Alta Roda nº 774 — Fernando Calmon — 4/3/14
ATAQUEM
AS MAZELAS
Uma pena o sistema tributário brasileiro
esconder o peso dos impostos sobre veículos. Existe, aliás, uma nova lei (adiada)
que obriga a discriminação na nota fiscal, mas há dois problemas. Primeiro, o
cipoal de impostos, taxas e contribuições ao longo da cadeia produtiva leva a
um cálculo impreciso. Segundo, as tabelas deveriam ter dois preços, com e sem
impostos, como informação fundamental ao consumidor.
É bom relembrar a diferença entre participação
de impostos em mercadorias ou serviços e carga tributária. Esta equivale a dividir
o preço com imposto pelo preço sem imposto. À medida que as alíquotas sobem a
oneração torna-se exponencial; não se trata de cálculo linear. Se uma
mercadoria custa 94 (sem imposto) e 100 (com imposto), por hipótese, a divisão resulta
em 1,064 cuja expressão centesimal é 6,4%.
No Brasil, a soma nominal média das
alíquotas de impostos sobre automóveis é de cerca de 30 pontos percentuais.
Então a carga tributária, que todos sentem no bolso, fica bem salgada: 100 (com
imposto) divido por 70 (sem imposto) dão 1,43 ou 43% (arredondado). A verdade
nua e crua é que um automóvel vendido por R$ 30.000 custaria em torno de R$
21.000, sem impostos, ou R$ 22.300 com carga tributária aproximadamente igual à
dos EUA, por exemplo.
Se esse modelo tivesse motor com mais de 2
litros/gasolina, a “mordida” subiria para 54%. Em carros importados, fora da
cota anual de IPI majorado e com impostos em cascata, vai além de 100%.
Conforme essa coluna comentou de outras
vezes, se discutir preços no Brasil já é complicado pela matemática frívola de aloprados
de plantão, comparar com o exterior torna-se pior pela variação de valor das
moedas. Já nem surpreende o sindicalista João Cayres, em audiência pública de
uma comissão do Senado Federal semana passada, afirmar que “só no Brasil um
Camaro custa mais que um Mercedes”. Esqueceu-se de conferir que o modelo específico
exportado para cá tem tabela 20% superior nos EUA e no mundo inteiro.
Na mesma comissão distribuiu-se lista
comparativa de modelos vendidos nos EUA e aqui, sem considerar diferenças de
versões, frete local e... impostos! Entretanto, ninguém pensou em cotejar
preços de varejo com a Europa, onde existe afinidade entre produtos e versões do
mercado brasileiro. Por uma “mágica” chamada valorização do euro frente ao real,
a maioria dos modelos vendidos no Brasil já têm o mesmo preço nominal ou são
mais baratos, mesmo sem considerar a diferença de impostos.
Nem adianta se
aprofundar nas diferentes estratégias tributárias dos países, como taxar mais o
consumo ou a renda. Muita gente já tem cabeça feita, não gosta de fazer contas,
faz comparações “incomparáveis” (inclusive com o México) e desconsidera
variações cambiais que levam a sérias distorções para o mal e para o bem (ora o
carro fica mais caro, ora mais barato). O Brasil, sim, tem problemas graves de
custos de produção, infraestrutura, tributação, ineficiência, produtividade e,
o principal, de educação formal e especializada.
Difícil aceitar perder tempo com discussões
inócuas e de foco errado nas comissões legislativas em Brasília. Costuma descambar
para viés ideológico, em vez de atacar de frente nossas próprias mazelas.
RODA VIVA
PROPOSTA de substituir o imposto sobre propriedade de veículos automotores
(IPVA) por outro sobre circulação, a exemplo do exterior, levaria a uma
renovação natural da frota. Benéfica ao meio ambiente e diminuiria panes que
tanto atrapalham o trânsito. Alíquota, porém, precisaria ser menor que a de
hoje. Sem contar possíveis votos perdidos dos “prejudicados”.
HONDA traça planos audaciosos e ainda não anunciados em pesquisa e
desenvolvimento no País. Às novas instalações de Sumaré (SP), se agregarão
infraestrutura para colisões contra barreira e até túnel de vento, além de campo
de provas. Parte dessas iniciativas é reservada à fábrica vizinha de Itirapina,
em construção. Além do SUV pequeno, um compacto está na mira.
EXISTEM coisas impressionantes no Golf GTI, além do motor turbo de 2 litros/220
cv, estabilidade em curvas e direção que parece entender o pensamento. Entre os
modos esporte e de economia escolhidos por toque na tela a diferença de consumo
em estrada pode superar 20%. Segredo: ao levantar o pé do acelerador o motor
vai para marcha-lenta.
EUROPEUS, finalmente, decidiram mudar seus ciclos de medição de consumo e
aderir à projetada unificação mundial desse critério. Também confirmaram a meta
de 95 g/km de CO2 em 2020. Porém, haverá mais três anos para que
carros de baixo consumo/emissão recebam bônus e aliviem a forma de cálculo da
frota média de cada fabricante.
DELPHI confirmou que no final do ano um fabricante europeu adotará seu
sistema de gel acumulador de frio no ar-condicionado. Sem esse recurso, o start-stop (desliga-liga o motor
automaticamente em paradas) traria desconforto em países de clima quente, como
o nosso, ou reduziria pouco o consumo.
____________________________________________________
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário