Alta Roda nº 778 — Fernando Calmon — 1/4/14
EXCESSO
DE ZELO
Infelizmente, aspectos políticos sobrepostos
aos técnicos têm atrapalhado, de novo, o debate neutro sobre as emissões de CO2,
aquecimento global e mudanças climáticas. Ninguém desconhece o problema – salvo
alguns poucos cientistas céticos –, mas muitas vezes só se olha um lado da
questão. O recém-divulgado relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas, da ONU, pregou de novo o quase apocalipse, se a temperatura média
de planeta subir 2 graus Celsius até o fim do século. Nenhuma palavra sobre
novas áreas agricultáveis, rotas marítimas mais curtas e outras externalidades
“positivas” do aquecimento global, mesmo sem compensar suas desvantagens.
Outro ponto obscuro: o recente rodízio de
50% dos veículos, em Paris, pelo aumento da concentração de material
particulado ultrafino (MP10, ou seja, 10 milésimos de milímetro de diâmetro).
Teve repercussão no Brasil, mas quando se suspendeu a operação, um dia depois,
a ênfase já não era a mesma. Autoridades parisienses disseram que as condições
meteorológicas mudaram e viabilizaram o fim da restrição. De fato pode ter
ocorrido, mas dúvidas persistem:
·
Faltava uma semana para a
eleição do novo prefeito da cidade. Será que houve excesso de zelo e a administração
temia perder votos? Lavraram apenas 4.000 multas nesse dia de imensa quebra de
rotina e até desinformação. No dia seguinte, alívio geral...
·
Talvez alguém tenha se
preocupado com quem ia pagar a conta, pois se estabeleceu gratuidade do transporte
público por três dias.
·
Primeira intervenção desse tipo
na capital francesa aconteceu em 1997. Então, se trata de fenômeno
relativamente raro.
·
A nuvem recente de poluição se
estendeu além de sua área metropolitana, afetando regiões e países vizinhos. Nenhum
apelou para essa medida.
·
Emissões de MP10 não vêm apenas
dos escapamentos de automóveis. Há fontes industriais, de climatização e
outras. Motores a diesel, grande maioria na França, emitem bem mais material
particulado, na média da frota circulante de veículos leves.
São mais brandos no Brasil os limites de
alertas de poluição, que obrigariam também a um rodízio ambiental nas cidades
afetadas. O cenário, porém, se diferencia de Paris. Ozônio no nível do solo e
poeira suspensa no ar ocorrem com frequência, em especial em dias ensolarados de
inverno, pouco vento e sem chuva. Incomparáveis, em danos à saúde, às micropartículas
liberadas por motores a diesel que, por enquanto, continuam banidos em
automóveis por aqui.
Apesar de algum exagero nas críticas à qualidade
do ar, jamais podem se negligenciar as condições de rodagem da frota. Afetam
qualquer veículo à medida que envelhece, sem manutenção devida. Por isso,
preocupa o voluntarismo da prefeitura de São Paulo, cidade mais afetada pela
poluição, quanto ao programa de inspeção veicular desmantelado sem muito
compromisso.
Até agora, o assunto parece comprometido
por falta de empenho e dificuldades em colocar várias empresas na inspeção. No
exterior, tentativas semelhantes falharam e se reverteram. Que fique de mau
exemplo para cidades brasileiras. No Rio de Janeiro a inspeção é centralizada,
mas além de muito cara, sofre de padrões sofríveis de qualidade.
RODA VIVA
DOIS anos depois de lançado no Salão de Paris, a quarta geração do Clio
roda disfarçada no Brasil. Segundo a fábrica, só para “testar motores”. Se a
Renault deseja alcançar 8% do mercado brasileiro (hoje, 6%), fica bem difícil
conseguir sem aumentar opções frente a tantos concorrentes. A começar por
rivais franceses atualizados: Peugeot 208 e Citroën C3.
EMBORA restrito, de início, às versões mais caras da linha – Gol Rallye e
Saveiro Cross – o novo motor 1,6 L MSI indica que evolução voltada a consumo e
desempenho se torna regra. Da mesma família EA211 1,0 L, 3-cilindros, do up!,
esse 4-cilindros se destaca pelo bloco de alumínio e a volta do duplo comando
de válvulas. Deverá ser de série no novo Fox, previsto para meados do ano.
VOLKSWAGEN foi conservadora ao limitar a potência a 120 cv (etanol), enquanto
concorrentes de mesma arquitetura oferecem até 130 cv. Talvez tenha
privilegiado consumo de combustível, mas ainda não revelou números oficiais do
padrão Inmetro. Com 15 kg menos de massa e mais 16 cv que o atual EA111, a
diferença de desempenho ficou marcante.
SEGMENTO competitivo e rentável explica porque a Ford recriou a versão Sport
na nova Ranger, cabine simples. Apenas com motor flex de 2,5 litros, 4-cilindos
do Fusion, 173 cv (etanol). Tem preço competitivo de R$ 67.990 e boa posição de
guiar, semelhante à de automóveis. Representará só 5% das vendas totais dessa
picape média.
DESTAQUE na V ExpoAlumínio, em São Paulo, é a estrutura da carroceria totalmente
neste metal da Range Rover Vogue. Novellis é a única fornecedora para a
construção do primeiro SUV com monobloco todo em alumínio (além de partes móveis
como portas e tampas). Resultou na redução de até 420 kg de peso, o que muda muito
em consumo e dinâmica.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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