Alta
Roda nº 792 — Fernando Calmon — 8/7/14
FIM DO
PATERNALISMO
Resultados
ruins em vendas internas, produção e exportação (unidades) ao
final deste primeiro semestre refletem economia fraca, inflação
alta e insegurança sobre o futuro. Em relação ao primeiro semestre
de 2013, os recuos foram de 7,6%, 16,8% e 35,4%, respectivamente.
Tombo foi maior do que se previa no final do ano passado, quando
especialistas acreditavam que a economia brasileira cresceria em 2014
um pouco além que os 2,5% de 2013. Agora falam em apenas 1% a mais
no PIB.
A
própria Anfavea refez suas previsões que se mostraram otimistas
demais em dezembro último. Graças à manutenção do IPI
parcialmente reduzido, anunciada em 1º de julho, os números no
fechamento do ano seriam um pouco menos negativos: 5,4%, 10% e 29%,
respectivamente. Ou seja, crescimento no segundo semestre (14,3%,
13,2% e 36,9%, na mesma ordem) compensaria em parte o raquítico
início de ano.
Engana-se
quem pensa que a volta do IPI cheio resolveria graves problemas
fiscais do governo. Cada 1 ponto percentual de aumento na alíquota,
reflete-se em acréscimo de preço de 1,1%. Cada 1% no preço resulta
em vendas 1,6% menores. Multiplicados os fatores, 1% a mais de
imposto, na prática, significa 2,5% de queda no mercado. Em números
redondos, 4 p.p. do IPI (de 3% atuais para os 7% originais)
repassados aos preços, significariam um mergulho de 10% nas vendas e
arrecadação final de impostos menor.
O
cenário piorou por uma conjugação de fatores. Produção foi
duplamente prejudicada: mercado interno e situação na Argentina que
recebe quase 80% dos veículos exportados daqui. Muito se comenta que
os feriados da Copa do Mundo prejudicaram as vendas. Porém, se o
mercado estivesse aquecido, os compradores apenas teriam adiado sua
ida às lojas. Carros não faltam, pois há 45 dias de estoque (30%
acima do normal), e as concessionárias conseguem emplacar mais de
15.000 veículos/dia útil. No primeiro semestre foram apenas 11.500,
em média.
Resta
saber as causas da apatia e há várias explicações. A primeira é
certa acomodação, depois de nove anos de crescimento firme.
Inegável que as pessoas também anteciparam compras e a procura
sofre mesmo um abalo. O mercado, no entanto, continua com grande
potencial, já que mal chegamos ao índice de 5 habitantes/veículo,
pouco abaixo da média mundial, mas distante de México e Argentina,
por exemplo.
Financiamento,
responsável por dois terços das vendas, ficou mais restrito. Embora
a inadimplência seja um complicador impactante sobre os juros, outro
problema é menos comentado. Planos artificiais de redução de taxa
têm eficácia limitada. Se mudassem as regras de retomada dos bens,
hoje lenientes para quem deixa de honrar as prestações, certamente
aumentaria a oferta de crédito. Em outros países até o pagador com
restrições consegue se financiar, pois afinal o veículo pode ser
recuperado em pouco tempo. Simultaneamente, o cliente pontual paga
menos juros e ganha prazo. O fim do paternalismo criaria um mercado
de crédito bem maior e saudável.
De
qualquer forma, este semestre tem potencial de ser melhor que o
primeiro também porque haverá pelo menos 14 lançamentos, é ano do
Salão do Automóvel e a indústria ainda demonstra fôlego para
promoções.
RODA
VIVA
Aumentar etanol
na gasolina de 25% para 27,5%, em estudo pelo governo, traria mais
desvantagens que benefícios. Gasolina padrão tem 22% de etanol e
assim se homologam motores para consumo e emissões. Mais
interessante a decisão recente de imposto menor para motor flex com
relação de consumo entre etanol e gasolina superior a 75%, sem
prejuízo da eficiência energética da gasolina. Ainda não se
anunciou a nova alíquota.
Anfavea mudará
suas estatísticas, inclusive série histórica de 58 anos, para
enquadrar SUV como automóvel de passageiros e não mais comercial
leve, conforme a legislação tributária. Comerciais leves, além de
pequenos caminhões e furgões, serão apenas veículos com caçamba,
a exemplo de picapes de qualquer porte com cabine simples, estendida
ou dupla.
Grupo Caoa-Hyundai
reforça sua estratégia de marketing para inserir com maior ênfase
no mercado o SUV de sete lugares Grand Santa Fe. Motor é o mesmo
V-6/3,3L/270 cv (gasolina) do Santa Fe, de 5 e 7 lugares. Acabamento
e equipamentos semelhantes, porém com espaço interno maior,
suspensões um pouco mais macias e tração 4x4. Preço: R$ 173.990.
Santa Fe, 7 lugares, custa R$ 12.000 menos.
Mitsubishi Lancer
sofreu um pequeno atraso até a entrada em produção nas instalações
do Grupo Souza Ramos, em Catalão (GO). Ficou para outubro próximo e
início de vendas no final de novembro. É o primeiro automóvel da
marca japonesa de produção nacional. Além desse médio-compacto, é
possível a produção também de um compacto em 2016.
Correção,
na coluna da semana passada. O número total de modelos compactos e
subcompactos hoje no mercado brasileiro é de 32, quatro a mais que
os 28 informados.
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