SERVIÇO
GRÁTIS, BOA ISCA
Fidelização é fundamental em um setor
altamente competitivo como o automobilístico. Nos EUA, então, segundo maior
mercado mundial e detentor da maior frota em circulação (250 milhões de
veículos, seis vezes maior do que a do Brasil) a busca por reter o cliente
tornou-se diuturna e quase tão essencial como o ar que se respira tanto para o
fabricante como para sua rede de concessionárias.
Lá existem pesquisas de satisfação que
acompanham a percepção de qualidade em curto e longo prazos por meio de
entrevistas e formulários preenchidos pelos motoristas e compilados por
empresas especializadas. Não se tem certeza do grau de alcance dos rankings nas
decisões de compra, mas nenhum fabricante quer aparecer mal na foto por longo
período.
No mercado americano as marcas premium
descobriram uma boa isca ao oferecer manutenção gratuita nos primeiros anos ou
no período de garantia. Mas essa história começou a mudar. Marcas generalistas
também avaliaram que atrair os clientes com ações relativamente baratas dá
certo.
Alguns fabricantes de alto volume de
produção não cobram, para modelos específicos, troca de óleo, rodízio de pneus
e até alinhamento de direção. Não se trata de promoção eventual. Está incluído
no preço de venda (sem qualquer aumento) e a concessionária é reembolsada. Os
dois primeiros serviços citados custam em média, nos EUA, cerca de US$ 60 (R$
160).
Embora a grande maioria das concessionárias
tenha recebido bem a iniciativa, há os descontentes ou menos entusiasmados. Uma
das razões é o reembolso propiciado pela fábrica menor do que o custo real, em
certos casos. Por outro lado, empresas que já tinham vislumbrado essa
oportunidade de fidelizar o cliente e por conta própria concediam a cortesia
perderam esse trunfo. Agora, com o reembolso, talvez possam ofertar outros
serviços sem cobrança.
Para os fabricantes representa
desdobramentos interessantes. Atrair motoristas para as lojas significa algo
mais que estreitar laços comerciais ou a possibilidade de novos negócios ou
mesmo criar fidelização. Facilita a identificação de problemas de qualidade em
tempo bem menor e, em consequência, antecipa ações corretivas. Isso é
fundamental para o cliente perceber – e registrar nas pesquisas – a agilidade
na solução de defeitos, às vezes pequenos, mas que aborrecem.
Também se tornou necessário mostrar que os
preços das concessionárias são competitivos. Lá como aqui os centros
automotivos se tornaram fortes concorrentes e, após o período de garantia,
tendem a atrair muitos clientes. A resposta foi o pacote fechado de serviços
regulares de manutenção, hoje aplicado praticamente por todas as marcas. Isso
estreitou bastante as antigas diferenças.
No Brasil ainda se está à espera de quem
vai tomar a iniciativa de ofertar alguns serviços gratuitos. Por enquanto, o
máximo a que se tem acesso é a possibilidade de incluir no financiamento do
veículo o plano de manutenção programada. Não se trata do melhor dos mundos
porque as taxas de juros são bem maiores que nos EUA. E dificilmente, quando há
promoções de juros abaixo da referência de mercado, isso se estende ao programa
de revisões financiadas.
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fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmon
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