fabricantes, no entanto, detectaram
e resolveram grande parte das críticas simplesmente realocando (e melhorando) o
microfone que saiu do sistema multimídia embutido no painel para o teto, junto
ao para-brisa. Os motoristas falam e dão ordens verbais enquanto dirigem, sem
tirar os olhos do caminho. Assim o microfone precisa de uma colocação
compatível para o correto reconhecimento de voz. Essa mudança pode ser simples
quando se muda o projeto na fábrica ou no fornecedor. Para os veículos em
circulação é quase impossível fazer adaptações.
Outra conclusão do estudo é que nos EUA o
fator preço tem peso, embora sem a mesma intensidade daqui. Entre os
compradores 70% indicam interesse por comandos de voz, mas quando informados do
custo de US$ 500 (R$ 1.400) a intenção de compra cai para 44%.
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