N.da R.:Matéria saída na Revista Web de Minas, que me foi mandada por um amigo. Uns errinhos,como Uirapuru ser um carro de competição, mas sai bem feitinha e resolvi publicar anyway... A frase do titulo é de Hugh Locke King, o fundador de Brooklands, a primeira pista oval do mundo na Inglaterra de 1907: o grupo certo e não uma multidão.
Atração Antiga
Colecionadores de carros aumentam cada vez mais no país e movimentam muito dinheiro para manter as raridades
Texto: Miriam Gomes Chalfin | Fotos: Nélio Rodrigues
Otávio Pinto de Carvalho: “Temos o melhor acervo, com carros raríssimos e bem restaurados”
Se você não quer chamar atenção por onde passa, não ande em um veículo de coleção. Charmosos, elegantes, bem cuidados e brilhantes, eles atraem até mesmo quem não gosta de carro. Algumas pessoas têm um (ou mais exemplares) por pura paixão; outras porque eles guardam um significado. Não importa o motivo. O fato é que o antigomobilismo conquista cada vez mais adeptos e movimenta muito dinheiro. Para ter ideia do montante, um leilão de automóveis antigos, realizado em Araxá este ano, gerou 2 milhões de reais.
“São pessoas que gostam de arte, história, geografia. E um veículo clássico tem toda uma história. Depois da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, os carros norte-americanos eram grandões, porque o país estava em um momento próspero. Já os países europeus fabricavam veículos pequenos por causa das dificuldades do pós-guerra”, diz o vice-presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA) e presidente do Veteran Car Club de Minas, o médico Otávio Pinto de Carvalho. A FBVA conta com 108 clubes associados no país, sendo seis em Minas. O Veteran é um deles. Segundo Carvalho, é o menor clube de carros clássicos do Brasil, com 39 associados em 33 anos de existência. O baixo número é opção do próprio grupo, que se define como preservador do automóvel antigo. “Em compensação, temos o melhor acervo: carros raríssimos e muito bem restaurados.”
Um deles é o Mercedes-Benz 300 SL Gullwing (asa de gaivota), cuja porta abre para cima. Três exemplares fazem parte do acervo do clube. Produzido na Alemanha entre 1953 e 1957, o automóvel é raro, desejado. E valioso: cerca de 1 milhão de dólares. Outra raridade é o alemão Hanomag, de 1923, que tem design diferente e é o único existente fora da Europa. Pequeno e com apenas um farol no meio, era automóvel popular na Alemanha.
Outro modelo interessante é o também alemão Benz, considerado o primeiro carro fabricado no mundo. Claro que não é o exemplar de 1886, ano do lançamento, que está bem guardado no museu da Mercedes-Benz. Quando ele completou 100 anos, a fábrica produziu apenas 100 cópias fiéis, e uma delas veio parar nas mãos de um colecionador de Belo Horizonte. Carvalho explica que o automóvel mais parece carroça, com três rodas finas e uma espécie de manche. Estima-se que valha 150 mil dólares.
O presidente do Veteran Car Club de Minas também tem uma pequena coleção: um Brasinca Uirapuru, carro de competição projetado e fabricado em pequena quantidade, em 1965 e 1966, no Brasil; e um Alfa Romeo Giulia SS 1964, desenhado pelo famoso estúdio italiano Bertone. “Na época, o Brasinca causou muito espanto, pois foi o primeiro carro brasileiro a passar de 200 quilômetros por hora. Já o Alfa parece uma pequena nave espacial. Comprei no Peru, trouxe para cá e restaurei. Só existem exemplares nos Estados Unidos, na Europa e um na Argentina”, conta Carvalho. Segundo ele, quem quiser conhecer preciosidades como essas pode agendar: todo primeiro sábado de cada mês, por volta das 15 horas, a turma e seus carrões se reúnem no Alphaville Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, na Grande BH.
