Automóvel. Balanço
2012. Bom para todos.
Um ano invulgar para o Brasil,
recorde com as 3,8M vendas, em número de indústrias, 60 lançamentos entre
produtos e atualizações, sinais indicando mudanças, anúncios de novas marcas
aqui se instalando, novos projetos e mais proteção ao consumidor do automóvel.
2012 foi um ano marcante.
O Brasil recebe os ventos resultantes
do tufão que arrasou os maiores mercados mundiais. Queda de vendas e
perspectivas fazem as montadoras mudar o endereço de seus investimentos
buscando países com capacidade de absorção e estrutura de produção. Brasil,
Índia, China, África do Sul.
Mundialmente a Toyota volta a
liderar, e a ex líder GM, pode cair na 3a. posição, superada pela
Volkswagen. Disputa acirrada, mundial, carro-a-carro, aferida apenas ao início
de janeiro. Mas, uma ou outra, é o nunca dantes imaginado: marcas
norte-americanas disputando o 2o. lugar, sem chances para retornar à
liderança. Líder, a Toyota aposta na coragem do herdeiro chamado a dirigi-la,
focando na realidade, apagando a ar de já ganhei adotado nos
últimos anos – e se deu mal, borrando sua imagem de qualidade e confiança. Contratou,
o consultor automobilístico mais caro do mundo, Mark Hogan, ex vice presidente
da GM. Quer distanciar-se da norte-americana durante muitos anos líder mundial
em vendas. A GM patina no atoleiro, não consegue enxergar bom futuro. Sua
estrutura impede ações rápidas, e ainda respira o ar de empáfia que intoxicou
sua estrutura diretiva e a levou ao buraco. Menor, rebaixada em patente, com
dificuldade em renovar produtos, lenta ao reagir, problemas na base e na Europa
com grandes perdas. A VW é concorrente sadia, ascendente, crescimento
sustentado, sólido, entesourada. Quer ser a maior do mundo em 2018.
Em 2012 a produção mundial de
veículos atingirá 80M de unidades.
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Fiat surpreendeu, cresceu, mantém
liderança de 11 anos
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Brasil
Aqui, surpreendente demonstração de
competência da Fiat, ao manter a liderança e crescer 1%, com 23,2% em
participação de mercado, embora as quatro maiores ainda detenham 70% do
mercado. A Volkswagen cresceu 0,7%, marcando 21,2%. GM criou renca de produtos,
uns montados sobre plataformas antigas, outros com desenvolvimento do velho
motor do Monza, carros locais, argentinos, coreanos. A variedade não impediu
nova queda de participação, agora 0,8%. Ford perdeu 0,3% do mercado por
problemas de produção e vendas, ao criar um vácuo antes da chegada das unidades
novas e falta das antigas, ausentes picape Ranger, o pequeno utilitário
esportivo EcoSport. Após, lançados, no mercado, tem recebido premiação recorde
da imprensa. O novo Fusion, inovando com motor turbo, linhas e proporções bem
acertados. Renault descobriu que o mercado brasileiro está no meio dos preços,
ficando com os produtos derivados do Logan – Sandero e Duster, os mais
vendidos. Mantém na Argentina os extremos Fluence e Clio. Focou o Duster no
Ford Eco, e o fez com maestria, acertou-o em porte e decoração, descolou-o da
imagem de carrinho de shopping cultivada pelo concorrente e
disputa, às vezes liderando vendas. Neste ano, sofrerá atrapalho nunca
projetado embora positivo: crescimento do mercado superou sua capacidade
produtiva, obrigando-a a repetir processo da Fiat há 20 anos: fazer uma fábrica
dentro da fábrica para aumentar a produção. Para entrosamento físico-industrial
suspendeu o fazer por dois meses, para pânico dos revendedores.
No mercado interno quem mais cresceu
foi a Nissan, vendendo mais de 100 mil unidades, marcando 2,9%, em
participação. Mas não terá um bom 2013, garroteada por cota de importações,
base de suas vendas. Aqui faz apenas os Livina e o picape Frontier. Produção
nacional apenas ao final de 2013.
Novidades locais, a chegada industrial
da Hyundai, na insólita situação de possuir duas redes de vendas e assistência.
Uma, sua, para o HB20, adequado ao país, com fila de espera. Outra, de seu
representante CAOA, para veículos importados, caminhãozinho HR e o utilitário
esportivo Tucson, encerrado na Coréia, vendendo aqui. A Hyundai dos importados
caiu para 10a. colocada em vendas.
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Hyundai HB20, novo padrão de
referência no mercado
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Outra de olhos puxados, a Toyota fez
fábrica para produzir um carrinho, o Etios. Mas, parece, contraiu o distúrbio
da GM e, com dificuldade de vergar-se para auscultar o mercado, trouxe
produto construído para a Índia, mistura de peças já existentes com
simplificação decorativa. Tiro n’água. O comprador brasileiro tem maiores
exigências e muito se diferencia do indiano. A Toyota local engoliu o mico, vai
corrigi-lo, mas é lição de humildade, começar tropeçando. A Toyota no Brasil
não consegue superar a Honda, situação inversa à do Japão.
O motor 1.6 turbo com injeção direta
dito HPT, desenvolvido pela BMW e PSA, virou bandeira de presença em produtos
Peugeot – 3008, 408, 308 –, e Citroën DS3 e DS5. Peugeot iniciou mudar linha e
terá o principal complemento em 2013 com o novo 208. Citroën também, trocando o
bem vendido C3 pelo novo modelo, revisando o motor, mas caiu em participação de
mercado.
Duas chinesas prometem presença
industrial em 2013, a JAC Motors, associada ao empresário Sérgio Habib, com
fábrica em Camaçari, Ba, e Chery, por si, em Jacareí, SP. BMW terá fábrica em
Santa Catarina. Produto desconhecido. Em termos industriais a VW investe para
ampliar capacidade industrial em Taubaté, SP; em São Carlos, SP, fazer mais
motores; ampliar capacidade para atender mercado doméstico e de
exportação. Ford idem.
Em preparativos ninguém sabe a
amplitude do projeto da Fiat em Goiana, Pe. Além de fábrica para modelo
desconhecido, e Dodge e Alfa, também fará motores, tornar-se-á autônoma, com
produtos diversos da sede em Betim, MG.
Todos os prêmios de performance
consignados por associações e revistas falharam: quem mais vendeu automóveis no
Brasil foi o governo com suas medidas de realidade em impostos. Os 5% de
crescimento devem ser creditados à da, Dilma.
Motos
Resultado curioso no mercado de motos
é a queda de vendas das máquinas de baixo preço, exatamente a faixa que deveria
ser implementada em consumo pela ascensão de renda nas classes C e D. Notou-se,
em outro extremo, a expansão das marcas de maior cilindrada, com montagem via
processos favorecidos na Zona Franca de Manaus de Harley-Davidson, BMW,
Ducatti, Triumph, além da expansão mercadológica da Honda, ainda líder, em
todas as faixas de cilindrada.
Governo
Ano de intervenções federais. Sempre
distante da indústria, viu nos automóveis cenário para ficar bem na foto,
correu retocar o cenário dos maus resultados econômicos do país, apostando no
único dado positivo de crescimento. Falando pela população, reduziu a Zero % o
Imposto sobre Produtos Industrializados dos carros 1.000, diminuiu para outras
cilindradas. Não impôs condições às montadoras, privatizou os lucros,
socializou entre nós, contribuintes, a queda de arrecadação. Não perguntou se a
nós, outros, interessam mais carros nas ruas ou mais hospitais, escolas,
tribunais, penitenciárias ...
A receita tem décadas e confirma
conta também antiga – quando os extremos, trabalhadores e industriais, se unem,
perde quem está no centro: nós.
Implantou o Inovar-Auto,
programa de grandes incentivos à indústria local e de dificuldades às marcas
sem operação industrial no país. Para dizer elevar os nacionais ao nível dos
concorrentes importados, deu risível dever de casa: tornar os daqui 12% mais
econômicos. Na prática, nenhum ganho, pois este número apareceu há 10 anos com
os motores flex, de maior consumo de gasálcool e mais etanol relativamente aos
motores específicos.
Conta alta vem sendo e será paga
pelos importados, que bobearam sem atividade de lobby, sem
representação institucional em Brasília, sem interlocução com o governo, a
associação dos importadores levou uma trombada de perder o rumo – metade das
vendas, e 168 revendas, e 10.000 empregos.
Outro ponto de presença do Governo,
aliás governos, é a troca da educação de trânsito pela sanção arrecadadora. Sem
estudos para estabelecer velocidade e fluxo nas vias e estradas, sapecam
radares em quantidade industrial e tome de emitir multas. Falta uma explicação
ao respeitável público submetido a tantos impostos, e fornece o dinheiro de
pagar a compra de tais aparelhos, sobre quem opera tais sistemas e como se faz
a remuneração para tais serviços. Afinal para lembrar, fiscalização é
policiamento, e policiamento é função exclusiva do Estado, proibida a
terceirização. Na prática, a resposta simples: quem fiscaliza o fiscal ?
Pouco a pouco a aproximação do Brasil
a mercados com respeito ao consumidor traz-nos ares de civilização. O programa
de etiquetagem, surgido como sonho de ecopirado,
vem-se sedimentando, aumentando a listagem de aderentes. A idéia é oferecer
conhecimento ao comprador esclarecido, interessado em definir sua compra sob o
ponto de vista do menor gasto de combustível e de menores emissões ao meio
ambiente. Melhores resultados em cidade e estrada, do Renault Clio. Piores, na
cidade Honda Fit 1.4 e na estrada Toyota 1.8.
Outro item de respeito ao consumidor
foi obtido por pressão da indústria: é a indicação na nota fiscal, dos
percentuais de impostos incidentes sobre a mercadoria. Espera-se, ante o susto
a ser tomado pelo contribuinte, o início da conscientização e das exigências
para o país melhor se administrar, para viver com menos arrecadação, mais
seriedade no gasto público, menos corrupção.
