Alta Roda nº 789 — Fernando Calmon — 17/6/14
JANELAS
OPORTUNAS
Essa verdadeira novela em que se
transformaram os acordos automobilísticos entre Brasil e Argentina dentro do
Mercosul completou mais um capítulo. Agora, outra solução-tampão, por um ano,
até julho de 2015. Foi renovado o estranho regime chamado de “flex”, imposto
pelos argentinos, que condiciona os volumes de exportação e importação, em dólares,
na proporção de 1,5 para 1, para ambos os lados. Antes era de 1,95 para 1, mais
favorável ao Brasil pelo próprio mercado.
Nos últimos anos, os carros brasileiros
ocuparam de 45% a 50% do mercado argentino e os veículos provenientes de lá
ficaram com algo entre 10% e 15% das vendas aqui. Se houvesse livre comércio,
conforme previsto desde o início do Mercosul, há 23 anos, muitos desgastes de
parte a parte teriam sido evitados. Já existe uma razoável complementação
industrial, pois modelos compactos concentram-se no Brasil e os médios na
Argentina, com raras exceções.
Desequilíbrio existe na indústria de autopeças,
mas isso tem a ver com as escalas de produção muito maiores no nosso caso. Tal
cenário não vai mudar, apesar de todas as pressões do país vizinho. Deve-se
notar que o Brasil também pratica, em menor escala, protecionismo regional:
programa de isenção de impostos para taxistas começou em 1995 (Mercosul, 1991),
porém sempre foi e continua vedado aos veículos da Argentina. Só recentemente pessoas
com necessidades especiais, igualmente isentas de impostos, tiveram acesso a
modelos argentinos.
No entanto, abrem-se janelas oportunas. Neste
segundo semestre o Mercosul deve, finalmente, assinar acordo com a União
Europeia e estabelecer um prazo de 15 anos para eliminação gradual de todas as
barreiras de cotas e impostos sobre veículos. Realmente uma grande notícia
porque consolidará, em nossa região, o processo corrente de atualização
tecnológica dos produtos. Segunda janela: encerra-se, em março de 2015, o
período de três anos de cotas de importação do México, restabelecendo o livre
comércio interrompido em 2012.
Assim, ficaria insustentável tentar um novo
adiamento de abertura incondicional das fronteiras de Brasil e Argentina, no
próximo ano. Existe até possibilidade de estabelecer um regime industrial conjunto
que tentaria melhorar as condições de exportação de ambos. Esse colunista
acredita que dependerá de resultado das eleições, aqui e lá, pois caso as
oposições vençam há visões diferentes sobre intervenções em excesso na
economia.
Interessante observar a convergência de
preços dos veículos nos dois países. Historicamente os impostos eram mais
baixos na Argentina, porém um tarifaço recente (concentrado em modelos caros)
acabou por contaminar todos os produtos. Basta ver que o VW up!, lançado esta
semana na Argentina, parte do equivalente a R$ 30.900 contra R$ 27.000 aqui. Mesmo
com IPI cheio, previsto só para o final do ano, ainda assim sairá mais caro lá
porque motores de um litro têm imposto menor no Brasil.
Já modelos com motores acima de um litro
apresentam preços, hoje, praticamente alinhados. Dessa forma, conjugam-se os
astros para que Brasil e Argentina parem de se desentender e façam funcionar,
depois de mais de duas décadas, o almejado livre comércio sem desconfianças e
rusgas.
RODA VIVA
TESE exposta em entrevista recente de Carlos Ghosn: “Abrir fábricas
focadas em exportação é coisa do passado”. Para o executivo-chefe da aliança
Renault-Nissan, disputar participação nos países de mercado promissor, como os
Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), torna mandatório produzir
localmente. Explica, de fato, o porquê de tantas fábricas aqui.
AVALIAÇÃO simultânea das duas versões do Audi A3 sedã (1,8 L/180 cv e 1,4
L/122 cv) convence: versão de motor menor apresenta ótimo equilíbrio entre
preço (R$ 94.900), desempenho (torque elevado proporcionado pela combinação
turbo/injeção direta) e nível de equipamentos de série. Espaço no banco
traseiro é ponto fraco, mas prazer ao dirigir compensa.
PROGRAMA Brasileiro de Etiquetagem Veicular tem pormenor importante. À
medida que os carros melhoram consumo de combustível, em determinada classe de nota,
é difícil não ficar para trás, se o fabricante deixar de agir. Assim, médias
móveis impõem competição constante. No final do ano, novas exigências de
emissões também poderão mudar classificações atuais.
DEPOIS de três anos, Chevrolet Camaro conversível estreia por R$ 239.900. Mercado
é pequeno: cerca de 10% das vendas de 100 unidades/mês do cupê. Capota aberta o
deixa atraente, próximo do modelo original de 1996. Motor V-8/406 cv lida bem
com 126 kg de reforços. Faltam bom isolamento térmico do console central e
ar-condicionado digital.
PREVISÕES apontam 300 milhões de carros compartilhados no mundo em 15 anos. Algo
em torno de 15% a 20% da frota global. Ao entusiasmo atual, porém, se somam tropeços
que atrapalhariam as projeções. Na Inglaterra, por exemplo, o programa Car2Go,
do pequeno smart, não deu certo e se encerrou.
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fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmonAlta Roda nº 789 — Fernando Calmon — 17/6/14
Um comentário:
OFF:
Saiu o videogame preferido do camarada Maharov: Spin Tires
http://youtu.be/tAok91IfyHA
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