segunda-feira, 19 de março de 2012

BUICK SPECIAL 1958: A LICENÇA POÉTICA


Quem conhece o gordinho beletrista que vos escreve sabe muito bem que não sou exatamente adepto de pureza xiita em carros antigos. Considero legítimo mudar algumas coisas indispensáveis para USAR um carro antigo, que me perdoe o Muricy, meu grande amigo de nervos de aço com seus enormes Cadillac de duas toneladas e freios a tambor dos anos 30....


Scott Donnal , carpinteiro de profissão como mostra a mala e o console de seu vasto, enorme, barroco e pesado Buick Special 1958, já tinha aprendido a lição sobre macacos velhos e cumbucas em um outro leviatã Buick que tinha tido: a combinação de um carro com 250 cv, 1.842 kg e um câmbio Dynaflow sem marchas e que desliza como um DKW em roda-livre pode ser emocionante, talvez até um pouco demais. 


O Dyanflow só tem o conversor de torque e um reversor, além de um sistema no mesmo que dá uma espécie de par de marchas. O resto vai no torque do Nailhead V8 de 5.969 cm³. Mas ara segurar as quase duas toneladas no trânsito atual de carros com disco nas quatro rodas que param de 100 por hora em pouco mais de 30 metros...só dizendo palavrões. A montanha de cromo e aço vai com alguma insistência a uns 150 por hora, mas não pára assim de qualquer jeito. 


Então Donnal resolveu que ia fazer um carro para viajar e ir a shows, então instalou um sistema de circuito duplo, servofreio e vastos discos na quatro rodas para manter a saúde cardíaca em ordem... Eu, pessoalmente, usaria um câmbio automático moderno como um 700R4 de quatro marchas, overdrive e trava no conversor, o que faria o carro mais lépido, econômico e eficiente, pois o delicado portador de toneladas de cromo é capaz de engolir feliz um litro de gasolina a cada TRÊS quilômetros.... 

Outra diferença útil é a adoção de pneus radiais de boa qualidade, que melhoram enormemente a precisão da direção e permitem que os novos freios sejam aproveitados ao máximo, sem sair travando rodas de forma inútil, pois se freia, tem que aderir...


O Dynaflow foi uma tentativa da Buick de se separar das outras marcas da GM. A Chevrolet usava nesses tempos obscuros o náuseo Powerglide de duas marchas, mas o resto do povo da Grande Mãe se servia do bom Hydramatic de quatro marchas que, se não fosse um exemplo de eficiência, pelo menos se movia com uma relativa rapidez e um consumo mais ou menos contido, além de ter um detalhe importantíssimo: freio-motor nas marchas mais curtas. 


Como o carro de Donnal é rigorosamente original no resto, é possível entender por que ele rodou sem problemas mais de 100.000 km nos anos em que possui o carro... Repare o meu leitor que nesses anos a ética do design era maior é melhor e quanto mais rebuscamento no desenho melhor, daí essa inacreditável grade que tem 160 bloquinhos de cromo, um dos derradeiros projetos da Era Harley Earl, o lendário Chefe de Design da GM americana. Glorioso...

Nenhum comentário: