Alta Roda nº 815 — Fernando Calmon — 16/12/14
BARATO
QUE NÃO SAI CARO
Ao apagar das luzes de 2014 surgem boas
notícias em relação à segurança veicular e equipamentos obrigatórios para
veículos de duas rodas. Afinal, o Brasil tem uma frota de motocicletas e
motonetas (scooters) de cerca de 14 milhões de unidades, segundo estudos que
levam em conta sucateamento natural (sem baixa oficial), acidentes, roubos e
furtos. Como expõe mais o condutor a riscos do que um veículo fechado, além dos
conhecidos problemas de má habilitação, abusos no trânsito e pavimentação
esburacada, qualquer avanço em segurança ativa só pode ser muito bem-vinda.
A exemplo dos automóveis, as motos acima de
300 cm³ de cilindrada fabricadas ou comercializadas no País terão que vir de
série com freios antitravamento (ABS). O cronograma começa em 1º de janeiro de
2016 (10% do total) e termina em 1º de janeiro de 2019. ABS será opcional em
modelos abaixo de 300 cm³, mas todas deverão ter ao menos o CBS (em inglês,
Sistema Combinado de Freios), recurso de relação preço-benefício bastante adequado,
pois aciona juntos os freios traseiro e dianteiro, este parcialmente.
Podem surgir críticas em razão de na Europa
o ABS ser obrigatório em modelos de 125 cm³ em diante, mas só a partir de 2016.
É o mesmo falso discurso de sempre que desconsidera a realidade socioeconômica bem
diferente no Brasil. O sistema mais eficiente encareceria uma moto básica em
pelo menos 20% e, portanto, não seria razoável alijar tantos compradores. Nada
impede, porém, a partir de 2020 e se o poder aquisitivo subir, ampliar a exigência
para 200 cm³ e, depois, 125 cm³.
O setor de duas rodas também pode se
beneficiar se entrar em vigor uma lei em discussão no Congresso Nacional
(aprovada na Comissão de Viação e Transporte, semana passada). Estabelece multa
para fabricantes, importadores e lojistas que comercializem bicicletas sem
equipamentos obrigatórios de segurança. Ou seja, a lei existe, mas como não há
punição, se vendem até hoje bicicletas sem campainha, espelho retrovisor esquerdo
e sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais. São mais de 60
milhões em circulação e em processo de uso nas grandes cidades estimulado menos
por razões práticas do que populistas.
Para os automóveis, no entanto, o ano se
foi sem novas regulamentações que exigem de quatro a cinco anos para abranger
toda a produção. Apesar das trapalhadas consecutivas do Latin NCAP, o instituto
tem razão em clamar pelo fim da comercialização na América Latina de carros sem
nenhuma estrela nos testes de colisão contra barreira. Aqui estamos
praticamente livres destes modelos, mas os vizinhos continuam a
comercializá-los por preços atraentes, uma dificuldade às exportações
brasileiras.
Ao menos dois equipamentos já deveriam
estar em cronograma de obrigatoriedade: cintos de segurança retráteis em pelo
menos duas posições do banco traseiro e encaixes Isofix para no mínimo dois
bancos infantis. Há o risco de em 2019 ainda se produzirem modelos sem esses
recursos. Outros itens de custo baixo e prioritários são o aviso de cintos
(pelo menos os dianteiros) não atados e o monitoramento de pressão dos pneus baseado
no sistema de freios ABS que já existe em todos os modelos novos.
RODA VIVA
TANTO GM como Ford, ao contrário da VW (com o up!) e da Fiat (novo produto
para Betim, em 2016), relutam em se convencer de que o mercado aceita bem modelos
subcompactos, com menos de 3,6 m de comprimento. Por isso, GM ainda não fechou
a equação de custos do sucessor do Celta e Ford nem cogita de algo menor que o Ka.
Apostas de risco?
SINAL dos tempos: Chrysler e Fiat vão sumir do nome corporativo e
prevalece abreviação de Fiat Chrysler Automobiles. Nos EUA, se identificará
como FCA US, na Itália, FCA Italy e aqui, possivelmente, FCA Brazil. As marcas,
claro, continuarão a existir como sempre. Curiosamente a nova instalação de
Goiana (PE), em 2015, vem sendo chamada de fábrica Jeep.
FLUENCE ganhou competitividade ao manter preço (R$ 66.890 a R$ 82.990) na
linha 2015 e acrescentado retoques na dianteira (LEDs diurnos), além de quadro
de instrumentos digital e novo sistema multimídia com tela tátil. Mecanicamente
nada mudou, salvo bons ajustes nas suspensões. Pena que não herdou o câmbio CVT
(seis marchas virtuais) do Sentra, bem mais adequado.
CHERY decidiu se associar à Anfavea e abandonar a Abeifa que reúne
importadores e, agora, apenas dois futuros fabricantes: JAC e JLR. O Celer nacional
ficará um pouco mais caro que o chinês por ter evoluído. Com ajuda do novo QQ
brasileiro pretende triplicar vendas em 2015 para 30.000 unidades. Confirmou o
SUV novo Tiggo para 2016.
INDIANOS continuam a agarrar oportunidades. Depois do negócio mais que inspirador
da Tata adquirir, da Ford, Jaguar e Land Rover, chegou a vez da conterrânea
Mahindra. Esta fábrica de utilitários já havia se apossado da sul-coreana
Ssangyong e agora comprou de uma massa semifalida a sueca Saab, que já produziu
automóveis bem interessantes.
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fernando@calmon.jor.br e twitter.com/fernandocalmon
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