sexta-feira, 11 de novembro de 2011

PALIO ATTRACTIVE 1,4 BY JASON VOGEL, O PRIMEIRO TESTE


Evolução sem revolução

Rodamos 540km com o novo Palio, que mudou de ponta a ponta. Só faltou ousadia



No rádio, Milton Nascimento dos tempos do Clube da Esquina canta "Nada será como antes". Caminhões saem das jazidas de Itabirito deitando poeira avermelhada no asfalto. É com trilha sonora e cenário bem mineiros que deixamos Belo Horizonte rumo ao Rio pela BR-040 para um primeiro contato íntimo com o Fiat Palio modelo 2012.

Entre cidades e estrada, dirigimos por 540 quilômetros. Percurso suficiente para perceber que esse Palio é realmente inédito. Do antecessor (lançado há 15 anos e submetido a seguidas plásticas), herdou pouco mais do que o nome.



É uma evolução e tanto. Sua plataforma vem do novo Uno, só que esticada e alargada. Tal base recebeu ainda um fino acerto de suspensão, câmbio e direção.

Chamado de Projeto 326 na fábrica, o modelo recém-lançado cresceu em relação ao Palio antigo (que continuará em linha na versão Fire 1.0). Na frieza dos números, nem parece tanto: 4,7cm extras de entre-eixos, 2,8cm no comprimento total e 3cm a mais na altura. Mas basta entrar no carro para perceber a diferença.

Antes de partir, ajeitamos no porta-malas as garrafas de cachaça de Guaraciaba, o queijo canastra e a goiabada cascão. A área para bagagem é normal para um hatch — os mesmos 290 litros do Palio antigo.



Vista de fora, a carroceria tem um quê de Renault Sandero, mas em dimensões menores. A frente é uma mistura de Fiat 500 com Uno e Punto (este, provavelmente, sofrerá concorrência interna). As lanternas traseiras sobem pelas colunas e lembram um pouco os Volvo recentes. Para abrir o porta-malas, aperte o logotipo da Fiat.

Com a ambição de agradar a velhos e jovens, casados e solteiros, homens e mulheres, o novo Palio não ousa no estilo. O desenho começou a ser traçado no centro de estilo da Fiat e, só depois, ganhou tempero brasileiro. As reações nas ruas são menos intensas do que as da época do lançamento do Uno. Há equilíbrio nas linhas, mas também um ar déjà vu: em 540km, foram poucos os olhares e só uns três sujeitos puxaram assunto.

Os faróis são do tipo biparábola e iluminam bem - irônico lembrar que, em 2007, a Fiat empobreceu o Palio botando faróis de refletor único. Na época, a marca tentava justificar o retrocesso jurando que o conjunto óptico mais simples era tão eficiente quanto o duplo...



A versão mais simples tem motor 1.0 de oito válvulas e custa R$ 30.990, sem opcionais. Dirigimos o carro por dez quilômetros no centro de BH. Para tentar compensar a falta de potência (75cv) ao levar os 999kg do carro, as relações do câmbio são bem curtas.

Também guiamos (em 30km) o Palio mais caro: é a versão Sporting. Custa a partir de R$ 39.990 e traz motor E.torQ 1.6 16v de 117cv. Pela potência, está longe de ser uma máquina de guerra — mas tem exclusivo acerto de suspensão, além de caixa de direção mais direta. Nesses dois pontos, é um carro firme e esperto. Também gostamos da mais recente evolução do câmbio automatizado Dualogic (R$ 2.500), com passagens de marcha mais suaves. E, claro, sobram faixas e enfeites.

Versão 1.4 Attractive, o ponto de equilíbrio

O que interessa aqui é o Palio da intermediária versão Attractive 1.4, com o qual viemos de BH. Tem preços a partir de R$ 34.290, incluindo aí vidros e travas elétricos, direção hidráulica, faróis de neblina e o utilíssimo computador de bordo. Quer ar-condicionado? Pague mais R$ 2.935... Airbag duplo e ABS custam R$ 1.750.

Seu motor é o 1.4 Evo 8v de 88cv do novo Uno. Mas logo é possível notar que o Palio tem mais vida, graças a relações de marchas diferentes.

