Alta Roda nº 725 — Fernando Calmon — 19/3/13
SAGA DOS MOTORES FLEX
Em
23 de março de 2003 surgiu o primeiro automóvel fabricado no Brasil cujo motor
usava o sistema flexível etanol e gasolina de forma viável. Foi o Volkswagen
Gol 1,6-litro, lançado simultaneamente à comemoração de 50 anos da empresa no
Brasil com a presença de diretores mundiais do grupo alemão e do presidente da
República. Alguns meses depois de completar uma década em produção, a Anfavea
projeta que, em meados deste ano, 20 milhões de veículos popularmente chamados
flex terão sido fabricados, marco muito relevante.
Nada
menos de 92% dos automóveis e comerciais leves com motores de ciclo Otto,
vendidos em 2012, tinham motores flex, incluídos nacionais e importados. Ao
acrescentar os de ciclo Diesel, a participação cai para 87%. Nenhum mercado no
mundo apresenta esse cenário.
Na
realidade, flexibilidade de abastecer o mesmo tanque com combustível de origem
fóssil, de origem vegetal ou mistura dos dois remonta ao início do século
passado, por volta de 1910. Ford T e alguns concorrentes podiam usar um ou
outro combustível. Preço da gasolina caiu e a experiência, abandonada. Ainda
nos EUA, voltou em 1991, com metanol em pequenas frotas. O primeiro carro flex
de série já com etanol surgiu em 1996, um Ford Taurus.
No
Brasil, depois da crise de escassez de etanol em 1989/90, a Bosch apresentou um
Chevrolet Omega de 2 litros
com a tecnologia flex, mas o sistema de reconhecimento de combustível era caro
e lento. O projeto só avançou depois de quatro anos, ao se descobrir que a
sonda lambda (sensor de oxigênio) servia bem para identificar e gerenciar o
tipo de combustível. A Volkswagen decidiu apostar na tecnologia. Motores de 1 litro representavam quase
70% das vendas à época e, assim, a fábrica escolheu o de 1,6 l por precaução.
Como a Bosch fornecia sistemas de injeção para os motores VW de menor
cilindrada, a Magneti Marelli acabou por receber a primazia.
Apelo
do motor flex diminuiu quando o preço dos dois combustíveis se aproximou. Opção
pelo etanol caiu drasticamente depois de 2009 e o governo ainda bate cabeças
sobre a estratégia futura de preços relativos e carga fiscal diferenciada. Sem
isso, só o apelo ambiental atrairá poucos compradores. Por outro lado, as
fábricas têm sido lentas na evolução técnica dos motores. Partida dos motores
sem auxílio de gasolina em dias frios, por exemplo, só surgiu em produção
seriada no ano passado, e em alguns modelos.
Graças
ao novo regime automobilístico Inovar-Auto e seus objetivos de menor consumo de
combustível haverá avanços até 2017. Meta compulsória é de cortar o consumo
médio da frota à venda de cada fabricante em 12,5% sobre 2012. A meta incentivada
(até dois pontos percentuais a menos de IPI) chega a quase 19%. Alcançar essa
referência, equivalente à da Europa em 2015, obrigará a investir além dos
motores.
Grande
passo, a injeção direta de combustível em motores flex apresenta potencial de
corte de consumo em até 10%. Com uso eventual de turbocompressor, ganho será
maior com etanol. Significa que mesmo que o combustível vegetal custe 75%
(talvez até 80%) do preço da gasolina, ainda será viável sua escolha na hora de
abastecer. Hoje, referência é de 70%.
RODA
VIVA
ABEIVA
deve revisar, no final deste mês, sua previsão de importação de 150.000
unidades em 2013, provavelmente para menos. Kia (Grupo Gandini) continua a
liderar entre marcas sem produção local, associadas àquela entidade. Grupo
brasileiro fez contas e decidiu não aderir ao Inovar-Auto, ao contrário dos
demais. Cotas são baixas para seu volume de importação.
CAIXAS
de câmbio (transeixos) manuais de seis marchas serão produzidas na nova fábrica
de motores da GM, em Joinville (SC), mais voltada à exportação, assim que
mercado europeu se recuperar da atual queda. Parte de produção ficará aqui para
o Cruze e outros modelos. No exterior, empresa desenvolve uma caixa “híbrida”:
automática convencional e de dupla embreagem.
DURANGO,
novo SUV da Dodge (de R$ 179.900
a salgados R$ 199.900), oferece sete lugares e mais
espaço interno que Journey/Freemont. Mesmo com dois bancos da última fileira em
posição normal, porta-malas é muito bom: 490 litros (até o teto;
usáveis uns 35% menos). Chassi é igual ao do Grand Cherokee, com maior balanço
traseiro. Motor V6/286 cv dá conta do recado.
PRESIDENTE
da Magneti Marelli volta a ser brasileiro. Lino Duarte está à frente do segundo
maior fabricante de autopeças aqui instalado. Ele destacou que a matriz
italiana, além de fornecer motor elétrico para o híbrido LaFerrari, desenvolveu
o Superlift: atuadores hidráulicos elevam em quatro cm o vão livre, ideal para
carros esporte em rampas e lombadas.
TENDÊNCIA
de desnacionalização em autopeças parece irreversível. Fabricante de correias e
tensionadores Dayco, dos EUA, com fábricas em São Paulo e Minas Gerais, comprou
a brasileira Nytron. As marcas conviverão por tempo indeterminado. Aumentará
exportações para Europa e América do Sul com integração dos produtos.
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fernando@calmon.jor.br
e www.twitter.com/fernandocalmon
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