domingo, 16 de agosto de 2015

OPINIÃO COM BORIS FELDMAN


Brasileiro fica encantado no Primeiro Mundo, assombrado com as diferenças facilmente perceptíveis entre seu país e outros mais evoluídos, modernos e civilizados. Esta sensação já ganhou até nome: “complexo de vira-lata”, tão inferiorizado se sente. E chega a se esquecer do preocupante crescimento do racismo, radicalismo religioso, terrorismo, “serial killers”, imigração ilegal e outras mazelas e fobias que assolam estes países.
Mas o brasileiro motorizado no Primeiro Mundo tem razão para se sentir um vira-lata. Não que seja tudo uma perfeição em países como os EUA ou europeus. Na Alemanha, por exemplo, já teve outdoor nas estradas somente com a foto de um motorista segurando um celular, uma garrafa de refri e fumando. O texto se resumia a três palavras: “E quem dirige?”
Estive na Europa em julho para, entre outras, conhecer o novo Audi S6, maravilha tecnológica da marca e que ainda não desembarcou por aqui. Um sedã para famílias rápidas, muito rápidas…
Maravilha tecnológica à parte, assumir o volante de qualquer carro no Brasil traz imediatas saudades do Primeiro Mundo e o sentimento mesmo de “vira-lata”:
– Faixa de pedestre – Nem precisa pôr o pé no asfalto, basta a menção do pedestre em atravessar para ser respeitado pelos motoristas. No Brasil, a faixa é puramente decorativa. Exceto em Brasília e mais uma ou duas cidades que fizeram campanha neste sentido (São Paulo incluída, mas sem os mesmos resultados), respeitar a faixa é risco duplo. Para o motorista que corre o risco de ser batido na traseira, levar buzinada na orelha ou xingado pelo carro de trás. E para o pedestre: acha que pode atravessar porque o primeiro carro parou, mas se arrisca a ser atropelado por outro motorista que desrespeita a faixa.
– Taça de vinho – Sentado num restaurante italiano, comento com a Cristina, minha mulher, que não dá para provar um belo vinho da Toscana pois o Audi está na porta. Ela é que me lembra: “Você se esqueceu de que está na Itália, onde é permitido tomar até duas taças?”
 Gasolina – No posto, é muito cara: 1,70 euro, além de sete reais o litro. Em compensação, a octanagem está registrada na bomba: 95 ou 98 octanas, ao contrário do Brasil, onde é uma incógnita. Mas a grande diferença está honestidade do combustível: na Europa, paga-se por gasolina e ela é quase pura, com pequeno percentual de álcool em alguns países. Nos EUA, o motorista pode decidir entre a bomba com “gasohol” (10% de álcool) ou a pura. Nenhuma saudade da nossa gasolina, de excelente qualidade e entre as melhores do mundo, não fossem os preocupantes 27% de etanol acrescentados por obra e graça da pressão dos usineiros sobre o (des)governo federal.
– Diesel – Brasileiro olha com inveja para os automóveis a diesel, proibidos no Brasil numa época em que ele era importado e a gasolina exportada. Hoje, importamos diesel, gasolina e etanol, mas continuamos o único país no mundo onde não se pode optar pelo automóvel a diesel.
– Estradas – Só quem mora em São Paulo e tem direito a excelentes rodovias estaduais não sente tanta saudade no Primeiro Mundo. Onde a velocidade também é limitada (exceto na Alemanha), mas as estradas, mesmo secundárias, são tapetes asfálticos. Dá até para entender a opção do brasileiro (ao contrário do europeu) pelo utilitário esportivo (SUV): com ele, dá para sair relativamente ileso das crateras asfálticas das nossas mal tratadas estradas federais e estaduais, graças às suas grandes rodas e pneus de perfil mais elevado.
 BF

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