Alta Roda nº 636 — Fernando Calmon — 1/7/14
VIRADA
CULTURAL
A
vida vai ficar cada vez mais difícil para fabricantes que “militam”
no disputado mercado brasileiro de compactos hatches. Afinal, são
nada menos de 28 modelos (incluídos quatro subcompactos), entre
nacionais e importados, que representam 53% dos automóveis vendidos
por ano ou cerca de 1,5 milhão de unidades. Essa faixa cobiçada por
todos os fabricantes tem aumentado seu grau de exigência e
compradores estão dispostos a gastar um pouco além, desde que se
ofereça mais por menos.
Recado
entendido pela Renault, que começa a vender em duas semanas a
segunda geração do Sandero, depois de sete anos. A empresa partiu
para uma virada cultural, de estilo à engenharia, o que aumentou sua
atratividade sem deixar de lado o conceito quase-médio a preço de
compacto. Manteve a versão de entrada abaixo dos R$ 30.000 (exatos
R$ 29.890) e agregou direção de assistência hidráulica de série.
Na média das três versões seu preço caiu 5% – o que não é
pouco – e ampliou o conceito de inovação acessível, iniciado
ainda na primeira geração com o sistema de navegação GPS.
Agora
é possível ter câmera de ré, sensores traseiros de estacionamento
e ar-condicionado digital, por exemplo, na versão de topo, por ainda
bem interessantes R$ 43.820. A fábrica investiu em aerodinâmica (Cx
reduzido de 0,38 para 0,35), arcabouço estrutural (deve melhorar nos
testes de impacto), adotou motor de 1 litro mais evoluído (mesmo do
Clio e Logan), evoluiu as suspensões (bitolas maiores), cuidou
melhor do interior (novo quadro de instrumentos e acabamentos) e até
caprichou no desenho das calotas para aro de 15 pol. (rodas de liga
leve só na versão mais cara).
O
Sandero manteve credenciais de ótimo espaço interno para pernas
(entre-eixos de 2,59 m), largura para ombros e porta-malas
referencial no segmento com 320 litros. Resolveu coisas simples como
realocação do comando elétrico dos espelhos externos, mas o tanque
de combustível deveria comportar mais de 50 litros.
Numa
primeira avaliação, dá para notar mais silêncio a bordo e a
direção ganhou respostas um pouco melhores, apesar da regulagem de
altura do volante desagradável, do tipo “queda-livre”. Desenho
dos instrumentos é honesto, mas leitura deixa a desejar. Alavanca de
câmbio continua sensível aos movimentos bruscos de aceleração.
Motor de 1,6 L (106 cv/etanol; apenas 98 cv/gasolina) ficará
rapidamente em desvantagem frente aos concorrentes, enquanto o de 1
litro (80 cv/77 cv), que ainda responde por 40% das vendas, tem
adversários incômodos na tendência dos três-cilindros.
Dentro
de 45 dias chegará o câmbio automatizado de uma embreagem, que
substituirá o automático da geração anterior. Fabricado pela ZF
custará em torno de R$ 3.000 e, assim, potencializa aumentar
participação atual de 5% nas vendas para pelo menos 10%.
A
Renault pretende manter o Sandero entre os 10 automóveis mais
vendidos (começou como 17º, em 2007). Não será fácil com o
avanço do up! e o novo Ka, já no começo de agosto. Estará
contente, porém, se ficar entre os três preferidos numa lista do
que considera concorrentes mais diretos como Fiesta, Fox, HB20 e
Onix. Estes modelos teriam resultados menos afetados por vendas a
frotistas.
RODA
VIVA
DESDE
o final do primeiro trimestre já se considerava certo IPI reduzido
até o fim do ano. E acabou confirmado. Desânimo com economia
brasileira, crédito restrito, acomodação após nove anos de
crescimento e antecipação de vendas nos momentos de euforia são
explicações para duas quedas sucessivas: 1% em 2013 e 5% este ano
(tudo indica).
TROCA
inteligente: sairia a discutível obrigatoriedade (futura) de
rastreadores e entrariam equipamentos de segurança de baixo custo.
Há até o mote da década de segurança viária, campanha da ONU que
o Brasil abraçou e quase nada fez. Não se pode continuar a oferecer
carros sem pelos menos dois cintos retráteis e dois apoios de cabeça
no banco traseiro como equipamentos de série.
FORD
confirmou que versão sedã do novo Ka terá apenas o sinal “+”
para se diferenciar do hatch. Na realidade, o novo modelo só herdou
o nome do antigo Ka. Sua arquitetura é a mesma do novo Fiesta,
inclusive distância entre-eixos. Apenas os balanços dianteiro e
traseiro serão menores, mas o formato da carroceria melhora o espaço
interno.
FIAT
retirou o nome Palio da versão 2015 da station Weekend. O que
aparentemente significaria apenas uma simplificação, na realidade
reflete o menor interesse dos compradores pelas peruas em razão do
avanço dos utilitários esporte. Já se prevê, infelizmente, o fim
desse segmento no Brasil em poucos anos. Weekend, por exemplo, não
terá sucessora.
VOLVO,
fabricante paranaense de caminhões, fez um ótimo trabalho que
chamou de atlas da acidentalidade no transporte rodoviário
brasileiro, focado em veículos pesados. A publicação traz uma
compilação de dados oficiais de todos os tipos de acidentes em
estradas federais do País. Esperamos que tenha eco nas decisões por
um trânsito mais seguro.
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