Alta Roda nº 677 — Fernando Calmon — 17/4/12
O FUTURO EM JOGO
Vários aspectos do novo regime de produção para a indústria automobilística, que começa em 2013 e vai até 2017, ainda estão em profundas análises por quem já produz ou pretende produzir aqui. O que esperar do futuro? Para o consumidor importa saber se comprará carros mais baratos, atualizados e econômicos.
Torna-se necessário diferenciar preço nominal (nas tabelas sugeridas) e preço real, que considera a inflação. Apesar de aceitar a matemática na discussão ser incomum, de fato, nos últimos cinco anos praticamente todos os automóveis baixaram de preço em termos reais, ou seja, subiram menos que a inflação. Sem falar do acréscimo de equipamentos sem reajuste de preço ou com reajuste parcial, forma disfarçada de descontos. Se a nova política de atrair investimentos alcançar pleno sucesso, cinco ou seis novos fabricantes produzirão no Brasil e a oferta de modelos será ainda maior que hoje. Caminho certo para compras mais acessíveis, considerado ainda o maior poder aquisitivo nos próximos anos.
Haverá também estímulos, em forma de crédito de até dois pontos percentuais no IPI, para as empresas que comprovarem investir um percentual do faturamento (excluídos impostos) em pesquisa, inovação e engenharia locais. A intenção é incentivar tecnologias mais modernas e próximas ao que existe hoje no exterior. A forma de se atestar continua meio obscura, porém o governo pretende delegar essa responsabilidade a certificadoras independentes. Exemplo: freio ABS será obrigatório, mas adoção de controle de trajetória/estabilidade (ESC, em inglês), que se associa ao ABS, fará jus ao desconto? Modelos híbridos estarão incluídos? Ponto positivo é o incentivo empresa a empresa, caso a caso, a fim de estimular a concorrência.
Muito ruim para o consumidor foi o governo permitir os fabricantes escolherem três, entre quatro requisitos, para se habilitar ao novo desenho industrial: pesquisa/inovação; engenharia/tecnologia industrial; etapas fabris/aumento de conteúdo local; e adesão ao programa de etiquetagem de consumo de combustível. Em outros termos, a informação primordial da eficiência do veículo continua facultativa, em vez de obrigatória. Os que optarem pelas etiquetas terão, agora, até cinco anos para incluir todos os modelos de sua produção e não somente alguns, como hoje. A chamada Nota Verde, do Ibama, ficou de fora, pois rendimento energético (controle de CO2) é mais relevante.
A mudança na aplicação de conteúdo local obrigará as fábricas a importar menos componentes com dólar barato e se esforçar em comprar autopeças para gerar empregos aqui e não no exterior. Adotou-se um modo complexo de cálculos, sem índice fixo, como ocorria antes e de forma, digamos, amigável. No entanto, induzirá o aumento desse índice, o que não agradou a todos, claro.
Importadores que decidirem produzir no Brasil terão normas flexíveis de nacionalização. Poderão, ainda, ter desconto no acréscimo do IPI nos modelos que trazem do exterior, limitado a 50% do volume que fabricarão aqui. Tudo só será concedido depois do início da produção, para evitar falcatruas como a da Asia Motors, no final dos anos 1990, que importou sem impostos em troca de construir fábrica na Bahia e nunca saiu do papel.
RODA VIVA
IMPORTADORES que já têm planos anunciados de fábricas no Brasil – Chery, JAC, Suzuki, entre outros – tentarão acelerar os projetos. Quanto mais cedo começarem a produzir, mais cedo receberão de volta créditos de IPI sobre os modelos vindos do exterior no momento. Entretanto, as dificuldades são grandes porque há vários obstáculos que não existem na China ou Japão.
PARA a BMW o novo regime da indústria automobilística exige outras avaliações de médio e longo prazos. A marca alemã não deseja abrir mão de ter fabricação local. Legislação faz algumas exigências que impactam os custos e o volume dos investimentos. Movimentos de concorrentes diretos, como Mercedes-Benz e Audi, também entram nessas conjeturas.
ENQUANTO Anfavea mantém inalteradas suas previsões sobre crescimento de 4% a 5% do mercado interno em 2012, os menos otimistas acham que as vendas estacionam este ano, se os bancos continuarem seletivos demais e assustados com a inadimplência. Também se deve considerar que o primeiro semestre de 2011 foi muito bom e distorce as comparações.
MAHINDRA pretende fazer produto mais adaptado ao Brasil, quando decidir anunciar seu investimento em unidade industrial no Rio Grande do Sul. Além de reformulação estilística, em relação ao existente na Índia, já sabe que o brasileiro gosta de modelos robustos, mas não abre mão de conforto de marcha. Nisso, nossa engenharia de suspensões dá bailes.
NOVA resina para reparos de trincas em para-brisas começa a ser aplicada nas lojas brasileiras da Carglass. Desenvolvida na Inglaterra, objetivo é aumentar a durabilidade do conserto. Ao mesmo tempo, melhora o acabamento final, diminuindo a tendência, com o passar do tempo, de amarelecimento da resina no local do impacto.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
4 comentários:
A credibilidade de alguns jornalistas "especializados" está cada vez mais proxima de alguns politicos profissionais,com a frase"nos últimos cinco anos praticamente todos os automóveis baixaram de preço em termos reais, ou seja, subiram menos que a inflação."fico a imaginar aonde ele comprou a calculadora dele exemplo pratico fiat idea 2007 ar+dir =32mil,veiculo similar hoje sai ´por 50mil nesses 5 anos a inflação no periodo foi de + de 30%? ? ? ? ? ? ?? ?
O Calmon já foi cooptado, infelizmente.
Não sei os preços praticados à época, só que comprou carro zero em 2007 é que sabe. Mas olhando uma matéria de 2007 no Bestcars, o preço sugerido do Palio 1.8R era 41.850 na versão de 4 portas. Praticamente o mesmo preço do Palio sporting atual, remodelado, com airbags e abs de série. Nesse exemplo tenho que concordar com o Calmon.
Idea na matéria de lançamento, em 2005, 44.980 o HLX. Hoje o Essence 1.6 com bolsas e ABS custa 48.540, 7 anos depois e mais equipado. Carro aqui ainda é muito caro, mas que melhorou um pouco, melhorou.
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