Alta Roda nº 837 — Fernando Calmon — 19/5/15
PREJUÍZO
BRASIL
Deu para notar que, de repente, não se
comparam mais preços dos carros no Brasil com os de outros mercados, em
especial dos EUA? Na maioria das vezes versões diferentes em equipamentos e motorização
dificultavam as avaliações, fora frete e impostos lá cobrados à parte. Esta Coluna
sempre citou variações cambiais como causa de aberrações para cima e para
baixo.
Só há uma certeza: automóvel aqui paga
impostos altamente abusivos. A carga fiscal real – diferença entre o custo do veículo
e por quanto ele sai da loja após todos os impostos e frete embutidos – é a
maior do mundo com exceção da Dinamarca, mercado pequeno e diferente do resto
da Europa. Mas essa “primazia” começamos a perder até para a Argentina.
Sim, o nosso vizinho criou imposto extra
para carros considerados “de luxo”, com preço de tabela acima do equivalente a
cerca de R$ 70.000. Corolla vendido na Argentina é idêntico ao brasileiro. O
preço lá começa em R$ 81.000 e vai a R$ 138.000 (no Brasil, de R$ 70.000 a R$
100.000). Poucos reverberaram essa distorção combinada de taxa de câmbio e
voracidade tributária.
No dia 19 de março último o dólar (câmbio
oficial) bateu R$ 3,30. Vamos tomar como exemplo o Cruze sedã americano, modelo
igual ao produzido em São Caetano do Sul (SP). Versão de entrada LS tem
inclusive o mesmo motor, mas é pouco equipado por disputar compradores de menor
poder aquisitivo. Sem frete o modelo custava, naquela data, quase US$ 20.000,
ou R$ 66.000. Aqui o mesmo carro, na versão LT, parte de R$ 74.000, mas menos
equipado o preço ficaria quase igual, apesar da abismal diferença de impostos
entre os dois países (8% contra 55%). Já uma S10 LTZ Flex cabine dupla 4x2 saía
aqui por R$ 98.000 e lá a versão equivalente por R$ 102.000, pois no Brasil picapes
são um pouco menos tributadas que automóveis.
Segundo a agência Fitch, a cotação do dólar
deveria estar em R$ 3,75 só para compensar a diferença inflacionária da última
década, sem considerar o chamado custo Brasil. Aí, então, as comparações seriam
aberrantes ao extremo. Teríamos ao mesmo tempo os veículos mais taxados e entre
os mais baratos do mundo.
Também se criou, antes da escalada do
dólar, a fantasia chamada “lucro Brasil” que impregnou até redes sociais.
Obviamente, pelo mercado de veículos ter dobrado em 10 anos, os fabricantes
ganharam muito dinheiro no período 2005-2013. Lucro operacional – diferença entre
preço de custo e de venda – ficou mesmo acima da média mundial, mas isso não
explica preços altos como alguns aloprados teorizavam. Afinal, com a cotação do
dólar a R$ 1,70 em 2010 a distorção comparativa era enorme e incentivou remessas
de lucros para socorrer empresas matrizes na crise financeira das grandes
economias.
Sem dúvida o País perdeu competitividade industrial
por razões mais do que sabidas. E só a desvalorização cambial não resolverá
tudo, inclusive a baixa produtividade geral. Agora, chegou a era do “prejuízo
Brasil”. Segundo o Banco Central, em março passado nenhum centavo foi remetido
ao exterior pela cadeia de produção automobilística. E com queda de produção e
ociosidade crescente os preços subirão acima da inflação pela primeira vez nos
últimos anos. Preparem-se.
RODA VIVA
ESTE tem sido ano excepcional de lançamentos concentrados. Apenas
coincidência, pois projetos sofrem atrasos em diferentes fases e são difíceis
de recuperar. Informantes garantem início de produção do Golf nacional em julho
próximo em São José dos Pinhais (PR) e da picape média da Fiat em Goiana (PE)
em setembro. Vendas até 60 dias depois.
POUCO se sabe ainda sobre Ford GT. Supercarro esporte terá chassi de
alumínio e compósito de fibra de carbono. Interior (ainda não exibido) sem
alavancas de limpador e setas. Motor V-6 biturbo de 3,5 litros e mais de 600 cv.
Produção de 250 unidades/ano e preço superior a US$ 300 mil. Será feito em
Ontario, Canadá pela Multimatic. Pronto só em 2016, ao se completarem 50 anos
das três primeiras posições do GT 40 original na “24 Horas de Le Mans”.
BMW 428i Grand Coupé reúne elegância ímpar de um sedã-cupê de quatro
portas ao tamanho racional e desempenho alto. Tudo na medida certa e com muito
poucos carros a desafiá-lo no quesito preço-benefício. Janelas sem molduras
metálicas conferem toque adicional de esportividade. Mas o teto baixo exige
atenção a quem entra no banco traseiro.
EXISTE como resolver as 240.000 cotas de consórcios contempladas e não
transformadas em vendas. Bastaria voltar às origens: consorciado tinha 90 dias
para comprar exclusivamente um carro. Nada de carta de crédito livre para gastar
como quiser. Isso mudou na época em que havia ágio para aliviar pressão de
demanda.
ADIAMENTO de decisões já não surpreende. Contran postergou por um ano as placas veiculares
padronizadas do Mercosul para 1º de janeiro de 2017 e não de 2016. Discute-se controle
de produção e distribuição. Ou seja, o básico. Então não se deveria marcar data
apertada.
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fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmon
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