sábado, 26 de setembro de 2015

OPINIÃO COM BORIS FELDMAN



Cada dia aparece uma novidadetecnológica que torna o carro mais seguro, confortável e eficiente. Mas, muitas destas “novidades” já existiram no passado, algumas há mais de um século!
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Cada vez que se anuncia uma nova tecnologia no automóvel, eu costumo me divertir à beça. São dispositivos que agregam segurança, conforto, eficiência e outros mimos para motorista e passageiros, desenvolvidos com recursos eletrônicos. Mas nem mesmo os engenheiros que os projetaram imaginam que quase todos existiram no passado. Às vezes em automóveis fabricados há mais de um século. Só curtidores (como eu…) de carros antigos para rir destas “novidades”…
Injeção direta – Tecnologia super-moderna que injeta o combustível diretamente na câmara de combustão, aumentando potência e reduzindo consumo e emissões. A injeção é toda controlada eletronicamente. Mas a Bosch já tinha desenvolvido sistema idêntico, mecânico, que funcionava sem nenhum problema e que já equipava, em 1954, o Mercedes-Benz 300 SL “Asa de Gaivota” (foto).
Flex – Revolução tecnológica que permite o uso simultâneo de gasolina e etanol, foi apresentada no Brasil em 2003. Mas o Ford Modelo T (de 1908) também queimava os dois combustíveis. Era só avançar (ou atrasar) a alavanca esquerda do “bigode” (por isso o apelido “For-de-Bigode”) para avançar o distribuidor. A mistura ar-combustível era ajustada por um botãozinho no painel. Em resumo, o motorista podia regular o ponto e a relação estequiométrica de acordo com o combustível no tanque.
Automático – Por falar em For-de-Bigode, a GM lançou, na década de 40, o câmbio automático, sem embreagem nem alavanca de mudanças. Mas o mesmo Ford T também não contava com nenhum dos dois, mas com três pedais que comandavam o acionamento da caixa: o da esquerda engatava a primeira marcha quando pisado no fundo (para rodar nesta marcha, era necessário manter o pedal pressionado!), o ponto-morto era com este mesmo pedal só até metade do curso e a segunda (prise direta) ao soltá-lo completamente. O pedal do meio acionava a ré. O da direita era uma “espécie” de freio: acionava uma cinta que, pressionada contra um tambor acoplado à caixa, reduzia (ligeiramente) a velocidade. Terceira marcha? Não tinha… eram só duas mesmo. Aliás, a segunda marcha era rigorosamente uma prise direta, com o eixo do motor engatado no cardã. Freio de mão? Sim, uma alavanca no assoalho operada manualmente que acionava freios (como os mais modernos) nas rodas traseiras. Por curiosidade, onde ficava o acelerador? Somente na alavanca da direita do “bigode”, na coluna de direção…
Elétrico – Carro elétrico é o futuro do automóvel? Não, é o passado: em 1828 já rodava na Hungria uma “coisa” movida eletricamente. E só no final do século 19 surgiu o primeiro veículo com motor a combustão (Benz, 1886). Os elétricos acabaram não vingando pelo mesmo motivo que os travam até hoje: bateria muito cara, pesada e que demanda muito tempo de recarga para autonomia que ainda deixa a desejar.
“Hill Holder” – Ou “Auto Holder”, denominações chiques, em inglês, do dispositivo que mantém o carro freado na subida. O motorista pisa nos dois pedais, mas pode tirar o pé do freio e manter apenas a embreagem apertada que o carro fica imóvel. E só anda quando se solta o pedal da embreagem (ou se pisa no acelerador, caso dos automáticos), evitando que o carro dê uma ré de alguns metros antes de arrancar. Quem aplaude o sistema é o motorista do carro parado logo atrás…
Entretanto, nenhuma novidade: nos anos 40 existia o mesmo sistema (chamado “Freio de Rampa”) patenteado pela Studebaker. Que funcionava exatamente do mesmo jeito, só que mecanicamente, pois motivos óbvios…
Híbrido– notável “avanço”, o do carro com motores a combustão e elétrico. Só do Prius, a Toyota já vendeu mais de seis milhões de unidades. Seu inventor não foi nenhum japonês, mas um engenheiro muito conhecido: Ferdinand Porsche (ele mesmo…) construiu, em 1900, o Lohner-Porsche com motores elétricos nas rodas acionados por uma bateria carregada por um motor a gasolina.
Turbina – Com o “downsizing” na moda, turbinar um motor é essencial para aumentar a cavalaria reduzindo cilindrada e consumo. Nenhuma novidade também, pois existe há quase 100 anos: foi inventada no início do século XX e estreou em 1920 em locomotivas a diesel.
“Cylinders on demand” – sistema que desliga alguns cilindros do motor quando sensores percebem serem dispensáveis. Lançado recentemente para reduzir consumo e emissões, existiu nos Cadillac dos anos 80. Eram V-8 que viravam V-6 ou V-4. Não vingaram na época pois faltava a eletrônica para comandar o processo e mais aborreciam o motorista com suas falhas que contribuíam. Mas existiram…
Três cilindros – Depois de muitos anos com motores 1,0 de quatro cilindros, os engenheiros tiveram a brilhante ideia de eliminar um deles para ganhar eficiência ao reduzir atrito, geração de calor e peso. Só no Brasil existem hoje cinco marcas (VW, Hyundai, Kia, Ford, Nissan) com esta tecnologia, além de outras já anunciadas para um futuro próximo: GM, Fiat, BMW. Curiosamente, eu tenho na garagem um carro com motor DKW, 1,0, três cilindros, lançado no Brasil em 1956….
BF]

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