OPINIÃO DE BORIS FELDMAN
Quem rogou esta praga?
Nossa gasolina, no passado, era tão medíocre que vários automóveis importados da Europa eram “tropicalizados” antes de serem embarcados para o Brasil.
Que estranha maldição paira sobre nossos combustíveis, que fogem de qualquer padrão internacional há décadas?
Comentei recentemente que o governo federal deveria ser processado pelo Ministério Público por enganar o consumidor: vende gasolina, mas entrega 27% de álcool (os usineiros, não satisfeitos, já querem arredondar para 30%…). A quadrilha de dona Dilma se “esquece” de que o valor energético do etanol é inferior ao da gasolina, o que caracteriza “falsidade ideológica”. E vamos rezar para os carros a gasolina não se enferrujarem, pois não foram projetados para conviver com tanto álcool. Os testes realizados pelas fábricas — durante apenas seis meses — não foram convincentes.
A gasolina, no passado, era tão medíocre que vários automóveis importados da Europa eram “tropicalizados” antes de serem embarcados para o Brasil. Reduzia-se a taxa de compressão do motor, comprometendo-se sua eficiência. E ela nem era muito elevada, não passando, em geral, de 8 ou 9:1. Mesmo assim, motores mais sofisticados “batiam pino” e só sossegavam (ligeiramente) com a gasolina “azul”, que quebrava o galho com ligeiro aumento da octanagem.
Em 2002 o chumbo tetraetila foi eliminado da gasolina e a octanagem passou a ser obtida com adição de etanol. Mais recentemente, houve a redução do enxofre. Tanta evolução que nossa gasolina poderia ser comparada hoje às melhores do mundo, não fosse o maldito percentual de 27% de etanol…
Até mesmo nosso álcool-motor foi sujeito a chuvas e trovoadas. A tentativa inicial (Proálcool na década de 80) malogrou porque faltou nos postos em 1989 e só voltou com o flex em 2003. E mal elaborado, pois nos EUA (chamado E85) ele contém 15% de gasolina. Solução simples para evitar o problema de o motor não pegar nas manhãs mais frias. Aliás, no inverno o E85 chega a conter 30% de gasolina (E30). A incompetência brasileira insistiu no álcool puro (aliás, hidratado…) e surgiram os famigerados tanquinhos de partida a frio. Ou, mais recentemente, o sistema de aquecimento do etanol. Em alguns motores mais modernos, a solução veio a reboque da pressão bem maior do sistema de injeção direta de combustível.
Outra complicação também provocada pela incompetência governamental é a proibição do diesel em automóveis. “Porque ele polui muito”, dizem alguns idiotas empoleirados no alto da burrocracia de Brasília, além de outras explicações etéreas vindas da sala ao lado. E tome automóvel diesel rodando no mundo inteiro, exceto no nosso abençoado (?) país.
Aliás, a proibição do diesel segue a cartilha da esperteza brasileira, de que lei foi feita para ser burlada. Como ele é permitido em jipes que tenham tração nas quatro rodas e sistema de redução, as fábricas elaboraram sua própria e livre interpretação para a “reduzida”. E, em vez do necessário e óbvio redutor mecânico da relação final de transmissão, fizeram valer seu poder econômico junto aos órgãos de trânsito para “convencê-los” ser possível um sistema eletrônico de redução, atropelando a legislação específica e os princípios mais rudimentares de mecânica automobilística. E tome SUV de luxo (tudo começou com o Mercedes ML 320 CDI, em junho de 2008) sem mecanismo de redução, mas homologado para o diesel.
Já que virou festival do “me engana que eu gosto”, alguns jipes (como o recém-lançado Renegade) apelaram para o criativo argumento da primeira marcha “mais curta” como substituta do mecanismo de redução. Silvio Santos tem razão: estamos mesmo no país onde basta perguntar “Quem quer dinheiro?”…
Resta agora descobrir quem rogou tamanha praga nos nossos combustíveis…
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