terça-feira, 10 de abril de 2012

MENINOS, EU VI! POR JR NASSER NA ARTGENTINA

                                                                          
GOGGOMOBIL CUPÊ
i um pequeno Citroën 3 cv, 1973, ser escolhido pelo voto dos expositores e ainda menor Isard 400, 1962, por julgadores colegiados e votação popular, dos projetados 20 mil visitantes da 3ª. Expo Auto Argentino  num gramado eqüestre na cidade de Moreno, 40 km de Buenos Aires.
Vi, surpreso e curioso, no país detentor da mais rica e refinada frota de antigos na América do Sul, ter a vitória abraçado um carrinho com motor simplório, como de motocicleta, 400  cm3, entregando-lhe a taça distinguida por gente do ramo, os apreciadores dos veículos antigos. Vi, mas entendi, só podia ser assim. 
IAME JUSTICIALISTA
O evento, como sua denominação claramente informa, é para autos argentinos, corajoso esforço nacionalista para salvar e preservar a história e a representatividade do empreendedorismo, da tecnologia aplicada pelos argentinos na variedade de produtos que marcaram o evoluir de sua indústria. O vizinho país tem ampla tradição no setor, fez veículos próprios no raiar do século passado. Produziu-os em variada quantidade, assistiu a inumeráveis iniciativas para fazer-se motorizar. 


O INDEFECTÍVEL FORD FALCON, O "OPALA" PORTENHO...
Consequência deste esforço, registra na América do Sul o maior leque de marcas e iniciativas locais distante das grandes montadoras. O esforço preservacionista salva e apresenta referências como o surpreendente projeto e construção de motores – o belo V8 refrigerado a ar, equipando o primeiro Justicialista – crendo-se ser o primeiro em fibra de vidro no Continente - é o melhor exemplo.


AUTO UNION FISSORE
Vi, a base da Expo Auto Argentino está no tesão desabrido de dois historiadores práticos, Gustavo Feder e José Luiz Murgo. Tocavam blogs de nascimento, ação e objetivos simultâneos, o Coche Argentino e Auto Historia e certo dia somaram vontades, arquivos, projetos e agiram, criando o www.autohistoria.com.ar. Desdobramento interessante, é rico em informações sobre história e dados precisos para restauração, preparam publicações, estruturam um livro no tema, e dão aulas em cursos especiais sobre indústria automobilística argentina. Os antigomobilistas de lá querem conhecer o caminho por onde caminham.


CITROËN 2CV
Expo Auto Argentino
Não vi, mas sei por experiência própria, a dupla e seu entorno de entusiastas enfrentaram problemas conhecidos no Brasil: a visão dos colecionadores – ou falta dela – em insistir construir altares para os produtos importados, deixando os nacionais fora da festa. Aqui a situação começou a se reverter no final dos anos´80 quando, então presidente da  Federação Brasileira de Veículos Antigos, assumindo poder normativo, tive a coragem de sugerir uma categoria e premiar os nacionais. Antigomobilista fosse, Nelson Rodrigues teria aplicado à medida o carimbo de óbvio ululante. Mas foi ato de coragem, pois a verdade da época dava importância aos importados, barrava os nacionais no baile.


IAME RASTR4OJERO
Colegas argentinos, com a base acadêmica que os lastreava, resolveram implantar o conceito junto aos colecionadores de lá. Uma ajuda importante saiu do Rotary Club de Francisco Alvarez, cidade a 40 km de Buenos Aires. Seu condutor, o incansável Alberto Rosso, aderiu para divulgar, facilitar, envolver-se, tomando providências, chamando seus colegas do internacional clube de serviços para colaborar com a festa, uma novidade em suas ações de fazer doações de cadeiras de rodas, material escolar. Cedeu a área, um campo para hipismo, cobrando 10 pesos – R$ 5 – de entrada, destinando a arrecadação aos fins sociais onde se aplica.


