Alta Roda nº 882 — Fernando Calmon — 29/3/16
TEMPOS
DE CAUTELA
Parece ter chegado a hora de se conformar:
mesmo que o desfecho da crise política se abrevie, será insuficiente para tirar
o Brasil do atoleiro econômico de hoje. E, pior, não há certeza de quanto tempo
ainda as coisas vão piorar, antes de começar a melhorar. É o que se conclui do
VII Fórum da Indústria Automobilística, realizado pela Automotive Business.
De fato, e difícil de aceitar, foi a
velocidade de deterioração. Entre 2012 e o final de 2016 o mercado interno de
veículos terá caído 50%, ao se somar a queda de 24% deste ano em relação a 2015
projetada pela consultoria IHS. Em pesquisa eletrônica instantânea realizada entre
os participantes, 55% esperam vendas inferiores 2 milhões de unidades até
dezembro, o que significaria voltar aos patamares de 2007, marcha à ré de nove
anos.
Como ressaltou Octavio de Barros,
economista-chefe do Bradesco, a falta de confiança e incertezas chegaram ao
ponto de mesmo quem está empregado, não querer assumir dívida para trocar seu
carro usado por um novo. E quando a situação começará a se reverter? Há
diferentes apostas: somente em 2019 a curva de vendas de veículos voltaria a acompanhar
a recuperação do PIB per capita brasileiro. Outros acreditam que talvez isso
possa acontecer um ano antes.
Nos anos 1980, foram necessários 12 anos
para retornar aos volumes anteriores. O tombo de 1998 exigiu nove anos. Este
agora, que começou de forma evidente em 2014, pode se estender até por uma
década. Quem sabe abreviado, se o país tomar as decisões econômicas e
reformistas corretas.
Nesse cenário, poucos acham que um programa
intervencionista como o Inovar-Auto terá continuidade depois de 2017, quando se
encerra a primeira fase. Salvo, claro, a única parte realmente necessária –
eficiência energética dos produtos aqui fabricados – que precisa e deve
continuar. A evolução apenas do trem de força será insuficiente para cumprir
metas de consumo de combustível. Terá de ocorrer uma evolução do carro inteiro.
Só que tudo isso significa investir mais e
com expectativa de retorno mínimo para os desembolsos. Sem reação das vendas,
essa conta não fecha. No entanto, para Letícia Costa, da consultoria Prada, chegou
a hora de o Brasil pelo menos tentar se inserir nas cadeias mundiais de
produção, conectividade e até certo grau de direção autônoma, mesmo em ritmo
menor e limitado pela infraestrutura atual. Para essa Coluna, o governo federal
tem de parar de brincar com isso. Se apenas deixar de atrapalhar, já seria um
avanço.
Dentro desse quadro, a crise atinge desigualmente
os fabricantes. A participação de mercado, somando volume de vendas e
faturamento, confirmou a consultoria Jato, deixou as Quatro Grandes – Fiat,
Ford, GM e VW – em situação de perda maior. Apesar de Honda e Toyota também
terem investido em aumento de capacidade produtiva e amargarem hoje um grau de
ociosidade, ambas contam com preços médios de seus produtos numa faixa de
mercado um pouco menos afetada.
Fabricantes de marcas para o público de
maior renda sofrem menos. O novo presidente da BMW, Helder Boavida, até admitiu
estudar um sexto modelo na sua fábrica catarinense, mesmo em tempos de cautela.
RODA VIVA
MERCEDES-BENZ
cumpriu seu cronograma de 13 meses para inaugurar a
fábrica de automóveis em Iracemápolis (SP). Com investimento de R$ 600 milhões,
a marca alemã chega depois de BMW e Audi à produção local. Vendas de veículos
mais caros este ano devem recuar em ritmo bem menor do que o total da indústria.
A M-B inicia com apenas um turno de trabalho.
CLASSE
C, agora e GLA, no segundo semestre são os
primeiros produtos da linha de montagem paulista. Só dentro de um ano os
índices de nacionalização aumentarão com armação e pintura. Mas a flexibilidade
da linha de produção e os baixos volumes (20.000 unidades/ano) permitirão que
qualquer produto fabricado na Alemanha o seja igualmente aqui.
GOL
2017 ganhou no uso cotidiano com o motor três-cilindros
de 1 litro. Além de respostas ágeis ao acelerador, o ronco é mais abafado. Mudanças
de frente e traseira são pouco nítidas, mas painel, quadro de instrumentos e
volante renovam bem o ambiente interno, além do prático suporte para celular.
Motor de 1,6 L não mudou, mas ainda é suficiente, mesmo de projeto antigo.
PRIMEIRO automóvel com câmbio automático de 10 marchas (apenas tração
traseira) será o Chevrolet Camaro ZL1, no segundo semestre. GM e Ford dividem
esse investimento para diminuir consumo especialmente em SUVs e picapes
pesados. Os dois fabricantes também se uniram para produzir um automático de 9
marchas (tração dianteira), que a Honda já oferece.
APESAR de publicação recente no Diário Oficial, o Cadastro Nacional de
Veículos em Estoque (Renave) ainda depende de regulamentação que vai demorar 60
dias. Só depois, venda e compra de carros usados por meio de concessionárias e
lojistas será simplificada com benefícios ao consumidor. Acabará a necessidade
de reconhecimento de firma e haverá menos burocracia.
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fernando@calmon.jor.br e
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2 comentários:
Olá, meu nome é José Brancato,
De que forma posso fazer um contato com o Jornalista José Rezende Mahar?
Estou finalizando a a edição de um livro sobre Logística Contemporânea (inclusive do Brasil) e gostaria de incluir o breve histórico da Fabrica Nacional de Motores e a epopeia dos FNM.
O Sr. Mahar têm um texto "perfeito" para transcrever no livro, com fotos. Necessito,porém, da sua autorização.Desejo, portanto, contatá-lo. Como poderei fazê-lo-?
Grato. Cordialmente.
José Brancato (Of. Res. da FAB)
jrmahar at gmail
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