FALTA
DE CONFIANÇA
A grande indagação durante o
VI Fórum da Indústria Automobilística, organizado pelo grupo de comunicação
Automotive Business, em São Paulo foi por quanto tempo o cenário atual de
retração persistirá. Apesar do primeiro trimestre desastroso, sem dúvida haverá
uma reação no restante do ano que servirá apenas para mitigar a projeção de queda
anual.
No primeiro trimestre as
vendas acumuladas de veículos leves e pesados recuaram 17%,
enquanto as projeções
mais pessimistas apontam que o ano fecharia com recuo de 12%. O grande problema
de curto prazo são estoques altos demais, o que aumenta o índice de ociosidade
da indústria e as perspectivas de desemprego.
A produção pode ser um pouco
menos afetada por uma conjugação de fatores: leve aumento nas exportações em
razão da desvalorização do real e, pelo mesmo motivo, a perda de
competitividade de veículos importados a serem substituídos pelos de fabricação
nacional. Este é um ano com muitos lançamentos, em especial no segmento de SUVs.
Mesmo em 2014 houve um balanço positivo: 431 lançamentos e 225 descontinuações
ao se somarem todos os modelos e versões disponíveis no mercado interno.
Para a consultoria Carcon,
no entanto, a produção poderá preservar o único número positivo em 2015:
crescimento de 1,7%, ou seja, 3,05 milhões de unidades. E os fatores acima
citados se repetiriam até 2019, quando o Brasil alcançaria 3,82 milhões de veículos
produzidos. Seria ainda um nível desconfortável, pois a capacidade instalada anunciada
pelas antigas e novas empresas ficará acima de cinco milhões de unidades. Ideal
é utilizar ao menos 75% desta capacidade para que investimentos em novos
produtos se justifiquem e não se crie a espiral negativa do passado.
Pesquisa eletrônica durante
o Fórum indicou que os participantes acreditam que só em 2017 o mercado interno
voltará a apresentar números positivos, indicando três anos consecutivos de
vendas em retração. É provável a Índia ultrapassar o Brasil, que cairia para a
quinta posição no ranking mundial.
Ainda que condições
econômicas e políticas atuais expliquem grande parte do mau momento do setor,
essa crise demonstra que artificialismos atrapalham mais que ajudam. Reduções
temporárias de imposto induzem movimentos de antecipação de compras e se usados
por períodos longos criam vícios. Ideal seria reforma tributária, pois a
indústria de veículos representa 5% do PIB, porém recolhe 10% de todos os
impostos.
Na realidade, enquanto
perdurar o atual clima de falta de confiança dos entes da economia as vendas de
veículos não se recuperarão. As correções estão no rumo correto, mas ainda há
incertezas de como os políticos se conduzirão.
Octavio de Barros,
economista-chefe do Bradesco, citou dois exemplos positivos na Índia e nos EUA.
O primeiro ministro indiano, Narenda Modri, preconiza menos governo e mais governança.
Já o ex-secretário de Tesouro americano, Lawrence Summers, construiu a frase
lapidar: “Confiança é o estímulo mais barato”. Nos EUA, com carga fiscal bastante
baixa para consumidores, a política econômica deve focar nas causas, não nos
efeitos. Sem experimentalismos do Brasil e sua conta pesada em forma de
pessimismo generalizado.
RODA VIVA
CONFORME a Coluna adiantou, reestilização de meia-geração do Gol ficou
para o primeiro trimestre de 2016 e a nova geração (arquitetura MQB do futuro
Polo alemão) só no final de 2017. Volkswagen espera vender (somando Audi) cerca
de um milhão de unidades no Brasil em 2018. Ou seja, confia em recuperação do
mercado interno e também aumento de participação.
RENAULT Duster 2016 ganhou atualização visual: grade, grupo ótico,
para-choques dianteiro e traseiro, rodas e lanternas traseiras com LEDs. No interior,
costura dupla no estofamento, novo painel e tela com GPS. Motor 2-litros ganhou
6 cv (agora 148 cv), porém torque caiu um pouco para 20,7 kgfm. No 1,6 L só
mudou curva de torque. Preços: R$ 62.990 a R$ 78.490 (4x4).
MOTOR
turbo do Fiat Bravo T-Jet 2016 é ponto alto no carro, em especial ao se apertar
o botão de Overboost (sobrepressão). Potência se mantém em 152 cv, mas o torque
de 23 kgfm faz nítida diferença. Retoques estilísticos são modestos. Relevante
é a monitoração de pressão dos pneus. Pena que a caixa manual de seis marchas
tenha curso de engate longo.
GANHOU
outra vida o Mercedes-Benz GLA 250 com motor turbo de 2 L/211 cv. Faltava essa
versão no crossover (SUV de teto baixo) alemão que será produzido no Brasil, logo
no início de 2016. Apenas o motor de 1,6 L turboflex será nacionalizado. São
duas versões: Vision por R$ 171.900 e Sport, R$ 189.900. Ambas se destacam por
materiais de ótima qualidade.
HONDA lançará
em 2016 novo Twist, pseudo-aventureiro baseado no Fit. Desta vez, a mudança
é mais radical e não superficial como na geração passada do monovolume compacto
(ou hatch de teto alto) da marca japonesa. Filão de modelos que remetem a
“aventuras” no asfalto mesmo ou em (boas) estradas de terra não parece ter fim.
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fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmon
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