Só a versão 1.4 traz caixa de câmbio inteiramente nova. Importada da Itália, é basicamente a mesma do Fiat 500 — mas sem a sexta marcha... A parte boa é que essa transmissão é menos ruidosa que a dos outros Palio. Além disso, a alavanca tem curso mais curto e com engates menos "borrachudos".

A regulagem do volante é acanhada. Ao menos nosso Palio trazia o recomendável ajuste de altura do banco (R$ 610). Uma vez achada a posição ideal, dirigimos sem cansaço.


No ano passado, todos elogiaram a aparência dos plásticos do Uno, forma de valorizar o carro sem gastar muito na produção. Pois a Fiat agora exagerou: contamos nove texturas no painel do Palio... Há exagero para impressionar — parece coisa de novo rico deslumbrado. Pior: os encaixes são irregulares. Melhor seria algo menos enfeitado, com mais qualidade (como no novo Kia Picanto). Os reflexos no quadro de instrumentos também incomodam.

Por outro lado, o Palio traz mimos como a luz de salão que se acende suavemente assim que se tira a chave da ignição. 

Vamos pelas subidas e descidas da BR-040, a 100km/h. Nos quilômetros iniciais, o asfalto está gasto e se ouve muito ruído de rolagem. Numa fugida até Congonhas, o Palio se porta muito bem no calçamento pé de moleque. Há suavidade e impressão de robustez da suspensão. Subindo ladeiras puxadas, o câmbio curto compensa a pequena cilindrada do motor. Nessa primeira parte da viagem, usamos apenas álcool, com um consumo de 11,8km/l.

A atuação do ABS (opcional) é tão sutil que às vezes nem parece que o carro traz o dispositivo - já na oitava geração. Experimentamos dar pé fundo no freio duas ou três vezes, ouvimos o grito da borracha no asfalto e mal sentimos os contragolpes no pedal.

A partir de Barbacena, o asfalto está um tapete e o carro se torna mais silencioso. Foi feito um belo trabalho nos coxins que suportam o motor. De Juiz de Fora em diante, estamos íntimos da máquina e, nas bem traçadas curvas, vamos curtindo intensamente a maior qualidade do novo Palio: a suspensão traseira.

A bitola é larga e houve um caprichado ajuste de amortecedor, molas e buchas. Ataca-se as curvas e a traseira do carro "assenta no chão", sem jamais flutuar. Está sempre na mão.


O motor está muito longe de ser vigoroso, mas quem souber aproveitar bem sua faixa útil não ficará com raiva. Dá para curtir o novo Palio.

O problema é quando, a 110km/h (a 3.300rpm), o motorista procura a sexta marcha e lembra que esta foi amputada...

Na Rio-Petrópolis, aquele Palio que parecia trivial no começo do percurso agradou pela suavidade e estabilidade. E o melhor, com a ótima média de 15km/l de gasolina.

Após cinco horas de viagem, chegamos ao Rio sem cansaço e com vontade de dirigir mais — o que é um ótimo sinal. Na cidade, em dois dias de uso, o motorzinho Evo ainda fez a média de 12,3km/l.

Ao fim e ao cabo, o novo Palio não é um daqueles carros que suscitam uma paixão instantânea e entusiasmada. Pelo contrário: vai conquistando aos poucos.

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Palio 1.4 attractive

PREÇO: R$ 34.290

ORIGEM: Brasil

MOTOR: flex, quatro cilindros, oito válvulas, 1.368cm³; potência de 85/88cv (a 5.750rpm) e torque de 12,4/12,5kgfm (a 3.500rpm) (g/a). Taxa de compressão de 12,3:1

TRANSMISSÃO: tração dianteira. Câmbio manual de cinco marchas

SUSPENSÃO: McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira

FREIOS: a disco na frente e a tambor atrás. ABS opcional

PNEUS:175/65 R14

DIMENSÕES: 3,87m de comprimento e 2,42m de entre-eixos

PESO: 1.007 quilos

DESEMPENHO: de 0 a 100km/h em 12,2; velocidade máxima de 173km/hl

CONSUMO*: na estrada, 15km/l com gasolina e 11,8km/l com álcool. Na cidade, 12,3km/l com gasolina

* medições durante a viagem e nas ruas do Rio



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