O Voo do Pássaro Biônico
Publicado em Tecnologia por José Eugênio Mira
Eficiência energética e autossuficiência de vôo em um autômato voador baseado em uma espécie de gaivota. Esse é o SmartBird, o pássaro biônico desenvolvido por uma empresa alemã que decola, voa e pousa sem interferência humana e com consumo mínimo de energia, provando que a natureza pode fornecer modelos anatômicos e extremamente funcionais.
Voar. Sem dúvida, o devaneio mais antigo do homem que, desfavorecido nesse aspecto pela natureza, buscou dentro de sua mente criativa maneiras de elevar até às nuvens esses primatas pesados e desajeitados. Hoje, voar se tornou algo relativamente simples. Desenvolveram-se balões, aviões e até mesmo jatos que se acoplam como mochilas. Mas a natureza ainda nos escondia um segredo: o gracioso voar dos pássaros. Não para voarmos, mas para nos aproximarmos do engenho fascinante desse voo.
Desenvolvido pela Festo, uma empresa alemã de automação e controle industrial, o pássaro biônico – batizado de SmartBird – faz parte de um programa da empresa que envolve universidades e outras instituições de ensino denominado Bionic Learning Network, ou Rede de Aprendizado em Biônica. Entre os objetivos do programa estão, além da análise das necessidades e o teste de novas ideias, a utilização dos modelos da natureza para a criação de modelos biônicos mais eficientes. Porque reinventar a roda? A idéia é buscar em coisas aparentemente simples, como o movimento da tromba do elefante, o nado dos pinguins e o vôo da gaivota, ideias para máquinas autônomas mais simples e de menor consumo energético.
Aliás, esse último foi a inspiração dos engenheiros da Festo para a produção do pássaro biônico. Inspiração limitada ao formato e à leveza dos movimentos das asas, uma vez que enquanto uma gaivota costuma ter cerca de 150 centímetros de envergadura, o SmartBird tem asas de dois metros de comprimento, e um torso de mais de um metro. Apesar das dimensões, o pássaro biônico é muito leve: pesa menos de meio quilograma. Construído com uma estrutura de fibra de carbono e recoberto por espuma de poliuretano extrudado, o pássaro biônico possui a leveza essencial para um vôo longo com um consumo baixo de energia. Ele é alimentado com apenas duas pequenas pilhas de lítio, de menos de meio ampère cada uma.
Apesar da alta tecnologia empregada em sua estrutura mecânica, a chave para o segredo do voo da gaivota mecânica está dentro de seu torso. Enquanto sensores de movimento indicam a posição exata das asas e um acelerômetro informa sobre o deslocamento e inclinação da ave, um pequeno sistema de microprocessadores calcula exatamente o ângulo de torção de cada uma das asas e da cauda do pássaro, o que permite que ele voe em diferentes direções, decole e pouse sem interferência humana. No entanto, é possível controlá-lo também, através de um sistema de microondas de rádio conhecido como ‘ZigBee!’, que alia respostas rápidas e baixo consumo elétrico.
O pássaro biônico ainda é um pioneiro entre os protótipos desenhados com a finalidade de alcançar um equilíbrio entre resistência, funcionalidade, uso racional de matéria-prima e de energia, mas provavelmente será apenas o primeiro de muitos. Afinal, parece que depois de séculos criando inventos que buscam em vão controlar e se equiparar à natureza, o homem parece ter aprendido que a melhor maneira de ter sucesso em modelos de eficiência e sustentabilidade é apoderar-se dos conceitos mais perfeitos já desenvolvidos, testados diariamente e evoluídos ao longo de milhões de anos por um controle de qualidade que não permite erros: a própria natureza.
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