Mazelas e omissões continuam. Governo
federal, estaduais, municipais, saúdam e aplaudem a performance da indústria
automobilística, mas nada fazem para melhorar a qualidade de vida, do ar, da
circulação de toda a população. Num cálculo grosseiro, cada veículo ocupa, pelo
menos, 20 metros quadrados de superfície. Venda de 3,8M significa, o novo mar
de novas latas despejado nas ruas e estradas em 2012 tomará aproximadamente 80
milhões de metros quadrados. Quantos metros quadrados de vias,
estradas, estacionamentos, foram construídos ? Quantos metros quadrados serão
subtraídos às vias de circulação de pedestres para criar soluções circenses de
circulação para os novos veículos ? E a maluquice institucional do rodízio, que
recolhe impostos com a mão esquerda, e levanta a direita para proibir a
circulação do produto que recolheu impostos e cuja descrição é de ser auto
móvel ?
Cultura
Há ondas no setor. O Museu
Nacional do Automóvel , em Brasília, único a contar a história da
indústria automobilística nacional, se debate ante à tentativa que em país
civilizado seria piada de punido mau gosto: o Ministério dos Transportes quer o
espaço no qual o governo federal autorizou o Museu investir e ampliar, para
nele colocar “arquivo morto de órgão extinto”...
Há início de consciência pelos
fabricantes. A Fiat junta unidades dos produtos aqui produzidos, e acertou-se
com o governo de Minas e o Veteran Car Club MG para implantar um Museu. A
Volkswagen, com um presidente há anos no país, iniciou dar força a preservar a dúzia
de automóveis de sua construção reunidos por seus engenheiros e designers através
dos anos. Para criar museu, não custa. Renault mudou sua óptica, e aproveitou
os 50 anos do lançamento do Interlagos – o Alpine A108 – para fazer festa e
reverenciar pilotos e universo que sedimentaram o início do profissionalismo do
automobilismo brasileiro.
A Peugeot, marca do primeiro carro
importado no Brasil, passa olímpica e superiormente pelo fato histórico.
Perdas enlutaram o setor. Das muitas,
Clemente Farias, detentor de uma das pioneiras e melhores coleções de antigos,
e Fábio Steinbruch, um príncipe nesta atividade, passaram bobamente.
Das mudanças de pessoal, Marcos de
Oliveira, engenheiro, deixou a presidência da Ford e agora é vice na
Ioschpe-Maxxion. Pedro Manuchakian, oPedrão, também engenheiro,
vice presidente de engenharia para o continente, também aposentou-se após mono
emprego de 41 anos na GM. Merece uma estátua. Fez mágicas e muitos lucros
viabilizando o uso de motores que deveriam estar em museus, mas estão nos novos
carros da GM. E Carlos Roberto da Costa, o Carlão, jornalista, marcha lenta. 43
anos de indústria automobilística – Carlão organizou a apresentação do
Corcel I e deu cara confiável à Citroën – quer ser fornecedor.
Enfim
Entre resultados bons – muitos, e
mazelas – poucas, mas tão frequentes, a caminho de ser institucionalizadas,
2012 foi bom. Do volume de vendas, empregos e renda, à presença do Brasil no
rol dos maiores produtores e maiores mercados.
As falhas podem ser corrigidas,
bastando a gestão governamental através do serviço público seja, efetivamente,
dirigida ao público, ao país e ao futuro, afastada a filosofia de ser o Governo
do dia o dono do país, do estado ou do município, e adotando o corpo funcional
por mérito e conhecimento.
Falta
Há dado contra o qual a Coluna sempre
se insurgiu e insurgirá: é inexplicável vergonha o país reunir todas as
condições do fazer, da estrutura, do pessoal, dos insumos, mas não ter sequer,
uma, uma só, marca nacional ou produto realmente adequado ao país.
A indústria brasileira é ótima
palpiteira em projetos estrangeiros, adaptadora de planos importados às
exigências nacionais, mas não tem coragem, autonomia ou brasilidade para fazer
produto adequado ao nosso piso, ou à sua falta. O Brasil e sua atrasada, cara,
mal mantida malha de caminhos e estradas, é país para carros de tração traseira
ou nas quatro rodas. Mas como aproveita projetos para países planos ou de
estradas impecáveis, só os tem com força no eixo dianteiro, absolutamente
incoerente com nossas ladeiras em lama ou poeira, cascalho, pedras soltas.
Sub produto deste foco
descompromissado com o país, e a falta de preocupação do governo federal com a
indústria e seus produtos, nada temos para aplicação específica. O taxi, que
deveria ser de projeto e construção especial, é o carro de madame submetido a
duro trabalho. Idem para os carros de polícia, para as ambulâncias, usualmente
uma base de caminhãozinho, com motor diesel, transmissão mecânica, situação
negativa à sua missão e ao transportado.
Isto é fácil corrigir. Basta
conversa, consenso, ordem.
A Coluna cumprimenta
seus leitores e deseja 2013 de paz – que é exercício de consciência do que
somos, do que queremos, do que merecemos.
Um comentário:
Sucesso em 2013 Nasser !
Rogério Machado
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