Alta Roda nº 724 — Fernando Calmon — 12/3/13
SALÃO
DE CONTRASTES
Aberto até 17 de março, Salão de Genebra impressiona
pelo número de lançamentos. Nessa 83ª edição, veículos elétricos e híbridos saíram
de uma ala específica e se misturam aos demais. Não quer dizer que representem algo
palpável do mercado suíço, um dos poucos na Europa ainda sem enormes recuos. Em
2013 responderão por apenas 3% das vendas. Já os nada racionais SUVs e
crossovers vão capturar cerca de 40%, o que ajudou a quase aniquilar as inteligentes
stations (peruas), cuja boa aceitação permanece na Alemanha.
Interessante que os híbridos se destacam entre
as maiores atrações em extremidades opostas. LaFerrari, legítimo sucessor do modelo
Enzo, além de desenho arrebatador, entrega nada menos de 963 cv com ajuda de um
motor elétrico (mesmo recurso do McLaren P1, também muito bonito, e “apenas”
916 cv). Supercontraste em relação ao VW XL1 e seus motores de 2 cilindros (48
cv) e elétrico (27 cv), primeiro carro no mundo a consumir incrível 1 L/111 km.
Ele ainda não tem preço, ao contrário de R$ 3 milhões do LaFerrari. Mas, por
enquanto, será até mais exclusivo: apenas 250 unidades (iniciais), contra 499 da
série especial da marca italiana.
Em primeiro contato com o XL1, nos
arredores de Genebra, o carro de dois lugares de carroceria extremamente
aerodinâmica (Cx 0,19), bastante baixo (1,15 m) e portas do tipo asa de gaivota
surpreendeu pelo contraste entre a silenciosa tração elétrica e o ruidoso motor
diesel. Sua autonomia elétrica pode chegar a 50 km, desde que não se queira pedir
ajuda ao motor a combustão e acelerar de 0 a 100 km/h em razoáveis 12,7 s (dado
de fábrica).
Ainda sobre propulsão alternativa, a PSA
Peugeot Citroën aposta suas fichas em um híbrido diferente. Associa motor a
gasolina e ar comprimido, sem baterias e sem complicação mecânica do motor
elétrico adicional, ambas de alto custo. Essa tecnologia, em parceria com a
Bosch, parece promissora, porém ainda carece de mais testes e comprovação de
viabilidade financeira.
Como a busca por economia é foco constante,
o Range Rover Evoque se apresenta como primeiro veículo com caixa de câmbio
automática (da alemã ZF) de nada menos que nove marchas. Também estará em
outros carros, pois a caixa é tão compacta que permite uso com motor transversal.
Mercedes-Benz atiçou entusiastas com o
incrível Classe A 45,
da sua divisão esporte AMG. Dá para imaginar um compacto
com motor de 2 litros turbo, de 360 cv/46 kgf∙m, maior potência específica já
alcançada por um automóvel de produção seriada, de apenas quatro cilindros, até
hoje?
Entre lançamentos que interessam ao Brasil,
destaque para o SUV compacto Peugeot 2008, cuja versão definitiva surgiu em
Genebra e será fabricado no Estado do Rio de Janeiro, no final de 2014. O sedã compacto
anabolizado CLA,
da Mercedes – estreia mundial no salão suíço – também será um
dos escolhidos para produção aqui (decisão até meados de 2013). Outro estreante,
crossover compacto Renault Captur, poderá ser opção de importação para a marca
francesa, único fabricante nacional que só traz carros do exterior da
Argentina.
Alfa Romeo 4C também atraiu muita atenção: serão
apenas 3.500 unidades do cupê, de baixo peso (80% delas para os EUA). Em
princípio, nenhuma para o Brasil.
RODA VIVA
ESTRATÉGIA de produção dos fabricantes, em fevereiro, foi de aumentar os
estoques totais de 29 dias para 39 dias, a fim de atender aquecimento da
demanda este mês. No final de março haverá nova subida do IPI e o tradicional
apelo de “compre antes do aumento”. Primeiro bimestre do ano foi recordista em
vendas: 547.000 unidades (veículos leves e pesados).
HYUNDAI acertou, de novo, no estilo do HB20S. Versão sedã do hatch compacto
mostra equilíbrio de linhas e um terceiro volume sem parecer adaptado. Isso lhe
custou, entretanto, volume no porta-malas: 450 litros, um dos menores do
segmento. Manteve três versões de acabamento, além de motor de 1 litro (80 cv)
e 1,6 litro (128 cv), ambos os mais potentes entre aspirados para a respectiva
cilindrada.
DESDE as versões de entrada, há bom nível de equipamentos como
ar-condicionado, sistema de som com bons recursos (Bluetooth e MP3), comandos
elétricos para vidros, travas e espelhos, ajuste de altura do banco (não tão eficiente)
e da coluna da direção em dois planos, entre outros. Melhor seria assistência
elétrica na direção, no lugar da hidráulica. Repetido o erro de sonegar os
freios ABS na versão básica, embora não esteja sozinho nessa política torta.
SUSPENSÕES têm correto compromisso conforto/estabilidade, mas continuam ruídos
de batentes em descida de quebra-molas ou buracos profundos. Câmbio automático,
mesmo com quatro marchas, é adequado. Faltam freios a disco nas rodas
traseiras, pois se trata do compacto mais rápido do mercado. Somando sedã e hatch,
HB20 deve se consolidar entre os cinco mais vendidos, em boa briga com Onix/Prisma.
Já incluso IPI de abril, quando começam as vendas, preços vão de R$ 39.495 a R$
53.595.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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