Também foi a paixão por carro antigo – nesse caso, o Galaxie, da Ford do Brasil – que levou um grupo de amigos a criar, em junho de 2010, uma confraria. No início, eram apenas três aficionados, com um exemplar cada. No ano passado, o grupo oficializou o clube, fundando a Associação Galaxeiros das Gerais, que hoje tem 120 associados, 95 deles em BH. “Somos uma grande família, com dedicação e companheirismo. O carro antigo resgata sonhos e paixões”, diz o médico Antônio do Monte Furtado Filho.
Segundo ele, o Galaxie é como uma herança de família. “Muita gente já teve um parente que foi dono de Galaxie. Meu pai, por exemplo, teve quatro carros antigos. Quando ele morreu, quis adquirir um como forma de homenageá-lo.” O exemplar cinza granito, de 1979, foi comprado já reformado. Depois de uns ajustes aqui e ali, o carro passou a ter 80% de originalidade, cuja autenticidade é reconhecida pela placa preta. O carrão, que sempre sai da garagem nos fins de semana, chama a atenção. “As pessoas ficam admirando o automóvel. Alguns até me perguntam se quero vendê-lo”, diz Furtado Filho. A esposa dele também se rendeu aos encantos do Galaxie e vai ganhar um modelo azul, de 1975, que está sendo reformado.
Na opinião do médico, o tamanho e o conforto são os principais atrativos desse clássico. Os bancos, por exemplo, são inteiriços, como um sofá. Com ar-condicionado, direção hidráulica e câmbio automático, o carrão não deixa nada a desejar aos de última geração, atraindo cada vez mais adeptos. Essa paixão pode ser medida pelo número crescente de pessoas que vão conhecer o Galaxie, nas confraternizações que a associação realiza, mensalmente, no shopping Fleming, bairro Ouro Preto, região da Pampulha. “Há modelo bem conservado. Muita gente admira e sonha em ter um.”
Segundo Furtado Filho, um exemplar em bom estado pode ser encontrado por preço médio de 40 mil a 50 mil reais. Ele lembra que o Galaxie chegou ao Brasil em 1967, importado dos Estados Unidos. Daquele ano até 1983, foi produzido no país pela Ford.
Quando começou a restaurar o primeiro carro antigo, um Karmann Ghia 1965, o professor de engenharia Gustavo Brasil esbarrou em um problema comum: a falta de peças. Foi então que colocou literalmente a mão no projeto e criou moldes de peças que não encontrava. A necessidade acabou virando negócio lucrativo, o Portal do Carro Antigo, que fornece produtos e serviços nesse segmento.
O trabalho é minucioso e exige muita pesquisa. Aqui, não existe tempo determinado. “Antes de tudo, é preciso encontrar um carro ou peça original para fazer a reprodução exatamente igual. O primeiro molde, por exemplo, é feito durante três a quatro meses”, diz Brasil, lembrando que o acessório tem que seguir o padrão de originalidade e qualidade da época. A mão de obra especializada também é outro problema. A equipe do portal, hoje com quatro pessoas, foi treinada pelo próprio Gustavo Brasil, que também é coordenador do curso de extensão em restauração de carros clássicos, do Centro Universitário Newton Paiva.
A restauração demora de 60 a 120 dias. Ela pode ser original, seguindo os padrões da época, ou misturando o estilo antigo com mecânica mais potente. O valor varia de 5 mil a 50 mil reais. “Depende do estado do automóvel, das peças necessárias, do tipo de restauração. Mas é um bom investimento porque o carro clássico não perde o valor. Pelo contrário, fica mais raro e caro”, diz Brasil. Na empresa dele, é vendida a média de oito automóveis por mês. Claro que o empresário foi fisgado pelos antigos. Hoje, ele tem coleção com nada menos que 15 carros, entre eles fusca 1970 (primeira série), Pick-up Studebaker 1951, Pick-up Ford 1960, Aero Willys 1962 e 1969, Dodge Kingsway SW 1951, Ford Phaeton 1929 e Cadillac 1947.
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