quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A vida com o Peugeot 208 PureTech e seu frugal motor de três cilindros

Por Jason Vogel


Somos fãs dos motores de três cilindros que estão tomando o mercado. Com menos atritos internos que os de quatro cilindros, eles trabalham com leveza e crescem de giro com ímpeto esportivo. O melhor é que consomem pouquíssimo — em maio, o Inmetro divulgou um ranking dos modelos mais econômicos à venda no Brasil e o Peugeot 208 1.2 aqui mostrado foi o grande destaque, ficando atrás apenas dos carros híbridos.



Daí que estávamos ansiosos para ter uma convivência de longa duração com o modelo da marca francesa fabricado em Porto Real. Os 208 equipados com o motor 1.2 PureTech saem apenas com câmbio manual e custam a partir de R$ 49.790, na versão Active. O exemplar que chegou para testes, contudo, era um Allure, o mais equipado dos Peugeot 208 de três cilindros. Por R$ 56.590, traz itens como teto de vidro panorâmico, sensor de estacionamento (só na traseira) e piloto automático.


Equivalente em tudo ao que é feito na França, o Peugeot é um dos compactos mais modernos que temos no Brasil. Por aqui, contudo, é um daqueles injustiçados do mercado: de janeiro até julho, teve apenas 6.103 exemplares vendidos, ficando em 37º lugar no ranking da Fenabrave.

O acabamento mostra um capricho europeu nas forrações. Parece coisa de importado. Como nas outras versões do 208, o ambiente é dominado pelo painel “suspenso” e pelo volante de pequeno diâmetro, forrado com couro e quase no colo do motorista. Sobra arrojo visual.


A direção traz ajustes de distância e altura. Querendo, o motorista pode deixar seu banco bem rente ao chão. Teoricamente, a posição de guiar poderia estar bem perto da perfeição, qual num Golf VII. Pena que o console seja tão intrusivo, tomando espaço destinado à perna direita do motorista, e que os pedais sejam tão próximos uns dos outros (“é melhor para fazer punta-tacco”, dirão os mais metidos a piloto...).

Ligamos o motor e o que se sente é uma certa vibração inicial. Por alguns segundos, parece até movido a diesel. Chamado EB2 PureTech, este tricilíndrico aspirado tem 12 válvulas, variação de fase nos dois comandos e 1.199cm³. Sem qualquer alteração, equipa também o Citroën C3.

Esse motorzinho, o câmbio com as três primeiras marchas curtas e a embreagem pesadinha e sem muita progressão (vá tirando o pé e o carro dá um salto à frente) dão a impressão de que o bicho tem muito apetite de asfalto e cilindrada bem maior. Vamos à luta e o 208 1.2 se mostra esperto e cheio de vontade para seus 84cv (com gasolina) ou 90cv (com álcool). As respostas iniciais são muito rápidas e a frente chega a empinar.


Nas retomadas, trate de usar o câmbio para manter o giro aí em torno das 2.500rpm. Daí em diante, o PureTech cresce feliz como se não houvesse amanhã. Quer manter um ritmo manso de cruzeiro? A 100km/h, na quinta e última marcha, vamos o conta-giros indicará 3.000rpm. Em todas ao ocasiões, o PureTech pareceu mais vibrante que o motor do Volkswagen Up! — será questão de coxins?

O curso da alavanca de câmbio é mais longo que o ideal. Além disso, a suspensão é algo mole, não condizendo com o ímpeto esportivo do carro. Nota-se que foi afinada para um público bem geral. Não que seja ruim — mas seu excesso de maciez lembra um pouco o Golf IV. Nas curvas mais animadas, os pneus Pirelli Cinturato 195/60 R15 dão conta do recado sem reclamar. A gente fica imaginando como seria interessante se dessem um ajuste mais firme a esse 208.

No dia a dia, vamos descobrindo a intimidade do carro. A tela multimídia é grande e fácil de ser operada, mas fica quase ilegível sob o sol forte. O enorme teto de correr é fixo — tem ótimo visual e parece ampliar o espaço da cabine. Cansou de tanta luminosidade? Puxe um “blecaute” de tecido que o Allure vira um 208 comum.


Durante a convivência, soou uma vibraçãozinha que parecia vir da forração interna, mas não conseguimos localizar exatamente de onde.

Fomos muito felizes juntos. E ainda mais ao ver que o esse Peugeot fez 12,8km/l de gasolina... na cidade! De cair o queixo, ainda que não tenhamos alcançado as marcas de 15,1km/l (ciclo urbano) e 16,9km/l (rodoviário) obtida nas medições do Inmetro. Esse leão não é manso e nem tem sede.


Peugeot 208 Allure 1.2

Origem: Brasil
Preço: R$ 56.590
Motor: flex, três cilindros, 1.199cm³, 12v, potência
de 90cv (a 5.750rpm) e
torque de 13kgfm (a 2.750rpm)
Transmissão: manual de
cinco marchas.Tração dianteira
Suspensões: McPherson na frente e eixo de torção atrás
Freios e pneus: a disco
e a tambor; 195/60 R15
Dimensões e peso: 3,97m (c), 2,54m (e.e) e 1.037 quilos
Desempenho: 0-100km/h
em 12,8s e máxima de 177km/h
Consumo: 12,8km/l na
cidade, com gasolina
(medição de CarroEtc)

Nenhum comentário: