quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A KOMBI VERMELHA POR FELIPE BITU

A KOMBI VERMELHA

FELIPE  BITU

Imaginemos a Kombi estatizada: o governo federal compraria a enorme e obsoleta fábrica da VW no Km 23,5 da Via Anchieta, claro, com um repasse bilionário do BNDES, desde que o fabricante alemão se comprometa a abrir CINCO (!!!) novas plantas menores e mais eficientes em localidades em desenvolvimento.

É isso mesmo: uma fábrica antiga e obsoleta custaria o mesmo que cinco fábricas novinhas, dessas que alavancam as carreiras dos engenheiros de produção. Mas pouco importa: sob nova direção, a primeira Kombi Vermelha sairia novamente das velhas alas da Via Anchieta. Seria o "Dia da Kombi", oficialmente um feriado nacional.

Todos os ex-empregados da VW teriam seus contratos rescindidos: parte do montante bilionário do BNDES seria destinado a pagar suas indenizações. Quem quiser trabalhar na linha de montagem da Kombi Vermelha agora terá de prestar concurso público: os cargos de encarregado, chefe, gerente, gerente executivo e diretor seriam comissionados, mas exclusivos a integrantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Estatizada, a Kombi Vermelha perde participação no mercado: ficou mais cara e piorou muito em qualidade. A ferrugem superficial que se manifestava em 1 ano agora é passante, transfixando as chapas em apenas 6 meses. Parafusos se soltam, peças caem e milhares delas ficam pelas ruas, com exceção das que servem ao Sindicato dos Metalúrgicos: nunca saem do pátio, pois foi todo mundo para Brasília.
A "presidentA" convoca uma reunião ministerial e logo conclui que o Sindicato sozinho não tem condições de administrar a nova estatal: decide então criar um ministério (mais um, o 40º) exclusivo para comandar a produção da Kombi Vermelha. O ex-presidente de nove dedos defende a medida, invocando a manutenção dos empregos, o investimento de milhões e até mesmo a segurança nacional.

Diretamente da Papuda, um ex-ministro sugere abatimento de 50% no Imposto de Renda para todas as pessoas físicas e jurídicas que adquirirem a Kombi Vermelha. Outro ex-ministro, diretamente de Ribeirão Preto, chega com um plano para multiplicar o patrimônio da estatal 20 vezes.

As vendas reagem, mas continuam discretas: outro ex-ministro aparece e sugere a criação de um cartão corporativo para os proprietários de Kombis Vermelhas. Esse cartão daria 50% de desconto na compra de combustível, óleo lubrificante e tapiocas em todos os postos BR.

Um membro do alto escalão sugere a compra de dossiês que comprometam a imagem da concorrência: as vendas reagem discretamente, o que leva o governo a pensar em outras medidas, como seguro de vida sem restrições de perfil e subsídios em toda a rede hoteleira para que as pessoas deixem de viajar de avião para viajar de... Kombi.

Para atrair novos compradores, o governo cria dois novos programas, o "Bolsa Kombi" e o "Minha Kombi, Minha Vida": isenção total de IPI e subsídio integral do ICMS, desde que o governo estadual seja aliado do governo federal. Financiamentos pelo Banco do Brasil com 5% de juros a.a., que moleza!

A reação é discreta: o governo então decide aumentar a alíquota de IPI da concorrência. Se for importado então, a alíquota sobre para 150%. Você compra uma Kombi Vermelha nova e ganha R$ 5.000,00 em créditos para gastar em frango e farofa nas cidades litorâneas. A estatal perde cerca de R$ 700.000.000,00 por mês.

A Kombi Vermelha começa a ser exportada para Cuba e Coréia do Norte. A Venezuela recusa a oferta alegando que já há desgraça demais no país: a Venirauto. O governo decide montar uma unidade de produção na Bolívia, mas sofre um revés: o presidente indígena estatiza toda a linha de produção em troca de apenas US$ 112.000.000,00.

O governo decide então isentar todas as Kombis Vermelhas das vistorias da Controlar em todo o território nacional, mas cobranco uma "compensação ambiental" de todos aqueles que preferirem um veículo da concorrência. Mesmo custando R$ 90.000,00, as vendas da Kombi Estatal finalmente decolam.

Para finalizar, são criados dois novos impostos: o ISAB (Imposto Sobre Air-Bag) e o IINFABS (Imposto Incidente No Freio ABS): inviabilizada, a concorrência definha. No "Jornal Nacional", William Bonner anuncia o sucesso retumbante do "Bolsa Kombi" e do "Minha Kombi, Minha Vida".

O sucesso da empreitada leva o governo a investir na transferência de tecnologia alemã: para evitar a espionagem dos EUA tudo virá de Zwickau e Eisenach, enviado por partidários de Erich Honecker simpatizantes da Gurgel. Tecnologia "nacional" a serviço do Brasil.

Começam as manobras contábeis: com o prejuízo diluído no futuro, tudo vira lucro. Pouco importa se a dívida bruta do governo brasileiro equivale a quase 70% do PIB: o que importa é que as vendas da Kombi Vermelha estão de vento em popa e os empregos foram garantidos. Alguém está pagando por isso.

A bordo da Kombi Vermelha, a inflação não precisa mais galopar: ela agora anda sobre 4 rodas. Mesmo sem GPS, a velha guerreira topa qualquer caminho, menos o de um futuro promissor: a eterna reverência ao passado (e ideologias fracassadas) faz com que ele seja um destino inalcançável."

3 comentários:

Ricardo Montero disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Montero disse...

Quando inventam de misturar carros com política, invariavelmente só falam merda. Impressionante! Só pra lembrar, em 2002 foram vendidos menos de 1,4 milhões de veículos. Dez anos "desastrosos" do PT e as vendas em 2012 atingiram 3,8 milhões de unidades. Sem contar que temos a maior quantidade de fabricantes intaladas ou em instalação do planeta, e enorme oferta de modelos.

Anônimo disse...

Agora vamos ver os próximos 10 anos, depois de arrasarem com o país. As vendas já estão despencando, só os barbudinhos não enxergam.