CORRIDA PELO CONSUMO
O clima em sentido figurado do Salão do Automóvel de Paris –
que vai até 19 de outubro – estava tão morno como a temperatura externa em
torno dos 24 °C da semana passada. De fato, não há tantas novidades, mas o que
está sendo apresentado tem bastante relevância. Mais do que isso, os governos
europeus continuam a empurrar os fabricantes na direção do menor consumo de
combustível e, por consequência, redução de emissão de gás carbônico (CO2).
Na França há uma desafio governamental para os carros novos
convergirem para 50 km/l ou 2 L/100 km com motores a gasolina
preferencialmente. Citroën, Peugeot e Renault apresentaram modelos ainda
experimentais, embora o novo Passat GTE híbrido plugável (bem mais caro) tenha
estreado no salão com credenciais para alcançar 1,6 L/100 km no específico ciclo
europeu de consumo. Bem interessante é o Renault Eolab, carro-laboratório que
promete 100 km/l (gasolina) no futuro, diferença de apenas 10% em relação ao VW
XL1 a diesel, um 2-lugares vendido sob encomenda por estratosféricos R$ 340.000.
Mais um carro esporte superlativo abraçou a “causa” híbrida.
O Lamborghini Asterión, para quatro passageiros, desenvolve 910 cv com a ajuda
de três motores elétricos. No outro extremo, com motorização convencional
(versão elétrica em 2015), fica o minúsculo novo smart ForTwo 2-lugares,
acompanhado pelo ForFour de quatro lugares. MINI também resolveu esticar seu
tradicional modelo de 2 portas para abrigar outras duas laterais, que tiraram a
pureza de linhas do modelo. Audi igualmente surfou nessa onda com o Audi TT de
quatro portas, por ora, apenas conceitual.
Monovolumes, lançados há 30 anos, continuam a sofrer forte concorrência
de SUVs e crossovers e precisam se reciclar. Casos do Mercedes-Benz Classe B e
do Ford S-Max (arquitetura Fusion/Mondeo). Renault reagiu com o novo Espace, agora
mais crossover do que monovolume. Peugeot exibiu sua proposta para um futuro
“quase-SUV”, o Quartz. Citroën, por sua vez, preferiu apresentar o Divine DS, guia
conceitual para a submarca que terá seis versões (hoje, três), inclusive SUV.
Paris marcou a estreia do Fiat 500 X de mesma arquitetura do
futuro pernambucano Jeep Renegade. Pena que o 500 X não será feito aqui, pois exibe
linhas bem mais elegantes e suaves. Dois estreantes do Grupo JLR despertam especial
interesse para produção no Brasil: Land Rover Discovery Sport (sucessor do
Freelander) para até sete passageiros e Jaguar XE de tração traseira e muitas
partes em alumínio.
Entre outros lançamentos mundiais destacaram-se as novas
gerações do BMW X6 e Suzuki Vitara a serem importados em 2015.
Praticamente todos os executivos de topo costumam estar nos
grandes salões internacionais. Dieter Zetsche, da Daimler, afirmou a essa
coluna que a nova fábrica de Iracemápolis (SP) não ficará “amarrada” a apenas
dois produtos, dando a entender que outros (como o hatch Classe A) estão nos
planos. Carlos Tavares, da PSA Peugeot Citroën, acenou que a linha nova de motores
poderia incluir versão de 1 litro como decisão pragmática e confirmou ampliação
da linha DS importada da China ou da França. Carlos Ghosn, da Renault Nissan,
disse estar impressionado com a competitividade da produção no México.
RODA VIVA
ESTE ano está
mais difícil que o esperado em termos de vendas (exportações terão queda ainda
maior em razão da crise argentina). Média diária de julho a setembro cresceu 4%
em relação ao primeiro semestre, porém longe de compensar resultados negativos.
Estoques totais do mês passado davam para 41 dias de comercialização ou 20%
acima do máximo aceitável.
PESQUISA da
Anfavea demonstra forte interiorização do mercado brasileiro no últimos seis
anos (2007 a 2013). Ao contrário do pensamento corrente, grandes capitais têm
frotas verdadeiras (não as teóricas informadas pelo Denatran) acrescendo a
ritmo muito lento. No caso de São Paulo mal consegue acompanhar o crescimento
vegetativo da população, já bem baixo.
DUSTER reestilizado
aparece no final do mês no Salão do Automóvel de São Paulo, mas a coluna apurou
que início de produção só em fevereiro de 2015, seguido pela aguardada versão
picape seis meses depois. Quanto ao SUV compacto Captur (projeto HHA), esperado
para início de 2016, não é o modelo francês baseado no novo Clio. Aqui sua base
será a mesma do Duster.
FIAT adiou, mas
não desistiu de desenvolver motor de três cilindros – hoje só os de quatro e de
dois cilindros existem no portfólio da marca. Essa falha de planejamento, em
especial para o Brasil, será sanada com o projeto GSE, ainda sem data. Já a GM
insiste: sem planos para um 3-cilindros aqui, embora exista na Europa.
ESTUDOS da Ford
para produzir na Argentina o utilitário esporte Everest, com mesmo chassi da
picape Ranger, não chegaram ao ponto de se transformar em plano primário. Com a
situação econômica e política cada vez mais difícil no país vizinho, a ideia
foi descartada. O Kuga então, SUV construído com base no Focus, nem pensar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário