segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O GOL A AR: SAUDADES...

A VW do Brasil tem e teve uma longa carreira de glórias no mercado, e mais alguns de seus filhos injustiçados pelo mercado brasileiro. Foram carros como a Variant II e, principalmente o Gol refrigerado a Ar. Fruto de uma reação à chegada do Fiat 147, um carro moderníssimo embora sofresse um pouco nos primeiros anos em questões de qualidad4e, o 147 era um foguete interplanetário em relação ao antiquado, forte e popular Fusca. Foi o primeiro a ter motor transversal com tração dianteira no nosso mercado, o primeiro a ter de fábrica pneus radiais nessa classe popular( o primeiro absoluto foi o JK nos anos 60 ) e trouxe um tom de modernidade européia que marcou fundo o mercado, inclusive por seu baixíssimo consumo. Sendo refrigerada a água, podia trabalhar com temperaturas mais altas e aproveitar melhor o combustível que gastava.
Mas a VW não era tripulada por otários nos tempos gloriosos de Rudolf Leiding, um gênio desbravador que saiu daqui para presidir uma das eras de ouro do Grupo VAG. 

Leiding determinou uma atitude e a Engenharia da VW desenvolveu junto com seus primos alemães da Audi um derivado do Audi 50 para ser o futuro carro popular brasileiro. Era um carro nunca tentado pelo grupo, e que nuca mais foi repetido, o que foi uma pena, pois a adoção do motor a ar na frente era e é um detalhe genial. Quem já ouviu falar de momento Polar de Inércia sabe do que falo. Traduzindo: é o peso na cara do carro ou na traseira, o tal pólo ou local polar, que influencia o comportamento dinâmico do carro e sua habilidade em mudar de direção, mais ou menos como uma boleadeira; trata-se de um cabo ou barbante com um peso na ponta. E isso o motor VW( que dá para  segurar nas mãos) cunpria com perfeição. E isso sem falar nas múltiplas possibilidades eróticas de envenenamento dos motores a ar, dos quais se pode tirar 100 Vc com relativa facilidade: 8 kg por Cv é uma relação emocionante...
O levíssimo motor VW a ar, com seu bloco de magnésio, obra imortal desenvolvida por Ferdinand Porsche a partir das idéias de Hans Ledwinka, o projetista da Tatra, era o principal tema técnico do novo carro. Seus 808 kg eram muito bem distribuídos entre os dois eixos, inclusive porque é possível ver que o motor fica quase dentro do entre eixos, favorecendo desta forma o comportamento do carro como um todo. Eu mesmo tive momentos muito felizes explorando os limites de um humilde Gol BX nos anos 80, quando trabalhava para uma empresa de Recife, que me emprestava um quando ia para lá: curvas inacreditáveis com os Pirellinhos P3 155mm de fábrica...
O grande erro foi no lançamento subestimar  a sede de potência ocasionada pela existência do pequeno Fiat com sseu trem de força muito bem elaborado, que aproveitava tudo que o pequeno 1050 produzia e chegava a mais de 135 por hora. O Gol saiu com um motor 1300 a ar que rendia 50 CV e levava intermináveis 31 segundos para ir de zero a cem por hora e fechava 125 por hora com seu motor bem maior que o do 147. E ainda por cima gastava mais. Isso foi uma calça arriada que quase matou o projeto. Mas o povo de são Bernardo, que não dispunha de capacidade produtiva para usar o novo motor 1500 a água do Passat, não tardou a reagir. Instalou-se no Gol o motor a ar de 1.600 cm³ com dupla carburação no caso do álcool e a vida mudou. Seus 66 cavalos permitiam ser tão ou mais rápido que o inimigo e gastar menos por ter uma transmissão mais longa e o caminho para a liderança de muitos anos estava selado.
Uma vinheta engraçada foi o Gol a álcool: foi o primeiro a ter dupla carburação, o que nos olhos dos brilhantes engenheiros da VW forçava a colocação do estepe na já apertada “mala’, o que a transformou em segundo porta luvas. O filtro de ar ficava no lugar do estepe, dentro do capô. Um belo dia, já na gestão de Wofgang Sauer, o mesmo viajou para o interior de São Paulo com um Gol a álcool, que deu um probleminha bobo. Ao entrar no concessionário local Sauer viu um Gol a álcool com o estepe dentro do capô e perguntou ao mecânico como era aquilo:” Simples doutor: é só virar a roda ao contrário que o filtro fica dentro dela...” Na segunda feira cabeças rolaram na Engenharia, que tinha gasto os tubos, vários milhões de verdinhas para fazer os novos estampos da mala muito diminuída e causar uma montanha de criticas da imprensa especializada...

9 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, seu Mahar, excelente post. O que eu nunca entendi foi por que cargas d´água a Volks nunca investiu numa versão a água desse motor, a exemplo da Porsche. Hoje, Subaru tem motores assim (a diesel inclusive) e a BMW está prestes a lançar a versão refrigerada a líquido do quase centenário boxer twin da marca.

Wellington Cassiano, Brasília-DF

Renato disse...

O meu, 1,6 a alcool, por 2 vezes dormiu na rua, na esquina de casa, bem perto da fábrica em São bernardo do Campo, porque não conseguimos faze-lo pegar.

Eu tinha até uma seringa para injetar gasolina no carburador sempre comigo, mas nestas 2 oportunidades não teve jeito. Ainda bem que desistirm desta porcaria.

José Rezende - Mahar disse...

Renato, as ignições há 30 anos não eram o que são hoje...e não havia injeção, mas o que tenho saudade é da distribuição de pesos, ainda mais em Recife, cidade de clima bem quente...
Esse motor Boxer não compensava ser transformado a água porque já existia o MD pronto e pago. Isso iria implicar em um investimento menor e foi melhor instalar a âncora na proa do Golzinho e piorar tudo. Se bem que o Gol a água estava longe de ser ruim de curva....Me lembro bem de um GTi nas alturas de Petrópolis de madrugada...

dstudzinski disse...

Certa vez peguei um desses, para dirigir para um amigo, que trabalhava para a Igreja católica aqui na cidade... o carro servia para fazer a correria dos padres, ao lado de um Gol GL 1.8. Pois bem, o bicho era um capetinha na sacrestia, de tão gostoso de guiar. Não andava muito, mas esse talvez seja o carrinho velho que eu me senti mais a vontade em poucos km... parecia um velho amigo, parceiro de longa data.

dstudzinski disse...

Certa vez peguei um desses, para dirigir para um amigo, que trabalhava para a Igreja católica aqui na cidade... o carro servia para fazer a correria dos padres, ao lado de um Gol GL 1.8. Pois bem, o bicho era um capetinha na sacrestia, de tão gostoso de guiar. Não andava muito, mas esse talvez seja o carrinho velho que eu me senti mais a vontade em poucos km... parecia um velho amigo, parceiro de longa data.

Marcelo Bonadio disse...

Tenho um, que é uma reliquia, muito bonito e conservado. Realmente gostaria de ter visto esse motor atualizado, refrigerado á água, com injeção e menos atrito interno. Tão leve que dá pra dispensar a direção hidráulica.

Sergio disse...

Tenho uma saveiro dessas, estou restaurando, foi meu primeiro carro e até hoje é o que sinto mais prazer em dirigir..

Ricardo disse...

Tive um desses no final dos anos noventa. Comigo ele nunca parou, mas parecia que o motor estava sempre prestes a bater as botas.
Certa feita, eu estava em uma estrada em um dia de chuva e frio e o motor começou a falhar justamente por estar refrigerando muito.
Mas penso que a ideia era muito boa e que se se alguns detalhes do motor que saiu de um cofre para receber ar frontal, poderia ter ido longe.

Guilherme Paccola disse...

Restaurei um verde álamo, 1984, álcool, 2 carburadores. Pense num carro espaçoso e que se pisar anda muito. Uso no dia a dia, sem falar no barulho do motor (falam que é "geladeira", "batedeira"), mas isso que é o charme, e onde passa a turma comenta. No inverno só apertar o injetor de gasolina e puxar o afogador, nada mais que isso e já começa funcionar. Vou preservá-lo ao máximo.