sábado, 16 de janeiro de 2016

OPINIAO POR BORIS FELDMAN


Algumas novidades tecnológicas vão chegando de mansinho, sem muito alarde e divulgadas pelas fábricas só depois de questionadas pelos problemas que geram. Correia dentada é uma delas. Durante dezenas de anos os eixos de comando no cabeçote foram movimentados por correntes metálicas. Idênticas às das bicicletas.
De repente, alguns motores surgiram com a novidade: correia de borracha substituindo a corrente metálica. Segundo as fábricas, por serem mais silenciosas. Mentira: porque custam menos que as metálicas. Mas tão problemáticas que ficaram restritas a motores mais compactos, de menor cilindrada e que equipam automóveis menos sofisticados. Motores de marcas premium continuam aplicando as metálicas. E ninguém jamais reclamou de seu ruído...
São vários os inconvenientes das correias dentadas. Em primeiro lugar, sua vida útil é limitada: com exceção da Ford que acaba de lançar uma correia (banhada em óleo) com duração prevista de 250 mil km, todas as demais devem ser substituídas entre 60 mil e100 mil km. Ao contrário das metálicas que duram toda a vida do automóvel (e mais seis meses...). Além disso, é maior o risco da correia pular dentes da polia e deixar o motor desregulado ou inerte. O que pode ocorrer até ao se tentar fazer o motor pegar no “tranco”.
Outro grave inconveniente da correia de borracha é entregar os pontos muito antes da quilometragem de troca indicada no manual. Se o veículo roda com frequência em regiões de mineração ou em estradas empoeiradas, há um desgaste exagerado da correia e ela se rompe prematuramente. A Volkswagen, por exemplo, enfrentou este problema na Amarok, que não resistia muito mais que 20 mil quilômetros em regiões de minerações. A fábrica tentou resolver com uma vedação mais cuidadosa na tampa do compartimento da correia. Não resolveu. Instalou então um sofisticado sistema de ventilação positiva no habitáculo da correia: ar forçado em seu interior para bloquear a entrada de impurezas.
Em muitos motores, as consequências do rompimento da correia são graves, pois a falta de sincronismo entre eixo comando e virabrequim faz as válvulas baterem nos pistões. Os danos no motor exigem reparo de custo elevadíssimo.
Não bastasse, algumas oficinas ainda agravam o custo da substituição da correia dentada ao inventar a necessidade da troca simultânea de seu rolamento/tensionador, para faturar ainda mais às custas do proprietário do automóvel. Verdadeira picaretagem. Operação desnecessária e não indicada pelo fabricante pois é óbvio que um rolamento de aço resiste muitas vezes mais que uma peça de borracha. Mas a prática se disseminou e já existe até um fornecedor de autopeças (Gates) que oferece no mercado um kit composto da correia e do tensionador. Aumenta seu faturamento, o da oficina e pouco se importa de onerar desnecessariamente o consumidor final. Aliás, o kit é argumento definitivo do mecânico para convencer o dono do carro a concordar com a substituição do rolamento, pois não está relacionado na relação dos itens das manutenções periódicas.
Nosso complexo de “vira-lata” nos instiga a praguejar contra estas picaretagens das oficinas e completar o texto com “só mesmo no Brasil”. Mas outro dia eu lia um teste de longa duração de um Subaru feito por uma revista norte-americana, que incluía os custos totais depois de rodar 80 mil quilômetros com o automóvel. O editor da matéria comenta que conferiu as despesas relacionadas pelos jornalistas que dirigiram o carro e eliminou um dos itens, uma tal “limpeza de bicos injetores”, que segundo ele, “não é indicada pela fábrica”.
Viu como a moda pega até no Primeiro Mundo?

Um comentário:

EMANUEL ZVEIBIL disse...

Mais picaretagem ainda é a política de garantia das fábricas. Por exemplo, o GOLF exige revisões semestrais independentemente da km. No meu caso, que rodo pouco com carro novo ( e muito com os antigos), troco fluidos antes da hora, filtros ainda novos, fora os serviços "empurrados" que eu tenho que brigar para rejeitá-los. Isso só para não perder a garantia. Isso é legal ou vale a pena reclamar contra a política da fábrica que pode lesar o consumidor ? Afinal, você compra o carro e quem impõe a garantia com seus termos é o fornecedor. Você não pode discutir.
Complexo de vira lata? Au au au , Boris!