Alta Roda nº 849 — Fernando Calmon — 11/8/15
ATENÇÃO
AOS VULNERÁVEIS
Uma nova fonte inesperada de problemas para
a indústria automobilística surge à medida que aumenta o número de carros
conectados à internet por vários aparelhos, do telefone inteligente às centrais
de multimídia. Interferências eletromagnéticas há muito são monitoradas em
exaustivos testes até se alcançar blindagem contra elas. Quando automóveis
Toyota nos EUA se acidentaram em razão de acelerações descontroladas, uma das
hipóteses, sem comprovação, foi de frequências exóticas de bases militares.
Telefones celulares, em aviões, ainda têm restrições de uso.
Em veículos terrestres esse parece assunto
superado. Porém, interferências reais por meio de hackers – especialistas em
programação de computadores – geram preocupações nos EUA. Os chamados hackers
do bem, que descobrem vulnerabilidades em sistemas, demonstraram ser possível
controlar um automóvel à revelia do motorista. Fizeram brincadeiras como
colocar o som no máximo volume e até desligaram o motor em um Jeep Cherokee de
cobaia. Parecia coisa de ficção, mas não era.
Situação ficou séria, pois levou a FCA a
convocar 1,4 milhão de unidades para mudar programação do sistema multimídia. A
fábrica optou pelo envio de um pen drive de atualização. O órgão de segurança
veicular do governo americano (conhecido pela sigla NHTSA) investiga se outros
fabricantes poderiam igualmente ser afetados. Anomalias semelhantes, mas sem
perdas nos controles de motor, direção e freios, já tinham sido detectadas e
solucionadas pela BMW e suas subsidiárias MINI e Rolls-Royce.
Até mesmo a Tesla, marca americana de sedãs
elétricos de luxo, sofreu um ataque planejado em baixa velocidade. A empresa se
vangloriava de ser mais competente que os outros, mas dois especialistas em
segurança cibernética demonstraram a ação. A Tesla reconheceu a vulnerabilidade
e corrigiu o problema, embora alegasse que o teste fora executado a bordo e não
a distância. Desculpa fraquinha.
Metade dos 75 milhões de veículos leves
vendidos em todo o mundo este ano terá algum grau de conectividade. E daqui a
10 anos acredita-se que serão até 250 milhões, desde os convencionais até os de
condução autônoma. Automóveis também deverão receber programas antivírus como
os computadores pessoais de hoje? Improvável que aconteça. Fabricantes de
veículos e de sistemas de informática já estão bem entrosados contra ações de
hackers do mal. Atualizações poderão se tornar eventuais nas linhas de
montagem, nas concessionárias ou mesmo por meio remoto e de forma automática,
sem necessidade de recall. Mas, nunca se sabe...
O fato é que nada vai parar os avanços de
conectividade. Nem o primeiro acidente com feridos leves do modelo de condução
autônoma da Google nos EUA, apesar de provocado por um veículo comum. Uma prova
do interesse crescente nesta tecnologia foi uma rara união de três grandes
marcas rivais, Audi, BMW e Mercedes-Benz, para comprar por US$ 3 bilhões a
plataforma de mapas digitais Here, da Nokia. Precisão e confiabilidade de rotas
são essenciais em um veículo que se autodirige e, também nesse caso,
atualizações são cruciais para segurança e sucesso deste recurso.
RODA VIVA
ENQUANTO o índice de confiança dos compradores não melhorar – só no segundo
trimestre de 2017, segundo analistas – vendas de veículos continuarão
deprimidas. Julho teve dois dias úteis a mais que junho e mesmo assim estoques
diminuíram de 46 para 45 dias apenas. Exportações reagiram 11%, mas produção
total até julho ficou 18% abaixo de igual período de 2014.
NISSAN chegou a cogitar e desistiu de trazer do México o Note para não
prejudicar cota de importação do Sentra. Também não vai produzi-lo em Resende
(RJ) pela má fase do mercado brasileiro, apesar da mesma arquitetura do March.
Guarda forças para o crossover Kicks. Fit manterá, então, domínio de 50% dos
monovolumes pequenos, embora pareça mais um hatch de teto alto.
RENEGADE está próximo em vendas do líder HR-V, mas luta permanece
indefinida. SUV compacto da Jeep tem vantagem de oferecer sete versões, dois
motores (flex e diesel) e três câmbios (manual de 5 marchas e automático de 6 e
9 marchas). Suspensões são inigualáveis pela relação conforto/estabilidade,
confirmada no uso diário. Materiais de acabamento interno, também muito bons.
REFORÇOS estruturais para desempenho fora de estrada levam o Renegade a
pesar mais do que o ideal. Dessa forma, motor flex (principalmente com câmbio
automático) é pouco e versão a turbodiesel de preço elevado até sobra, mais
pela grande diferença de torque do que de potência. Espaço no habitáculo impressiona
bem, porém porta-malas de 260 litros perde para concorrentes.
PORSCHE acaba de instalar filial própria no País. Passo natural para a
marca que vê um mercado em expansão, como demonstram as vendas do segmento
premium e, mais que isso, o potencial. O fabricante alemão atingiu 200.000
unidades/ano no mundo, crescimento assombroso. Há duas décadas vendia apenas
18.000 carros/ano.
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