sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

ALTA RODA COM FERNANDO CALMON





Alta Roda nº 712 — Fernando Calmon — 18/12/12



BOLO REDIVIDIDO






O que se pode esperar de 2013 para o mercado automobilístico? Crescimento haverá, sem dúvida, e as vendas alcançarão novo recorde – o sétimo consecutivo desde 2007. A incerteza está se a barreira mágica de quatro milhões de unidades (inclui caminhões e ônibus) será beliscada, atingida ou até superada. Para o resultado mais otimista as vendas teriam que subir 5% em relação ao projetado para 2012.
Até agora a maioria das apostas vai de 2% a 4%. A Anfavea espera algo entre 3,5% e 4,5% de elevação, o que significaria 3,98 milhões de unidades. Historicamente há relação entre crescimento econômico (medido pelo PIB) e o mercado de veículos. Mas as previsões frustradas do ministro da Fazenda ajudam pouco, embora dessa vez ele “garanta” um PIB superior em 4% ao deste ano. Se acontecer, os quatro milhões de veículos novos circularão em 2013.
Independentemente do que acontecer com a economia, há fatores positivos e negativos. Entre os que puxam para baixo as previsões aparece justamente o ano que finda. As vendas cresceram bem acima da expansão econômica brasileira graças à redução temporária do IPI, que no fundo significou antecipação de compras. Mesmo que no fraco primeiro trimestre de 2013 ainda exista um rescaldo do IPI baixo, seja por estoques remanescentes de 2012 ou alguma bondade de última hora do governo, o estímulo fiscal vai se diluir.
Não deverão ocorrer tantos lançamentos que atiçam a demanda: de cerca de 40 deste ano (importados incluídos), umas 20 novidades estão previstas para 2013. O maior problema, no entanto, reside nos preços. Ao contrário da voz corrente, eles baixaram em cinco anos quase 15%: basta consultar as tabelas médias desde 2008.
O valor real dos carros, por sua vez, caiu ainda mais, por que a inflação desse período de cinco anos (2012 incluído) foi de 34% e os compradores, em geral, acumularam renda superior à inflação. Os preços só se comportaram em função de maior concorrência, inclusive com importados, e imposto menor em alguns períodos.
A conjugação dos astros, porém, será infeliz no ano de final 13. Além da volta do IPI, mais carros deverão ter custos aumentados por equipamentos importantes como airbags e ABS. Para complicar o cenário, o discutível rastreador virá como equipamento obrigatório, mesmo que o motorista não deseje habilitá-lo. Trata-se de afronta ao bom senso e ao bolso do consumidor, em especial de quem vive longe das grandes cidades.
O impacto nos preços, porém, pode ser arrefecido por se tratar do primeiro ano completo de novos atores no mercado, como Hyundai e Toyota com fábricas a pleno, além de ampliações de instalações da Renault e da PSA Peugeot Citroën. GM terá seu primeiro ano cheio de renovação quase total de linha (só ficaram Celta e Classic) e, igualmente, a Ford (manterá Ka e Fiesta Rocam). Fiat e Volkswagen provavelmente sentirão esse tranco, pois só terão produtos novos em 2014.
Ocupar o máximo possível da capacidade instalada, enquanto fabricantes entrantes não concluem outra leva de novos produtos, pode ajudar a manter preços alinhados à inflação estimada em 5% em 2013. Os que forem além, repassando aumentos de custos sem estratégia equilibrada em mente, terão motivos para sérias preocupações.
O bolo do mercado ficará redividido e as quatro marcas veteranas continuarão a perder participação. A melhor defesa continua a ser o menor preço ou oferecer mais por preço igual.

RODA VIVA

CASO a nova lei pegue, também os automóveis terão a terrível cadeia de impostos exposta na nota fiscal. Chegou o momento de as tabelas sem tributos serem exibidas nas concessionárias, que sempre acenaram com essa providência, mas recuavam na hora agá. É assim nos EUA: imposto às claras. Aí as comparações de preços ficarão mais bem ajustadas.
ASSOCIAÇÃO de importadores sem fábricas no Brasil, Abeiva, espera um ano de 2013 com crescimento de 17% sobre 2012. As 150.000 unidades previstas refletem as cotas que o governo criou tanto para as marcas que só importam como as que anunciaram produção nacional. A Kia permanece estacionada, pois o importador, Grupo Gandini, ficou, por enquanto, sem opções viáveis que só a matriz na Coreia do Sul poderia resolver.
ONIX é compacto certo (R$ 35.000 a R$ 42.000), na hora certa para a Chevrolet. Com motor adequado ao seu porte, 1,4 l/106 cv (o de 1 litro é fraco), destaca-se pelo nível de ruído mais baixo que a média do segmento e atmosfera interior bem agradável. Espaço muito bom para pernas, cabeças e ombros. Dava para dispensar banco do motorista tão alto e falha ergonômica dos puxadores de portas.
FABRICANTES de turbocompressores estão otimistas com a evolução que as novas exigências de menor consumo de combustível trarão para os motores aqui fabricados. “Antes não cansávamos de bater à porta dos fabricantes. Agora eles também batem à nossa porta”, revela Arnaldo Iezzi Jr., diretor-geral da BorgWarner, que vai inaugurar nova fábrica em Itatiba (SP), em 2013.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

Um comentário:

Anônimo disse...

Os preços terem caído 15%, apesar da inflação, só demonstra quanta gordura essa indústria inteiramente estrangeira tem pra queimar. Não consigo engolir que carros fabricados aqui são MUITO mais baratos no México, que não tem impostos assim... americanos.

Ainda lamento ter nascido nessa terrinha, onde ganhamos mal e pagamos muito por quase tudo, entre tantas outras mazelas e tosquices.