Primeira Lambretta Standard |
No final da Segunda Guerra Mundial a Itália estava mal... a base industrial estava demolida, as fábricas em ruínas e o transporte público, em pandarecos. Foi aí que Ferdinando Innocenti percebeu que sua fábrica de tubos de aço podia fazer uns trocados a mais fabricando um veículo simples, prático e pouco gastador para dar mobilidade ao povo, que precisava muito de algo assim. Foi esse o caldo de cultura da Lambretta, uma motoneta ou como se diz agora, um scooter ao alcance do povo. Em 1947 foi elaborado o primeiro projeto mas o engenheiro autor o desenvolveu sobre elementos estampados de chapa, quando a especialidade da Innocenti eram tubos.
Segunda versão da Standard, a 150 d |
Recusado, esse projeto deu origem à Vespa, que saiu no mercado um ano antes da Lambretta. O primeiro modelo era bem simples, mas tinha um ar assim de moto com um quadro tubular que unia um motor de 125 cm³ de dois tempos e 4 cv, o suficiente para andar a 85 km/h e levar duas pessoas. Sua transmissão secundária era por cardã e o elemento elástico da suspensào traseira era uma barra de torção.
O detalhe era ser construída como uma bicicleta feminina, sem barra central para que as moças pudessem usá-la de saia sem ofender a modéstia católica da época, em que moças não usavam calças... compridas.
O detalhe era ser construída como uma bicicleta feminina, sem barra central para que as moças pudessem usá-la de saia sem ofender a modéstia católica da época, em que moças não usavam calças... compridas.
A versão de luxo 150 li, mais moderna |
O cambio era de três marchas comandado por um sistema de cabos totalmente sem sensibilidade a partir da manopla esquerda, que girava com a manete da embreagem em um movimento meio duro e impreciso... Andei algumas vezes nela e odiei o câmbio, mas na época isso era passável. O fato é que a Lambretta sempre teve mais rigidez torsional que a Vespa e fazia mais curvas... O quadro era tubular, enquanto a Vespa era monbloco.
A versão fechada original, 150 ld |
O Brasil dos anos 50 era bem semelhante, pouco transporte individual e havia a intenção do Governo de substituir as importações. O que havia de moto por aqui eram muitas inglesas e européias de todos os tamanhos que já estavam começando a ficar velhas, principalmente com a reconhecida “qualidade” das britânicas. Foi nesse ambiente que a Lambretta chegou ao Brasil em 1955 e começou a fabricar as motonetas em dois modelos: uma LD com as carenagens de proteção que serviam para evitar o vento e a chuva e outra L bem mais simples e barata, porém bem mais leve, 75 contra 115 kg, sem as carenagens.
A Lambretta atual |
Nesses tempos a moda era ter veiculo nacional, mais moderno, leve e gastador que os elefantes americanos dos quais alguns de nós ainda gostam. Assim foi com a Lambretta: virou um símbolo de rebeldia e inconformismo, uma espécie de revolução hippie precoce em duas rodas. A moda era ter Lambretta, principalmente o modelo mais simples e veloz. Formaram se gangues de lambretistas com as encrencas esperadas, houve um crime famoso, o caso Aída Curi, e a fama se espalhou: ter uma Lambretta era o máximo do que se chama hoje de “cool”...
A Xispa da Brumana |
Como não podia deixar de ser, começaram as corridas na rua e circuitos organizados como na Quinta da Boa Vista no Rio, onde pontificava o imortal Luigi Ciai, vindo da Itália para correr e “envenenar” os pequenos motores com grande sucesso, basta dizer que era possível triplicar a potência dos monocilíndricos dois-tempos e obter mais de 12 cv, com resultados previsíveis de velocidade, chegando a 140 km/h com as suspensões rudimentares de uso utilitário... Isso durou até por volta de 1970, quando as japonesas já estavam solidamente no mercado com suas motos de verdade e a coisa melou... Ainda houve uma tentativa de usar a mecânica em uma cruza de elefante com violoncelo chamada Xispa que não deu certo e a Lambretta passou ao passado.
Texto publicado na contracultura da Revista Moto!
Um comentário:
Boa noite.
Mahar.
Tive a oportunidade de andar em uma lambreta nova LI,quando trabalhava na Plenolar Fuganti em Arapongas.Retiramos ela da caixa.Fomos ao Detran e pedimos autorização para andar.Só nos perguntaram se sabia -mos andar.Disse-mos que sim e recebemos autorização.Tinhamos 14 anos.Era uma maravilha andava-mos a cidade toda dando assistência técnica em fogão e televisores.Reinaldo Soares de Souza Arapongas Norte do Paraná.
Postar um comentário