Alta Roda nº 799 — Fernando Calmon — 26/8/14
DIREITO
DE ESCOLHA
Dois lançamentos no mesmo dia, do mesmo
fabricante, é incomum, mas em mercado recessivo e de muita concorrência pode
ocorrer, como aconteceu com o hatch de teto alto Fox 2015 e a cabine dupla da picape
compacta Saveiro (esta, na realidade, só chega às lojas em três semanas).
Comparar preços continua sendo missão
difícil porque os carros vão ficando mais completos e caros, porém o que é
acrescentado, em geral, tem repasse inferior ao custo real em razão da forte
competição. O Fox com motor de 1 litro agora parte de R$ 35.900 (modelo 2014
custa apenas cerca de R$ 500 a menos, ar-condicionado também opcional), mas
recebeu, além de uma atualização externa e interna inspirada no Golf, novos
equipamentos como direção eletroassistida com volante regulável em altura e
distância.
A estratégia da VW reposicionou o modelo
para cima em razão do fim de produção do Polo, antes do final do ano. Explica
recursos antes indisponíveis, entre eles controle eletrônico de estabilidade/tração/partida
em rampa, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, sistema de navegação
com tela tátil e inédito farol de neblina com luz de conversão. Oferece, ainda,
o novo motor 1.6 l/120 cv (etanol), de duplo comando multiválvulas, e câmbio de
seis marchas, conjunto realmente bastante superior ao atual (ainda aplicado nas
versões mais acessíveis). Em viagem de avaliação impressionou pela suavidade,
respostas em baixos regimes e silêncio a bordo.
Com todos os opcionais possíveis um Fox supera
os R$ 63.000. E daí? Representará apenas 1% ou 2% das vendas, se tanto, da
mesma forma que bem poucos vão comprá-lo sem ar-condicionado. Antes havia um
intervalo de no máximo 50% entre os preços das versões de entrada e de topo, na
maioria dos modelos. Agora, pode ir além de 70%, o que indica direito de livre escolha
do mercado.
Na briga entre cabines duplas Saveiro
versus Strada, a comparação é mais complicada. Acrescentar a terceira porta
teve custo elevado para a Fiat, cuja versão de topo passa dos R$ 70.000, preço superior
ao de picapes médias. Saveiro começa em R$ 47.500 e a versão Cross vai a R$
63.000 (34% de diferença). Enquanto a Fiat pode ter motor mais potente (1,8 l/132
cv), a picape da VW é superior no uso fora de estrada, inclusive com freio ABS
específico e controles de tração/partida em rampa/estabilidade. Seu bloqueio
eletrônico do diferencial é muito mais eficaz nessas condições do que o sistema
eletromecânico da rival, que obriga o motorista a parar e apertar um botão,
além de inoperante acima de 20 km/h.
Apesar de a Strada ser mais larga
externamente graças aos penduricalhos, ela é oito cm mais estreita no banco
traseiro e foi homologada para apenas dois passageiros atrás. A Saveiro pode
levar três, desde que sejam crianças ou pessoas de baixa estatura e não
robustas. Tem pequena vantagem no espaço para joelhos e na inclinação do
encosto do banco traseiro. Apesar de suas portas dianteiras maiores, é
incomparável a facilidade de acesso da rival. A picape da VW peca por nem ao
menos dispor de um conjunto corrediço nos bancos dianteiros. As caçambas de
ambas apresentam o mesmo volume de 580 litros, mas o estepe da Saveiro é
embutido.
Plano de manutenção da VW, a cada seis
meses apenas, deixa seus produtos em desvantagem financeira frente aos
concorrentes.
RODA VIVA
FORD pretende ampliar a faixa de atuação do Ka, antes mesmo da GM
definir sua nova família de modelos de entrada. Há espaço abaixo de R$ 35.000 e
acima de R$ 45.000. No segundo caso com o motor de 1,6 l/130 cv do Fiesta ou de
1 litro/3 cilindros com turbo e injeção direta (EcoBoost), numa versão
esportiva.
PAÍSES da América do Sul, fora do Mercosul, estão nos planos para aumentar
as exportações brasileiras de veículos, hoje dependentes da Argentina. Exige acordos
entre governos a fim de diminuir tarifas de importação. Para funcionar, o
Brasil teria que importar mais rosas colombianas e bananas equatorianas, por
exemplo.
SANDERO subiu alguns degraus em dirigibilidade, acabamento e estilo nessa
nova geração. Por seu preço muito competitivo ainda deve em maciez de direção e
comando do câmbio, mas espaço interno é referência no segmento. Motor de 1
litro/80 cv, pouco para seu porte, é econômico. O de 1,6 litro/106 cv demonstra
melhor equilíbrio desempenho/consumo.
PEUGEOT 208 foi bem no teste de
impacto frontal do Latin NCAP: quatro estrelas. Estruturalmente é igual ao
modelo homônimo francês, mas o modo de pontuação continua discutível e baseado
em premissas irreais para mercados de menor poder aquisitivo. Serve apenas como
referência comparativa, pois Onix e Palio alcançaram três estrelas.
NESSA quinta fase de testes, a Latin NCAP divulgou relatório menos
arrogante e adotou um tom professoral que soa falso. Em aferição de segurança
infantil os critérios são ainda mais jogo para plateia. Na Europa, após vários
questionamentos, há revisões em curso porque nem lá carros pequenos conseguem
proteção infantil total.
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fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmon
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