Alta Roda nº 709 — Fernando Calmon — 27/11/12
CRITÉRIOS E
MEDIDAS
A terceira rodada de testes de colisão
contra barreira fixa, realizada pela ONG Latin NCAP (acrônimo em inglês para
Programa de Avaliação de Carros Novos, da América Latina), continua a trazer
interrogações. A entidade sediada no Uruguai tem bons discursos, pois trata de estimular
por efeito comparativo o nível de segurança passiva dos veículos.
Existem pelo menos seis desses
programas em diferentes regiões produtivas do mundo. Os métodos não conversam
entre si. Há diferenças marcantes entre modo de colisão contra barreira fixa
(frente toda ou parcial), velocidade de choque, impactos laterais
(perpendiculares e contra obstáculo cilíndrico), além de proteções específicas
para crianças a bordo e simulação de atropelamento de pedestre.
Classificação de zero a cinco estrelas
é por meio de pontuação que avalia ferimentos em bonecos antropométricos sensorizados.
Algumas distorções não são explicitadas pelo Latin NCAP, como a velocidade de impacto.
Regulamentos da ONU sugerem 56 km/h, mas aqui a ONG usa 64 km/h. Essa diferença,
que vem sendo eliminada, decorre de custos de produção e poder aquisitivo de
cada mercado.
A China tem seu próprio NCAP e já
concordou com a velocidade maior, o que encarecerá a estrutura de seus carros.
Afinal, o Geeky CK1 (sem airbags) não conseguiu nenhuma estrela, em 2010, e o
JAC J3 foi o único modelo, mesmo com airbags frontais, que alcançou apenas uma
estrela, em 2012. Oito automóveis compactos fabricados no Brasil (Celta, Corsa
Classic, Gol, Ka, Palio, Sandero, Uno e 207) também ficaram com uma estrela, quando
testados sem airbags. Se serve de consolo, veículos chineses são (bem) inferiores
nessa segurança aos produzidos no Brasil.
Há outras curiosidades com a pontuação.
March mexicano, com airbags frontais, ganhou duas estrelas (2011) e o europeu,
cinco. O modelo vendido na Europa tem mais equipamentos, mas estruturalmente
são iguais: três estrelas de diferença mostram algo errado na metodologia.
Colocaram aqui um mínimo de 14 pontos
para o veículo ser cinco estrelas, enquanto na Europa esse limite é “flexível”.
No site da EuroNCAP, Chevrolet Volt aparece com 11,6 pontos em impacto frontal
e recebe cinco estrelas (2011), enquanto o Cruze com 13,18 pontos (2011) se
classificou com quatro estrelas no Latin NCAP. Excesso de zelo para os
fabricados na América Latina?
Essas trapalhadas só acontecem pela
omissão dos legisladores da região em criar um padrão de segurança coerente e mais
severo ao longo do tempo. O nosso continente é o único para o qual a
organização Euro NCAP conseguiu exportar seus negócios e métodos, com pouca
discussão técnica sobre a realidade dos mercados.
Latin NCAP gosta de repetir que os
modelos mais vendidos aqui estão 20 anos atrasados em relação aos mercados
centrais. Mas se esqueceu de comentar que dos 26 automóveis testados contra a
barreira, em três anos, há mais modelos, nove, com quatros estrelas (City,
Corolla, Cruze, Etios, Fiesta, Fluence, Focus, Polo e Tiida), do que com uma estrela.
E vários dos atuais “uma-estrela” receberão outra, quando a legislação tornar
airbags obrigatórios, parte em 2013 e a totalidade em 2014.
RODA VIVA
PARA quem gosta de comparar preços do Brasil
com o exterior, esquece de ver a Europa. Bom exemplo é Fusion Titanium
mexicano, carro praticamente igual ao alemão Mondeo Titanium. Aqui, o
médio-grande da Ford custa R$ 113.000 e lá, 33.750 euros (R$ 91.000). Se
igualadas as cargas fiscais, os preços são iguais ou até um pouco mais caro na
Europa.
CARLOS GHOSN, presidente mundial da
Renault-Nissan, em visita ao Brasil, fez primeira previsão de um executivo do
setor sobre o mercado brasileiro em 2013. Ele acredita em elevação nas vendas
de automóveis e comerciais leves de 2%, metade em termos nominais do que deve
crescer a economia (4%). Ano será mais difícil sem o incentivo do IPI menor.
FLUENCE GT (R$ 79.370) é dos poucos
produtos fabricados no Mercosul que não vilipendiou a sigla Grã Turismo. Além
do motor turbo 2 litros/180 cv (37 cv a mais), o carro tem apêndices e apliques
discretos, além de câmbio manual. Suspensão recalibrada e o torque de 30,6
kgf.m formam boa combinação para quem quer algo mais de um honesto sedã
familiar.
REDUÇÃO de até 35% no consumo de
combustível é esperada nos motores de F-1, em 2014, segundo a Magneti Marelli.
O downsizing parte de um V-8 aspirado/2,4
L para um híbrido V-6 com eletroturbo/1,6 L. Pela primeira vez, se utilizará
injeção direta de gasolina a 500 bares de pressão e a empresa será única
responsável pelos novos injetores. Potência se manterá em 700 cv.
RASTREADOR/BLOQUEADOR de veículos com
comando por voz e controle remoto foi desenvolvido pela LocatorOne, de Campinas
(SP), especializada em soluções de segurança sem pagamento de mensalidades. O
ABR – Super também detecta tentativas de interferência eletrônicas (jamming) sobre o GPS. Preço: R$
1.220,00. Pormenores em www.locatorone.com.br.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Um comentário:
Digamos que o Fusion é dos poucos com preço "justo" no Brasil. Ainda sobram todos os outros modelos e incríveis distorções mesmo comparados a países com menor escala e/ou carga tributária próxima à nossa.
Ainda resta a questão macro (alheia aos fabricantes, é verdade) que um brasileiro ganha muito menos que um europeu, principalmente um alemão. Um trabalhador da mesma categoria profissional que a minha deve ganhar um salário de 3 a 4 vezes maior por lá e tem uma qualidade de vida que eu só conseguiria quando tomasse o lugar de minha "chefe".
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