Alta Roda nº 796 — Fernando Calmon — 5/8/14
USAR
SEM CULPA
Um debate que mais cedo ou mais tarde acontecerá
no Brasil é a maneira de utilizar, de forma mais racional, as vias de
superfície nas grandes cidades. Ideias surgem no rastro de soluções implantadas
em outras áreas metropolitanas no mundo. Pedágio urbano não é novidade, mas sua
aplicação pode-se reconhecer como bastante restrita. Apenas Cingapura, Londres,
Milão e Estocolmo cobram para que cidadãos motorizados adentrem o centro
histórico. Em geral usa-se o sofisma de taxa de congestionamento. Roma impõe
restrições de acesso, sem cobrança. Outras, como Cidade do México, proíbem
circulação de veículos poluidores, mais antigos.
Há exemplos de pagar para uso em algumas vias
expressas (Santiago) ou túneis (Nova York). O que parece realmente pouco
inteligente é limitar a circulação, sem fins ambientais, por meio de finais de placas,
como acontece em São Paulo. Essa ideia, de tão ruim, se limita à capital
paulista, mas alguns espertos a “venderam” para Bogotá e Caracas.
Existem algumas propostas brasileiras para
disciplinar o tráfego de superfície. Uma vem de Celso Franco, que já dirigiu o
antigo Departamento de Trânsito do Rio de Janeiro. Ele propôs, há mais de cinco
anos, um estímulo indireto para que pessoas partilhem seus carros em caronas. O
pedágio urbano de R$ 50,00/mês isentaria quem se voluntariasse ao transporte
solidário. Mais recentemente a americana Uber lançou um aplicativo, já em 30
países, para que pessoas oferecessem caronas mediante pagamento. Isso despertou
a ira dos taxistas em cidades europeias e também no Rio e São Paulo. Difícil é
banir aplicativos desse tipo.
Outra proposição vem do consultor ambiental
e transporte sustentável Olímpio Álvares que apresentou o conceito do pedágio
urbano inteligente (PUI) para a capital paulista em substituição ao rodízio (bom frisar). A tarifa média seria de R$
7,00/dia ou 50% do que se cobra em Milão, que tem regulamentação complexa e
várias exceções. Sua vantagem: limitar cobrança aos eixos de trânsito
congestionados e apenas se a velocidade da via ficasse abaixo de um limite
regulado. Aplicativos para celulares que traçam rotas alternativas ajudariam a aproveitar
de modo mais racional as vias.
Álvares acredita numa implantação gradativa
do PUI que poderia ser proporcional ao valor do IPVA e consumo/emissões de cada
veículo. Seus cálculos apontam arrecadação para construir, anualmente, 7 km de
metrô ou 100 km de BRT (corredor de ônibus avançado, não a enganação de faixas
do lado direito).
O grande problema de qualquer solução que
envolva mais um imposto disfarçado, como pedágio urbano, é garantir dinheiro
carimbado para o transporte coletivo que realmente funciona: metrô ou
monotrilho. Soluções de superfície apresentam sérias limitações pelo
crescimento desordenado das cidades brasileiras.
Outro ângulo a coluna sempre enfatiza.
Fabricação de veículos responde por 5% do PIB brasileiro e 12% dos impostos
arrecadados, sem contar a derrama que continua ao longo da sua vida. Portanto,
há dinheiro de sobra para mobilidade urbana, não aplicado por má gestão
administrativa e política dos recursos. Ninguém deve se sentir culpado por usar
um carro para ir ao trabalho.
RODA VIVA
GRUPO PSA Peugeot Citroën decidiu importar toda a linha DS da China. Os
carros estarão no Salão do Automóvel de São Paulo, começando pelo DS5 com motor
turbo de 1,8 l/200 cv. Preços serão realmente competitivos. Grupo francês enquadrou
a linha DS como nova submarca, sem ligação à Citroën ou à Peugeot.
PARA quem achava que no Brasil sempre se ganha dinheiro fácil vendendo
automóveis, precisa ver balanços regionais das companhias. Ford perdeu quase
US$ 300 milhões neste segundo trimestre, na América do Sul, onde o País
representa quase 2/3 do faturamento. GM também está no negativo. Fiat já havia
registrado queda de lucro de 80% em 2013 e agora mais 23%.
MINI Cooper S exibe desempenho nem um pouco minúsculo. Nova geração do
modelo inglês tem motor turbo 2 litros/192 cv, mas o torque impressiona muito: 30,6
kgf.m a apenas 1.250 rpm. O interior ganhou espaço atrás e o novo quadro de
instrumentos ficou bem melhor. Suspensão é firme um pouco além da conta (para o
piso brasileiro) mesmo na regulagem suave.
APESAR de problemas em alguns mercados, Grupo VW prevê vender pela
primeira vez mais de 10 milhões de unidades no mundo este ano. A Toyota também
projeta romper essa barreira. Briga pela liderança mundial está acirrada, mas projeções
de analistas apontam tendência de os alemães chegarem ao topo em 2014, quatro
anos antes da meta anunciada.
SINDICATO de servidores federais da área de ciência e tecnologia do setor
aeroespacial apoiou a publicação de um livro sobre a história de
desenvolvimento do motor a álcool no Brasil. De autoria de Fernanda Andrade,
reporta com pormenores e documentos o esforço desde 1975 do professor Urbano
Stumpf e sua equipe do então Centro Técnico Aeroespacial, de São José dos
Campos (SP).
____________________________________________________
fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário