A Honda 450 DOHC pode ser considerada a primeira superbike japonesa. Boa de motor, ruim de chassi...
Nossos conhecidos fabricantes japoneses começaram como toda a indústria nipônica: copiando os projetos do então primeiro mundo, do qual nessa época, anos, eles não faziam parte. A Honda começou fazendo motores de bicicletas para mover o povo e foi evoluindo gradativamente ao longo dos anos, sempre pra cima. Em 1965, surgiu a primeira moto grande do império do Sol Nascente: a CB 450 DOHC, fartamente conhecida por estas bandas como "DOC". Esse nome se referia aos dois comandos de válvulas no cabeçote, ou Double Over Head Camshafts, sistema usado, por exemplo, no antigo carro Alfa Romeo JK, o mais sofisticado veículo em produção no Brasil naqueles anos.
Essa configuração de cabeçote permite melhor respiração do motor e uma câmara de combustão mais eficiente, de forma hemisférica, onde a chama se difunde mais rápido, produzindo mais potência. Daí o resultado no dinamômetro: essa Honda gerava 45 cv, ou seja, uma excelente proporção de 100 cv por litro de deslocamento, potência dos carros de F1 da época e nunca vista nas veneráveis bicilíndricas da Grã-Bretanha, os reis das motos grandes desses tempos. Não considere os leviatãs americanos, que eram grandes, mas pesadas demais e feitas para andar em linha reta e no asfalto liso...
A primeira versão da DOHC tinha quatro marchas e um visual bem britânico, com as laterais do tanque cromadas e com borrachas para encostar os joelhos.
Mas era aí que terminava a semelhança com as inglesas, motos de manutenção paranoica, onde o dono tinha que tentar antecipar o que ia quebrar proximamente e ir à luta antes. O motor da japonesa era confiável, chegando à beira do tedioso, por não quebrar... A parte elétrica então era um "saco": tudo funcionava perfeitamente por anos e anos. Até a partida elétrica era secundada por um pedal de kick, praticamente inútil se a bateria estivesse dentro de sua vida útil normal. Esse motor, poderoso para a época, tinha uma diferença rara até hoje: as molas de válvulas eram barras de torção, como na suspensão de um VW. Isso permitia aos metais da época reagir mais linearmente e compor um motor mais bravo, sem flutuar válvulas em altas rotações, em níveis inéditos até essa época. Com isso a CB 450 era capaz de girar 8.500 rpm, nível nunca sonhado pelas inglesas de então. A velocidade final era de 170 km/n e ela chegava lá bem rápido.
Mas a vida é imperfeita, e o quadro era sambista. Nesse tempo eles ainda não tinham ido à Inglaterra aprender como se faz quadro, como muito bem explicado na matéria da Métisse de Steve McQueen, que publicamos tempos atrás. E assim ela balançava... e a cada curva prometia a compra de um belo terreno. Não era só o quadro que era ruim, mas também os pneus - os primeiros Bridgestone - e os amortecedores de marshmallow. Em suma, o comportamento dinâmico era uma cagada que impunha a compra de pneus Dunlop K81, amortecedores Koni é frente Ceriani, para tentar dar ao bom motor condições de se exprimir.
Mas o aviso já estava pregado na parede, e com o tempo os japs aprenderam a fazer o resto da moto... e como!
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