Alta Roda nº 702 —
Fernando Calmon — 9/10/12
SALTO
TECNOLÓGICO
Depois de longa
espera e sucessivos adiamentos, finalmente saiu a regulamentação do novo regime
automobilístico brasileiro, a vigorar entre 2013 e 2017. Batizado pomposamente
de Inovar-Auto, traz estímulos fiscais e de política industrial na direção de
melhorar os carros fabricados no País. Enfoque se concentrou em patamar
tecnológico, economia de combustível, conteúdo de peças produzidas no Brasil
(Mercosul incluído), itens de segurança passiva e ativa, geração de empregos e
pesquisas com potencial de gerar inovações.
O programa é bastante
complexo, entre outras razões, para dificultar contestação em fóruns como Organização
Mundial do Comércio. Além de intervencionista e de eleger vencedores e
perdedores entre os que estão ou querem participar do mercado brasileiro,
deve-se reconhecer que os objetivos são importantes e, se alcançados, representarão
um grande salto de atualização.
O regime contempla
empresas que já produzem, apenas importam ou têm projetos de investimentos.
Todas, sem exceção, serão afetadas. Aquelas instaladas há mais tempo poderão
cumprir exigências de compras locais com maior facilidade. No entanto, a
estratégia de estimular novos fabricantes traz a competição como forma realmente
eficaz de alcançar preços menores ao consumidor.
Entre as que
pretendem investir, houve sensibilidade para atender marcas especializadas em
modelos sofisticados. Serão fábricas dimensionadas para até 35.000 unidades
anuais, com investimento mínimo de R$ 17.000 por veículo produzido. Haverá
índice (obrigatório) menor de compras internas e atrairá, de imediato, BMW e
Land Rover, com planos adiantados. Dificilmente, empresas como Audi e
Mercedes-Benz deixarão de aderir, mesmo porque existirão cotas sem o superIPI, hoje
incidente sobre modelos importados.
A grande maioria dos
importadores também terá cotas, sem IPI extra, proporcionais ao volume médio
comercializado entre 2009 e 2011, limitadas a 4.800 unidades/ano. Terão, porém,
de investir 0,65% do faturamento líquido em um fundo nacional de
desenvolvimento tecnológico, espécie de pedágio por usufruir do mercado interno.
Alívio para quem está no negócio, à exceção da Kia, que, sem produção local, enfrentará
dificuldades comerciais por seu volume de importações.
Um dos pontos mais positivos
são as metas de consumo de combustível. O governo foi pragmático e deixou de
lado as emissões de CO2, pois há equivalência direta com o consumo.
Compulsoriamente, a média dos automóveis de cada empresa terá de diminuir 13,6%
até 2017, até atingir a média (cidade-estrada) de 15,9 km/l (gasolina) e 11
km/l (etanol).
Há, ainda, meta audaciosa,
porém incentivada, com até 2 pontos percentuais de redução de IPI para fabricantes
que na média, entre 2017 e 2020, atinjam 17,3 km/l (gasolina) e 12 km/l
(etanol). A nova lei deixa dúvidas se o IPI menor deve se repassar aos preços
ou servirá de compensação aos investimentos.
Como ocorre no
exterior, carros econômicos são mais caros: não existe almoço grátis, quando se
fala de tecnologia, em geral. Assim, não acredite que a economia de R$ 1.100,00
por ano em combustível, no discurso do governo, seja efetiva, pois dependerá do
preço do carro.
RODA
VIVA
RESULTADOS ruins de
vendas em setembro já eram esperados. Além da acomodação natural, depois dos volumes
estratosféricos de agosto, o mês passado teve menos quatro dias úteis. Assim,
os estoques subiram de 19 para 33 dias, o que diminuiu atrasos nas entregas de
alguns modelos. Exportações vão de mal a pior: Anfavea reduziu sua previsão em 2012.
ARQUITETURA do carro
conceitual Active Tourer, primeiro BMW de tração dianteira apresentado no Salão
de Paris, vai gerar até nove modelos diferentes da própria marca e da sua
controlada, Mini. Com certeza, um desses carros está nos planos de produção da
fábrica catarinense, conforme a coluna antecipou. Será futuro modelo de entrada,
a preço abaixo do X1 sDrive 18i.
NOVO Mercedes-Benz
Classe B corrigiu fraquezas anteriores. Mais baixo e largo, alcança ótimo
coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,26. Preço: R$ 115.900 a R$ 129.900. Motor
turbo, 156 cv/22,4 kgf·m, e caixa de câmbio automatizada (duas embreagens, sete
marchas), no lugar da insossa CVT de antes, formam bom conjunto. Faltam
equipamentos, como ar-condicionado digital. Agora, sistema eletrônico permite
entrar e sair de vagas.
MITSUBISHI trabalha
para lançar, em breve, primeira picape média com câmbio automatizado (monoembreagem),
da Magneti Marelli. Estará disponível na Triton com motor flex, quatro
cilindros. Fábrica detectou interesse por essa solução mais em conta que
automático convencional.
QUANDO a Chrysler
cortou os preços de seus produtos, recentemente, nada mais fez do que se
antecipar ao que estava previsto no novo regime automobilístico. Afinal,
possuía informações sobre cancelamento do superIPI. Não faltou quem suspeitasse
de absorção de margens de lucro, apontadas por uma revista americana de
negócios.
____________________________________________________
fernando@calmon.jor.br
e www.twitter.com/fernandocalmon
Um comentário:
Resumindo: o "InovarAuto" nada mais é que uma grande cortina de fumaça, estabelecendo benesses absurdas para os ineficientes, dificuldades enormes para os estreantes e benefícios muito modestos para o consumidor. Dez anos para reduzir 10% de consumo? Piada.
Postar um comentário