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lta Roda nº 860 — Fernando Calmon — 27/10/15
PAÍS
DO FUTURO, DE NOVO
Frases como essas não costumam partir de
altos dirigentes da indústria automobilística sobre o cenário desolador atual:
“O Brasil precisa de um plano, como uma empresa. Não temos um plano”; “A crise
está ligada fundamentalmente à questão política, uma doença degenerativa, uma cirrose,
que corrói a economia”; “Brasil precisa de um ajuste ético e político. Enquanto
isso não acontecer, a economia e o mercado automotivo não voltarão a crescer.”
Até parece orquestração, mas não foi. No Congresso
AutoData Perspectivas 2016, semana passada, em São Paulo, parece que todos
reverberaram, ao mesmo tempo, o clima de mal-estar com os rumos de curto e
médio prazo do País desde o final do ano passado. Na realidade, as fabricantes
do setor muitas vezes “apanham” caladas, mostram-se sempre na defensiva, quer
as críticas sejam pertinentes ou impertinentes, justas ou exageradas. Essa nova
postura só agora brotou publicamente, em tom de desabafo mesmo.
A explicação óbvia vem daquela frase
imortal do jornalista Joelmir Beting. Ele dizia que o órgão mais sensível do
ser humano é o bolso. Ninguém ignora que a indústria automobilística ganhou
muito dinheiro com o crescimento quase explosivo das vendas internas entre 2004
e 2013, alimentadas por demanda reprimida (1999 a 2003), crédito fácil e
descontrolado, aumento do poder aquisitivo dos compradores e estímulos fiscais
em momentos difíceis. Geraram-se lucros remetidos às matrizes.
O cenário de hoje, exatamente o oposto,
atacou o bolso. Os prejuízos começaram já no ano passado e no momento as
matrizes estão socorrendo as filiais com empréstimos até para fechar as contas
no fim do mês. Afinal, salários na indústria acima da inflação e preços dos
carros corrigidos por percentual inferior não dão liga. Essa fase acabou e
aumentos reais pioram tudo. Nenhum acionista gosta de saber que perde dinheiro,
se antes ganhava, e está agora “devolvendo” parte do que havia embolsado. São
da regra econômica os ciclos bons e ruins, mas importa a tendência apontar para
cima.
Também se ouviram vozes ainda mais
pessimistas. O início da tímida recuperação poderia ficar para 2017 e não
começar no último trimestre de 2016. Parece haver um desconhecido porão no
fundo do poço. Somando-se veículos leves e pesados as vendas talvez não cheguem
a 2,1 milhões de unidades em 2016 ou 16% menos que os prováveis 2,5 milhões
deste ano.
No rumo contrário, o instituto Ipsos Brasil
disse ter detectado em pesquisa que nos últimos meses cresceu a intenção de
compra de carros novos pelos consumidores. Infelizmente, isso não foi
confirmado pelos bancos. A associação das instituições vinculadas aos
fabricantes (ANEF) reafirmou a procura menor por financiamentos,
independentemente da maior seletividade na aprovação de cadastros de
interessados.
Em meio a interpretações e previsões de
alguma forma divergentes, pelo menos há um consenso positivo. Nenhum fabricante
admitiu cancelar investimentos. Eles estão mantidos, certamente a um ritmo
menor, mas a ameaça de desinvestimento, como já ocorrida no passado, parece
descartada. Voltar à condição de país do futuro é algo bem desconfortável, mas
é o consolo que restou.
RODA VIVA
EMBORA a FCA não tenha decidido sobre a produção – mesmo em regime de
montagem de componentes importados (CKD) – do seu novo sedã médio-compacto na
fábrica de Goiana (PE), as chances de isso ocorrer aumentaram. O carro existe, recuperou
o nome Tipo, dos anos 1990, em alguns mercados, mas nem mesmo isso se
confirmaria aqui por problemas do passado.
EXEMPLO correto de uso de vidros escurecidos no novo monovolume C4 Picasso
(segunda geração): da coluna central para trás. Nas janelas dianteiras eles são
apenas esverdeados para garantir visibilidade correta. No Brasil a
regulamentação do Contran é exatamente essa, mas quase ninguém respeita.
Inexiste fiscalização e, portanto, mais uma lei que não “pegou”.
FOCUS FASTBACK vem alcançando
resultados superiores de vendas em relação às gerações anteriores do mesmo sedã
não apenas por esforço de marketing da Ford. Sua dirigibilidade ficou melhor,
direção mais precisa e suspensão traseira independente multibraço com barra
estabilizadora é referência no segmento. Espaço para pernas atrás poderia ser
melhor.
GOVERNO FEDERAL criou incentivos
fiscais para veículos puramente elétricos ou híbridos recarregáveis em tomadas,
como em outros países. Desculpa anterior era risco de apagão elétrico, mas a
procura por esses veículos é tão baixa que soava ridículo. Tarifa de importação
cai de 35% para algo entre 2% e 7% (híbridos) e de 0% a 2% (elétricos),
dependendo de sua eficiência.
SEGUNDO o Observatório Nacional de Segurança Viária, ao analisar dados
oficiais, mais de 15% dos mortos no trânsito são idosos (60 anos ou mais),
apesar dessa faixa etária corresponder a cerca de 11% da população. Pedestres
representam a maior parte das vítimas. Ou seja, motoristas precisam ficar ainda
mais atentos às limitações da terceira idade.
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