GRINGO
Sei de largo tempo, desde que o então Veteran Car Club de S Paulo realizava Concours d´Elegance nas hípicas paulistanas, que festas antigomobilisticas em campos hípicos são agradáveis, e a ilação entre alguns belos eqüinos pastando em área adjacente e os incontáveis cavalos de força estacionados, exibindo suas cores e brilhos, potencializa o negócio. Vi, ali, com portaria informal, lista prévia de inscritos, vagas de estacionamento pré definidas, passaram 243 veículos e, projeta-se, 20 mil pessoas. 
FORD TAUNUS: PODÍAMOS TER TIDO AQUI...


A festa vem num crescendo em divulgação, expositores, feira de peças, barracas de alimentação, patrocínios e, mais importante, a consciência do orgulho nacional por participar da história. Também vi e tive oportunidade de ser cumprimentado por autoridades locais deram o ar da presença, como o governador geral do Rotary Oscar Feliú, Mariano West alcaide – prefeito – da cidade, e o deputado federal Eduardo Amadeo que prepara projeto de lei para resolver a questão dos veículos de coleção na Argentina onde, ao contrário da boa e clara legislação brasileira, não são excluídos das inspeções de segurança, mantendo seus proprietários sob a constante pressão de alguma legislação que cerceie seu direito de circular, condenando-os ao não licenciamento e à sucata.


CHEVROLET NOVA
Vale a pena
Antigomobilistas brasileiros invadem Buenos Aires especialmente em outubro para ver a Autoclasica, maior e mais rica das exposições de veículos antigos na América do Sul. Porém, nesta terceira edição do Auto Argentino, havia apenas um na Expo Auto Argentino: eu, Roberto Nasser, convidado como Curador do Museu Nacional do Automóvel, e tratado como Autoridade Brasileira apta a trocar experiências e visões do objetivo comum. Como aqui se sabe, o Museu é voltado aos veículos brasileiros e tem vivência no festejar os nacionais, realizando, há 10 anos, o Carro do Brasil, exposição a eles exclusiva, com know how capaz de auxiliar iniciativas assemelhadas.


CHRYSLER VALIANT
Vi, a Expo Auto Argentino é novidade para brasileiros. A olhos sem vivência histórica, quase todos os veículos são surpresas, apesar das décadas de trabalho para pavimentar a indústria automobilística na Argentina. Mesmo a quem acompanha a coragem criativa dos países querendo abrir o caminho da motorização, há veículos e histórias para ser conhecidas na Argentina.
Vi os 21 clubes participantes afinaram a qualidade de seus representantes, dentre muitos a base da indústria argentina do pós-guerra. Vi, respeitoso, o Rastrojero, rústico picape com projeto e construção da estatal aeronáutica IAME, nascido com motor de trator, e logo motivador da instalação da alemã Borgward para fornecer-lhe motores diesel. 


DODGE GTX
Vi o primeiro Justicialista, com seu pioneiro motor próprio, de projeto e construção argentinos, e os modelos subseqüentes com motor de gerador Porsche. E vi SIAM Di Tella com base inglesa; picapes Gringo – uma variação criada pela IES, a fabricante do Citroën 2 e depois 3 CV; toda a renca de Chevolets, Fords, Chrysler lá montados. Vi a raridade do Face Fissore, modelo especial feito pela italiana Fratelli Fissore para a Automotores Santa Fé, na Argentina montadora dos DKW Auto Union. 


TORINO 380W


Os Fissore desenvolveram carro com seu nome para o mercado brasileiro. O nosso, elegante sedã duas portas. O argentino, cupê esportivo, enfeitando uma reunião de Dê Ká Doble Vê, como lá os chamam. Os sedãs não são idênticos aos nossos, faltando-lhes agregação de design local.
FORD TAUNUS: PODIA TER SIDO FABRICADO AQUI NO LUGAR DO MAVERICK
E vi coisas especiais, como Lotus Seven produzidos by apointment of Colin Chapman, fundador da marca, única autorização extra ilha para sua fabricação, no caso com motor Fiat 1.6, 8v, e criações como esportivos para abrigar a mecânica dos Citroën 2 e 3 CV. Vi raríssimo Andino – incontadas poucas dezenas produzidas -, esportivo com chassi próprio para abrigar entre eixos traseiro motor de Renaults Gordini e R 12 – aqui, o Corcel. Vi com alegria a oportunidade focar alguns Ford Taunus GT, que esta marca ali produziu nos anos ´70. Carro médio, linhas inspiradas num Mustang em escala, motor Ford 2.3 OHC feito em Taubaté; e, brilho para os olhos, IKA Torinos em profusão, incluindo a versão 380W afinada pelo mago de Alta Gracia Oreste Berta. 


FIAT 1500 BERLINA
O Torino tem base de AMC Rambler norte americano, carroceria acertada pelo próprio Pininfarina, mecânica envolvendo muitíssimos interessados, incluindo o penta campeão mundial Juan Manuel Fangio e Berta. Aliás, estes, nove pilotos, uma dezena de mecânicos foram para a então mais destruidora das corridas de resistência em automóveis, as 84 Horas de Nurburgring – quer dizer, 3 e ½ 24 Horas de Le Mans em desafios e dificuldades. Os três carros estavam bem enquanto andaram. Um parou por pane elétrica; outro por acidente; o terceiro liderou, deu o maior número de voltas, mas soltou o escapamento e seu piloto não conseguiu repará-lo, como exigia o regulamento. 


IKA TORINO
O vencedor deu menor número de voltas. Um marco imbatido de coragem. Para lembrar, a IKA era operação do mesmo acionista da Willys-Overland do Brasil e ambas líderes e as mais criativas em suas primeiras duas décadas de vida.
Vi os raros Eniak Antique, linhas de esportivo inglês em chassi próprio e conjunto mecânico de origem inglesa, o Dodge 1500 argentino – base do nosso 1800. Projeto de Pedro Campo, engenheiro de carros de corrida e ultra leves. Cara de carro antigo, performance e prazer de dirigir de produto bem acertado, restrito a exclusivas 103 unidades.


FIAT 1600 COUPÉ VIGNALE
Vi a feira de peças, acessórios, literatura. Animada e com curiosidades como um especialista argentino vendendo peças de VW e Karmann-Ghia, que por lá existiram apenas como importados, e a bem montada barraca de Carlos Quintana, rica em literatura e amostras do melhor estoque de automobilia.
Enfim, uma aula de antigomobilismo. E muita satisfação em ver que a fórmula de fazer encontros específicos aos produtos locais, festejando o nacionalismo, como o pioneiro Carro do Brasil aqui, faz caminho e é copiada. 
Vale a pena ? Si, como no, por supuesto ...


VESPA 400
( o próximo será em março de 2013. O mês referencia e reverencia a criação do IAME, instituto militar que deu base a toda indústria automobilística argentina )

Fato interessante e importante, representantes do Auto Argentino e do Carro do Brasil reuniram-se para implementar um protocolo para estabelecer política de entrosamento e valorização dos veículos produzidos na América do Sul. É pioneiro passo inicial para co-optar os outros países com história e produtos próprios, como o Uruguai, Paraguai, Chile. Envolver governos, os clubes do Rotary, patrocinadores, antigomobilistas.


O STAND DO MUSEU DE BRASILIA
Primeiro passo prático, convergência de ações e iniciar providências para que o veículo considerado como o Melhor no Carro do Brasil possa ser exposto no próximo Auto Argentino e vice versa. A fábrica de automóveis Renault e a Meguiar´s de material de cuidados com automóveis, já se interessaram no patrocínio do desenvolvimento da idéia. 
Esta possibilidade de união para implementar o antigomobilismo no Mercosur foi o melhor que vi !
ENIAK ANTIQUE

Quem ganhou
( uma curiosidade, o julgamento é chamado Concurso de Estado. 
O júri é de colecionadores, indicados pela Federação de 
Antigomobilismo local, e usa os critérios internacionais. 
A pontuação é pelo Estado do veículo exposto, daí o nome, 
e isto quer dizer a proximidade visual entre ele e o original )


(fazer quadro)
Concurso de Estado:
Categoría E: Siam Di Tella 1500 1960
Categoría F: Isard 400 coupé       1961
Categoría G: Citroën AZAM 28     1971

Melhor auto voto de público e Concurso de Estado: Isard 400 coupé 1961
Melhor auto voto dos expositores:                      Citroën 3CV 1973
----------------


Um vídeo:



Nenhum comentário: