Alta Roda nº 795 — Fernando Calmon — 29/7/14
FALTA
DE PREPARO
Você vai ouvir muito sobre chamadas
emergenciais automáticas (eCall, em inglês) a partir de carros acidentados. A
iniciativa vem da Ford que lançará o serviço – sem custo de utilização – no novo
Ka, em setembro. Na realidade, eCall já é oferecido no Brasil pela Volvo, porém
nesse caso pago por incluir mais opções e dispor de plantão 24/7. A Ford
pretende estender o recurso para toda sua linha, a partir de 2015.
Hoje, no Brasil, há 41 milhões de telefones
inteligentes (pouco além da frota real de veículos capaz de circular). Apesar
de se agregar, como opcional, ao modelo mais barato da marca, na versão de
entrada SE (R$ 35.395), o equipamento Sync de comandos de voz e pareável ao
celular aparece de série na versão SE Plus por R$ 2.000 integrando a central
multimídia com tela tátil. Isso permite o conceito correto de “olhos na
estrada, mãos no volante”, sem sujeitar o motorista a multa de trânsito.
A ligação automática ao 192, do Samu,
depende da deflagração do airbag ou de desligamento da bomba de combustível que
ocorre em fortes colisões traseiras, laterais, tombamento ou capotagem. Há três
situações de grande utilidade: ocupantes inconscientes ou imobilizados,
mensagem padronizada repetida duas vezes e fornecimento ao atendente das
coordenadas de localização do veículo. No caso de o carro sair da pista e se
chocar com obstáculo, à noite em especial, pode não haver testemunhas do
acidente e aí o eCall é ainda mais útil.
Óbvio que outros fatores intervêm no
processo, a começar pela infraestrutura de telecomunicações, embora uma chamada
de emergência ocorra por qualquer rede disponível, independentemente da
utilizada pelo dono do telefone. A celeridade do socorro também precisa de
eficiência. Essas pré-condições estão postas, dentro da realidade do País.
Há ainda um passo adicional: inclusão do
chip telefônico no próprio sistema multimídia interativo. Certamente a Ford e
outros fabricantes que não quiserem ficar para trás nessa corrida de prestação
de serviços poderão oferecer essa opção. Entre outras vantagens, como melhoria
de captação de sinal de celular, garante a eCall no caso de o telefone ter sido
danificado em um acidente grave, o que de fato pode ocorrer, ou simplesmente sua
bateria descarregar.
Essa iniciativa já existe em outros países,
como o OnStar (serviço pago) da GM, nos EUA. A Ford também o introduziu na
Índia, porém em modelos mais caros. A Europa, no entanto, procura tornar o
serviço obrigatório desde 2004. Os problemas lá são parecidos aos daqui porque,
embora bem menos graves, existem zonas de “sombra” de sinal celular em áreas
remotas, a eficiência do socorro varia entre diversos países e ainda há a barreira
de diferentes idiomas.
Em razão do sistema europeu ainda precisar
de ajustes, além de investimentos públicos e privados, sofreu vários
adiamentos. Agora há um novo prazo: outubro de 2017. Lá existe a consciência de
valorizar a vida e do rápido socorro aos acidentados.
Os três níveis de governo no Brasil deveriam
estar preocupados com este assunto em razão do aumento da frota, dos acidentes
e da fraca cobertura celular. Por enquanto, se colocam a reboque dos
fabricantes de veículos. Será que o Samu estará mesmo preparado para a
previsível expansão das eCalls no Brasil e, mais do que isso, os hospitais?
RODA VIVA
FENABRAVE, a pedido deste colunista, quantificou a queda dos modelos de
entrada (faixa abaixo de R$ 30.000, a preços de hoje) na participação de vendas
de automóveis. Em 2003 representavam 50,8%; em 2013, apenas 28,6%. Reflexos de maior
poder aquisitivo, diminuição real de preços e evolução natural do consumidor.
OUTRO fenômeno mais recente: escalada de picapes compactas, puxada em
maior parte pela Strada. Chegou à décima colocação dos mais vendidos, numa
primeira etapa. E a cabine dupla de três portas, em apenas seis meses, representa
50% das vendas totais do modelo. Com esse desempenho pode garantir, em 2013,
posição firme entre os cinco primeiros.
IGUAL sorte não bafeja o Linea. Sofre forte concorrência interna do Grand
Siena (até no porta-malas), embora passe sensações melhores quanto à atmosfera
a bordo, qualidade de materiais e, principalmente, isolamento acústico. Motor
de 1,8 L é adequado, mas espaço igual ao do Punto nos bancos dianteiros
atrapalha bastante. Não tem como enfrentar os reais médios-compactos.
CORREÇÕES: produção acumulada do utilitário Troller, desde o início em 1995,
alcançou cerca de 15.000 unidades. Os incentivos federais da Ford para Camaçari
(BA) e Horizonte (CE) continuarão até 2020. Parte dos incentivos estaduais,
porém, se encerra em 2015.
GOVERNO FEDERAL adiou por dois
anos os rastreadores em veículos à venda no Brasil não apenas por dificuldades
técnicas. Há duas ações na Justiça questionando quanto ao direito de privacidade.
Por outro lado, cerca de 200 empresas oferecem o serviço. Quem se interessar
estará servido. Não tem sentido impor esse acessório.
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fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmon
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