Alta Roda nº 773 — Fernando Calmon — 25/2/14
CONSUMO
É COISA SÉRIA
Depois de anos sem grandes preocupações em
investir em economia de combustível, a indústria terá que acelerar bastante o
passo para atingir metas – obrigatória e voluntárias incentivadas – do programa
Inovar-Auto. Mesmo o objetivo compulsório de diminuir o consumo (ganho de 12% em
eficiência energética) até 2017 não parece tão fácil porque refletirá a média
da frota de modelos vendidos por cada fabricante. A Fiat que está em processo
de fusão com a Chrysler, por exemplo, tem modelos como Jeep que são pesados e
empurram a média para cima.
Em parte, essa negligência se deu porque o
combustível ficou mais barato em termos reais (descontada a inflação). Quando o
governo se deu conta de que os gastos com importação de gasolina estavam em
curva cada vez mais ascendente, resolveu intervir. E estimulou um esforço até
2020 para atingir uma redução adicional: 15,4% e 18,8% com corte temporário de 1%
e 2% de IPI, respectivamente. Caso todos os fabricantes encarem o desafio máximo,
se conseguirá economia bem além de 12 bilhões de litros de gasolina, em sete
anos.
Vários obstáculos precisam ser removidos,
conforme se discutiu no Seminário de Eficiência Energética, da Autodata. Antônio
Megale, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (que
completa 30 anos de existência), lembrou que avanços em eficiência dependem
também de melhora na infraestrutura viária e de controle eletrônico do tráfego
(semáforos inteligentes). O estado de ruas e estradas implica aumento do vão
livre dos carros e a consequente piora do coeficiente aerodinâmico. Seguir as
dicas de economia de combustível em computadores de bordo exigirá adesão maior
dos motoristas.
Fabricantes de pneus admitiram que todos os
carros novos, até 2016, terão tecnologia de menor resistência ao rolamento.
Podem custar até 10% mais, contudo se pagam rapidamente ao economizar combustível.
De novo, buraqueira e lombadas atrapalham. Há limitações, por isso, em
compostos de borracha e dificuldade de generalizar o uso de estepes temporários
– 10 kg a menos na massa de um modelo compacto com reflexos no consumo – pela
incidência alta de furos e danos nos pneus.
Margarete Gandini, do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, acenou sobre inclusão de bônus técnicos
nos ciclos de consumo em laboratório, indicados no programa de etiquetagem. Normas
brasileiras são mais rígidas que europeias, estas muito vistosas, porém longe
da realidade. Função desliga-liga o motor, por exemplo, reflete-se no ciclo
europeu e aqui, não. Compressores de ar-condicionado de geometria variável
poupam combustível, mas sua vantagem desaparece na captação de dados. Monitor
de pressão de pneus igualmente atua nos números potenciais de consumo, sem receber
nenhum bônus.
Apesar de admitir que, pela experiência no
exterior, programas mandatórios funcionam melhor que os voluntários, o governo
escalonou até 2017 a adoção de etiquetas de consumo. Trata-se de decisão
contraditória e agravada pela falta de fiscalização. Basta ir aos salões das
concessionárias: relativamente raro ver etiquetas e muito menos alguém disposto
a esclarecer dúvidas dos consumidores.
RODA VIVA
DOIS lançamentos de peso estão na programação da VW este ano: a
reestilização do Fox (inclusive versão CrossFox) e a picape Saveiro cabine
dupla (permanecerá apenas com duas portas; duas a mais sairia muito caro).
Previsão para primeiro e segundo semestre, respectivamente. Produção do up!
2-portas já começou e vendas, fim de março. Em seguida, câmbio automatizado.
FAMÍLIA Peugeot agora partilha controle da PSA Peugeot Citroën com chinesa
Dongfeng e governo francês. Atuação de famílias no setor, entretanto, ainda
continua bem forte. Em alguns casos, executivos do clã estão no comando direto
mesmo em empresas de capital aberto. Entre outras BMW, Fiat, Ford, Hyundai, Suzuki,
Toyota e VW (duas famílias, Porsche e Piëch).
OUTRA combinação preciosa de motor turbo (1,6 L/165 cv, mais potente que versão
europeia) e hatch médio-compacto: Peugeot 308 não merece menos que isso. Atmosfera
interna do carro é bem atraente. Suspensões, freios, direção e câmbio
automático de seis marchas formam conjunto muito equilibrado. Só as portas, ao
bater, deveriam ter sonoridade encorpada.
COSTUMA se dizer que “apenas” em quatro Estados o etanol tem preço
competitivo em relação à gasolina, na maior parte do ano. São eles São Paulo,
Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul. Há um pormenor esquecido: interessa saber a
frota que pode usufruir. No caso, representam quase 50% (47%, em 2013) do total
de veículos em circulação no País. Muda de figura.
CONDIÇÕES de concorrência levaram os bancos controlados pelos fabricantes a
manter a taxa de juros quase estável (subiu de 1,25% para 1,27% ao mês), de
2012 para 2013. Isso apesar da disparada da taxa básica de juros (Selic). Mesmo
comportamento no varejo: de 1,52% para 1,62% ao mês. Cenário deve se repetir em
2014.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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