OPORTUNIDADE PERDIDA
A 2ª Conferência
Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito, realizada semana passada em
Brasília, foi meritória por reunir experiências nesse tema tão complicado ao
redor do mundo. Acima de tudo, ficaram registradas assimetrias por todos os
lados dadas as diferenças culturais, de mentalidade e de desenvolvimento
econômico entre os países.
O documento
final, denominado de Projeto de Declaração de Brasília, é muito longo e
burocrático. Só a introdução inclui 31 tópicos, seguidos por mais 30 itens de
ações recomendadas para “fortalecer o gerenciamento de segurança no trânsito e
aprimorar a legislação e a fiscalização”. Além do conteúdo repetitivo, algumas
organizações internacionais, na ânsia de se destacar, forçaram sugestões difíceis
de aceitar dentro do bom senso. Optaram por pecar pelo excesso e pintam um
quadro ainda mais sinistro.
Ninguém sabe
ao certo quantas pessoas morrem em acidentes terrestres. Estatísticas são, de
fato, precárias entre outras razões por exigir dinheiro e coordenação, raros em
países pobres e até emergentes. O número em voga chega a 1,25 milhão de mortes/ano,
porém o mundo tem 7 bilhões de pedestres permanentes ou eventuais, 1,2 bilhão
de veículos motorizados de quatro ou mais rodas e bem além disso entre
motocicletas e bicicletas. As distâncias percorridas são descomunais, mas quem
leva em conta? Nos países desenvolvidos e de média força econômica os mortos
registrados representam cerca de 120.000/ano (10% do total).
O governo
brasileiro anunciou, finalmente, sua adesão “em pouco tempo” ao protocolo
WP.29, o Fórum Mundial para a
Harmonização dos Regulamentos Veiculares, da ONU. Desde 1952 há tentativas, com
maior ou menor sucesso, de coordenar os esforços de vários países em melhorar
segurança veicular, emissões, eficiência energética e até dispositivos
antifurto. O desastrado projeto de rastreadores no Brasil teria sido evitado
sob o WP.29, fora outros desmandos.
No entanto, a obrigatoriedade do sistema
eletrônico de estabilidade (ESC, sigla em inglês) ainda está em “fase final de
discussão”, segundo o ministério das Cidades. Previsão de anúncio para todos os
automóveis é o final deste ano, com prazo até 2020. Perdeu-se, assim, a oportunidade
de algum protagonismo do Brasil na conferência, pois dificilmente cumprirá a meta
de redução pela metade do número de mortes, depois de o País ter aderido à Década
de Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020, outra campanha da ONU. O
ministério também acenou que iniciará, “em breve”, estudos para
implantar algum sistema de frenagem autônoma.
A organização Global NCAP lançou a iniciativa
de âmbito mundial Stop the crash (em tradução livre, Basta de acidentes). Além
do ESC e do ABS para motos, preconiza três níveis de frenagem emergencial a fim
de evitar colisões em cidade e estrada, além de atropelamento em baixa
velocidade (o mais comum). Cada acionamento automático de freio tem custo
diferente, mas o conjunto deles ficaria mais barato de implantar, se houvesse
adoção simultânea em muitos países. Também sugeriu sistema de monitoração da
pressão de pneus, defendido por essa coluna por sua atraente relação
custo-benefício.
RODA VIVA
APESAR de manter o nome Captur, o
crossover médio-compacto que a Renault produzirá na fábrica paranaense nada tem
a ver com o produto original, concorrente do Peugeot 2008, à exceção de sutis
traços de estilo. Estrutura é o da família Logan/Sandero/Duster/Oroch e as dimensões
internas permitem até sete pessoas. Lançamento previsto para daqui a um ano.
NOVEMBRO marca os 40 anos de criação do
Proálcool, o pioneiro programa de combustível renovável que ajudou o País a
atravessar o segundo e mais grave choque do petróleo nos anos 1980. Atualmente
os EUA produzem mais etanol que o Brasil, mas no uso em motores flex
continuamos bem à frente. Essa tecnologia é oferecida por 19 marcas e cobre 90%
do mercado.
NADA como a boa concorrência. EcoSport
com motor de 1,6 litro mais potente (131
cv) e câmbio automatizado de duas embreagens, a preço competitivo na faixa do
HR-V e do Renegade, pode ganhar fôlego até chegar a reestilização em 2016.
Câmbio de seis marchas em algumas situações fica mais lento nas trocas, mas no
geral o nível de conforto oferecido é bom.
MECANISMO fiscal de substituição
tributária do ICMS (uma aberração brasileira) até funciona em tempos de vendas
boas para evitar sonegação. Mas, em situações extremamente difíceis como a
atual, é um fator que segura descontos legítimos de preços. Afinal, não dá para
recolher impostos sobre uma base alta fictícia imposta pelos Estados. Todos
saem perdendo.
MODISMO de estepe externo pendurado na
tampa de modelos aventureiros e pseudoaventureiros está em paulatino recuo.
Além do custo maior, estética discutível e eventuais danos a outros carros em
manobras de estacionamento há ainda o peso extra de reforços estruturais e
aerodinâmica prejudicada. Em tempos de economia de combustível é tudo o que não
se quer.
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fernando@calmon.jor.br
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